Acessar o conteúdo principal
RFI Convida

Filme “Todos os Mortos” ajuda a desfazer imagem de “democracia racial” do Brasil no estrangeiro

Publicado em:

O longa brasileiro “Todos os Mortos” está sendo lançado na França em DVD e nas plataformas digitais. O cineasta Caetano Gotardo, que codirigiu o filme com Marco Dutra, veio a Paris para participar do pré-lançamento do DVD na França.

Cineasta brasileiro Caetano Gotardo, codiretor do filme "Todos os Mortos".
Cineasta brasileiro Caetano Gotardo, codiretor do filme "Todos os Mortos". © AdrianaBrandão/ RFI
Publicidade

“Todos os mortos” é um filme de época que se passa na virada do século 19 para o século 20, pouco mais de uma década depois da Abolição da Escravatura e da Proclamação da República no Brasil. O filme conta a história do declínio de uma família da elite cafeeira de São Paulo e, em paralelo, as dificuldades de inserção de ex-escravizados. O longa fala de fantasmas do passado que não param de assombrar a sociedade brasileira. Todas as personagens principais são mulheres.

“Todos os mortos” estreou no Festival de Cinema de Berlim, em fevereiro de 2020, logo depois veio a pandemia de Covid, que dificultou a exibição nos cinemas. “Foi curioso estrear em Berlim com 2.000 espectadores e duas semanas depois fechou tudo. Foi uma experiência muito maluca isso acontecer longo antes da pandemia. Depois, foi difícil repetir essa experiência de exibição presencial do filme”, lembra Caetano Gotardo.

Antes da pandemia, o lançamento em DVD e nas plataformas digitais já era uma etapa importante na carreira de um filme. Agora, no contexto atual passou a ser uma estratégia fundamental. “Todas essas maneiras de assistir filme em casa ganharam uma necessária força nesse período todo. Aqui na França, como no mundo inteiro, muitos filmes ficaram sem poder estrear e, agora, as distribuidoras estão encontrando maneiras de o filme chegar ao público”, contextualiza o cineasta.

Caetano Gotardo participou no final de maio de uma sessão de exibição de “Todos os Mortos” na Cinemateca de Paris, que antecedeu o lançamento do DVD na França, marcado para 7 de junho.

Fantasmas do passado

O cineasta explica que o interesse dele e do codiretor Marco Dutra era pensar “como esse momento pós fim da escravidão, de certa maneira, estabeleceu as bases sobre as quais a sociedade brasileira está organizada até hoje; como aquele período histórico conversa diretamente com o período histórico que a gente vive agora”.

Gotardo acredita que o filme alimenta uma discussão em curso no Brasil “sobre a falsa democracia racial que por muito tempo se acreditou que existia no país. Isso está caindo por terra, a gente tem um racismo estrutural muito presente na sociedade brasileira”. Mas, no estrangeiro, essa imagem ainda é forte e “Todos os Mortos” poderia contribuir para explicar o Brasil de hoje à plateias internacionais. “Eu percebo que plateias internacionais, como a francesa, tomam contato a partir do filme com essas questões que estão muito vivas no Brasil, mas que internacionalmente ainda não estão tão evidentes assim no olhar estrangeiro sobre o Brasil.

A música, que possibilitou a transmissão oral da tradição africana, tem uma presença central em “Todos os Mortos”. A trilha sonora original é de Salloma Salomão, músico e historiador especializado em culturas de diásporas africanas. “A música tem quase uma dramaturgia própria. (...) O filme abre e termina com o mesmo cântico de candomblé”.

Na cena final, o filme dá um salto no tempo e passa da São Paulo do início do século 20 para a São Paulo dos dias de hoje. A ideia, segundo Caetano Gotardo, era jogar no filme sensorialmente com esses dois momentos para mostrar “essas duas épocas misturadas, espelhadas”.

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Veja outros episódios
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.