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Peça brasileira “Uma Mulher ao Sol” traz abordagem feminista da luta antimanicomial para Avignon

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O espetáculo “Uma Mulher ao Sol” (que em francês, para o Festival de Avignon, se tornou “Une femme au soleil”) enfoca a vida e a obra de Maura Lopes Cançado, escritora brasileira que passou longos períodos em hospitais psiquiátricos. Concebido pelo Projeto Trajetórias, formado pelo diretor Ivan Sugahara e pela atriz Danielle Oliveira, o espetáculo teatral se apresenta agora no Festival de Avignon, no sul da França, considerado o maior encontro de artes cênicas do mundo.

Cena da peça "Uma Mulher ao Sol", em cartaz no Festival de Avignon de 2022.
Cena da peça "Uma Mulher ao Sol", em cartaz no Festival de Avignon de 2022. © Dalton Valério
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Clique na imagem acima para assistir o vídeo da entrevista completa com Ivan Sugahara

Márcia Bechara, enviada especial a Avignon

A peça "Uma Mulher ao Sol" visa traçar um paralelo entre o confinamento experimentado pela escritora nos hospitais psiquiátricos e o confinamento vivido por todos dentro de casa durante a pandemia de Covid-19. A direção e organização dramatúrgica é de Ivan Sugahara e o elenco é formado pelas atrizes Danielle Oliveira e Maria Augusta Montera. Segundo o diretor, “Maura Lopes Cançado passou por várias internações psiquiátricas ao longo da vida, e numa delas escreveu um livro sobre sua experiência dentro do hospício, ‘O Hospício é Deus’, lançado em 1965”.

“É uma escrita muito forte e delicada, com a consciência que ela tem sobre a própria condição da loucura”, diz o diretor Ivan Sugahara. “É muito importante que esse livro seja resgatado nos dias de hoje, porque ficou muito tempo deixado de lado. Mas ele foi reeditado em 2015 e é muito importante nesse momento que passamos no Brasil, onde a saúde mental vem sofrendo retrocessos bem graves com Bolsonaro. Estamos voltando atrás em uma série de avanços que havíamos conquistado com a luta antimanicomial e a reforma psiquiátrica [no Brasil]”, denuncia Sugahara.

Nise da Silveira 

“Há esse exemplo bem simbólico [do episódio Nise da Silveira], quando ele [Bolsonaro] se recusou a condecorar uma pessoa que teve um papel fundamental na evolução das técnicas de tratamento com pacientes em sofrimento psíquico”, destaca. “Infelizmente, o que a gente vê agora é a volta de uma mentalidade que trabalha com punição e violência”, argumenta o diretor. “Hoje sabemos que esse tipo de tratamento não apenas não cura as pessoas, como enlouquece as que nem precisavam estar ali”, lembra o diretor.

A escolha de trabalhar com a voz em off durante a peça tenta transmitir ao público o "redemoinho de emoções" que ocorre na intimidade de uma vida privada, com um foco principal no mundo interior, nas sensações e pensamentos ao longo dos dias de confinamento. “Ainda estamos vivendo um momento pós-pandemia, onde nunca se falou tanto no tema da saúde mental. Em geral, esse é um tema para qual a sociedade não quer olhar. Todo mundo tem históricos próximos de pessoas que viveram isso, e o sofrimento psíquico é algo que aumenta, infelizmente, cada vez mais”, diz Sugahara.

Sobre Avignon, o diretor carioca diz “que esse festival é uma loucura (risos)”. “É um festival conhecido no mundo todo, um dos mais importantes da Europa, com mais de 1.500 espetáculos, ficamos felizes de estar trazendo dois espetáculos brasileiros, viemos junto com a peça ‘Tom na Fazenda’. Tivemos bom público nas sessões, todo mundo se reconhece nessa temática”, diz o diretor brasileiro.

“Une femme au soleil” fica em cartaz no Festival de Avignon até o dia 28 de julho.

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