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Nova edição de "Pedagogia do Oprimido" resgata obra de Paulo Freire na França

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O livro de Paulo Freire Pedagogia do Oprimido ganhou uma segunda edição na França. Com prefácio da professora da Universidade de Paris 8 e especialista da obra do autor, Iréne Pereira, a nova edição de uma das obras mais conhecidas de Freire, publicada 40 anos após a primeira, traz adaptações ao contexto atual e elucida pontos desconhecidos da obra do autor na França. 

Livros de Paulo Freire, que morreu em 1997, e foi um dos fundadores da pedagogia crítica, um movimento que promove a "emancipação" dos alunos na sala de aula e enfatiza a natureza política da educação.
Livros de Paulo Freire, que morreu em 1997, e foi um dos fundadores da pedagogia crítica, um movimento que promove a "emancipação" dos alunos na sala de aula e enfatiza a natureza política da educação. AP - Silvia Izquierdo
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Paulo Freire é um dos autores brasileiros mais influentes no mundo intelectual principalmente no mundo ibérico, na América do Norte e também na África. Mas na França, a visão sobre a obra do autor é limitada principalmente aos anos 1970. Ele é citado sobretudo por seu papel na alfabetização de adultos e na educação popular. 

"Nos anos 70 ele vivia em Genebra e tinha relações com pessoas na França. Mas quando ele voltou para o Brasil nos anos 1980, sua obra foi um pouco esquecida e toda a parte da obra do Paulo Freire dos anos 80 nunca foi traduzida para o francês", explica Iréne Pereira. 

Além de Pedagogia do Oprimido, a única obra do educador publicada em francês é Pedagogia da Autonomia (Érès). Segundo ela, as ideias de Paulo Freire também teriam "saído de moda" porque foram associadas ao marxismo, que foi deixado de lado pelos intelectuais franceses nos anos 80.

De acordo com a especialista, na França, algumas pessoas que conhecem a obra de Paulo Freire pensam que ele foi influenciado pelo pedagogo francês e fundador da corrente Escola Nova, Célestin Freinet, mas não é a realidade. "São duas visões diferentes da educação. Paulo Freire dizia que ele não queria mudar a sala de aula, mas sobretudo mudar a sociedade e essa é uma das diferenças entre a Escola Nova e a obra de Paulo Freire."

Para Pereira, a nova edição elucidará alguns pontos ainda desconhecidos da obra do autor na França. "Paulo Freire escreveu vários textos onde ele falou sobre Pedagogia do Oprimido, mas estes textos não foram traduzidos para o francês, por exemplo Pedagogia da Esperança, que é uma releitura de Pedagogia do Oprimido", diz. "Então para o público francês era importante dizer também o que dizia Pedagogia da Esperança para que as pessoas tenham uma visão mais atual da leitura de Pedagogia do Oprimido". 

Iréne Pereira, professora na Universidade Paris 8 e especialista em Paulo Freire e à direita, Maria Luiza Souto Maior do Coletivo de leitoras do Paulo Freire.
Iréne Pereira, professora na Universidade Paris 8 e especialista em Paulo Freire e à direita, Maria Luiza Souto Maior do Coletivo de leitoras do Paulo Freire. © RFI

Repensar a escola

Para Maria Luísa Souto Maior, do Coletivo de Leitoras de Paulo Freire, em um momento em que a escola tem que se reerguer após meses fechada por conta da pandemia, Pedagogia do Oprimido pode ajudar professores e educadores a repensar formas de educação.

"Acho que esse livro tem ferramentas que podem ajudar professores, que podem ajudar pedagogos, como fazer uma nova escola, como ajudar as crianças hoje a saírem dessa fobia social que a gente tem vivido, esse pânico social, medo das relações com outro", lista.

Mas ela lembra que a obra do educador deve ser lida de acordo com o contexto e o aluno. "Freire não trabalha exatamente uma pedagogia única, ele não dá uma receita pronta de bolo para um professor ir para a sala de aula e dizer ‘hoje a gente vai fazer assim e assado’. Não, ele era um teórico libertário, ele traz formas de pensar e cabe aos professores chegar na sala de aula e abrir ao diálogo e a partir disso trabalhar com aquela classe com aqueles alunos, naquele lugar onde estão inseridos."

Freire foi uma fonte de inspiração para muitos pedagogos sobre questões levantadas atualmente na educação como gênero e ecologia. Entre eles, a autora e teórica feminista americana bell hooks e o educador brasileiro Moacir Gadotti.

No prefácio da segunda edição francesa de Pedagogia do Oprimido, Pereira conta o encontro do educador, nos Estados Unidos, com bell hooks, que chama a atenção de Freire para a questão do vocabulário de gênero. "Ele fala sobre isso nos livros seguintes. Essa nova edição inclusive tem uma nova tradução que tomou esses cuidados. Eles seguem agora os preceitos que Freire (sobre gênero) para mudar um pouco a primeira edição", diz. 

Pedagogia do diálogo

Como lembra a especialista, "Freire defende uma educação politizada mas também uma pedagogia do diálogo, do intercâmbio de ideias no sentido de desenvolver uma consciência social crítica orientada pela justiça social". 

Souto Maior explica que Paulo Freire, que é tido por alguns como comunista no Brasil "por ter ideias de justiça social, de liberdade, de consciência crítica, era na verdade católico, uma pessoa muito doce e aparentemente muito fácil de lidar".

"Ele é atacado no Brasil pela extrema direita porque representa tudo o que ela não suporta, que ela não respeita, que ela não quer numa sociedade", diz. "A gente precisa então reler Freire e entender o que ele está falando. Claro, ele fala de lutas de classes, mas ele não prega uma sociedade revolucionária e violenta. Ao contrario, ele prega muito mais uma fraternidade e que não haja mais opressores e oprimidos", afirma.  

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