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Médico defende que comunidade internacional pressione o Brasil por medidas efetivas contra a Covid-19

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O médico psiquiatra e professor aposentado da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia, Antonio Nery Filho, participou nesta quinta-feira (11) de uma iniciativa chamada Appel de Paris, que reúne ONGs e especialistas em saúde do mundo inteiro e defende a quebra de patentes das vacinas contra a Covid-19. Eles fazem um apelo para que as vacinas se tornem um bem comum. Nery conta à RFI por que acredita que a comunidade internacional deve pressionar o Brasil a cuidar de sua população, como fez para que cuidasse da Amazônia. 

Dr. Antonio Nery Filho, médico psiquiatra e professor da UFBA.
Dr. Antonio Nery Filho, médico psiquiatra e professor da UFBA. © Arquivo pessoal
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Sobre a quebra de patentes, que opõe países ricos e pobres na Organização Mundial do Comércio (OMC), Nery comenta: "Eu tenho fé neste trabalho porque a humanidade está verificando que a morte está trabalhando mais que de hábito. A morte cumpre sempre o seu papel, mas desta vez ela se acelerou por causa deste seu emissário, o novo coronavírus, que produz esta doença pulmonar gravíssima, que é a Covid-19."

"Então eu penso que os humanos vão começar a ver que é preciso utilizar todos os recursos possíveis para que nós possamos proteger a vida humana em todos os países, em todos os cantos do mundo. Eu espero que a ética consiga suplantar a economia, que o bem comum se sobreponha às lógicas capitalistas do mercado para que nós possamos continuar a nossa trajetória sobre a Terra", continua o médico.

Brasil, ameaça sanitária global

Nery vê a má gestão da pandemia no Brasil como uma ameaça para os seus vizinhos e para o resto do mundo. "O Brasil tem 210 milhões de habitantes e nós só vacinamos até agora 4%, isso é muito pouco".

Ele acrescenta que o Brasil não tem investido na testagem e no cuidado das pessoas contaminadas para que elas não cheguem à forma grave da doença. "Não há nenhuma possibilidade de ter respiradores para todas as pessoas que adoeçam. Por isso que eu acho que os outros países devem pressionar o Brasil, porque nós vivemos hoje uma situação política muito séria".

"O Brasil tem hoje um governo terraplanista, que não acredita que a Terra seja redonda; não acredita no vírus, acha que é uma gripezinha; não acredita nas máscaras, em lavar as mãos, no afastamento social. Por isso o Brasil está numa situação extremamente grave, e a população não acordou ainda para o trágico destino que o país está vivendo", lamenta Nery.

"Então o Brasil, se não se cuidar, será – e já é – uma grave ameaça para a saúde mundial", conclui o médico.

"Brasil, acorda"

Antonio Nery defende que os países democráticos devem dizer: “Brasil, acorda”. "O Brasil deve ser chamado, como foi feito em relação à Amazônia, quando todos os países sérios do mundo começaram a dizer: 'O Brasil não pode, porque é dono de grande parte da Amazônia, se descuidar deste pulmão internacional'”.

"Portanto é neste sentido que eu creio que os países devem dizer, no mesmo modo: 'O Brasil precisa vacinar, precisa ter máscaras; o Brasil precisa pensar na proteção mundial'. Ou nós nos protegemos todos ou morreremos todos", enfatiza. 

"Não adianta os Estados Unidos vacinarem seus mais de 315 milhões de habitantes e o Brasil levar os próximos cinco anos para atingir 20% da população vacinada", analisa, clamando por uma pressão sobre o Brasil, "para chamar a atenção da comunidade brasileira e da comunidade mundial para a grave situação do Brasil, que se recusa a cuidar".

"O Ministério da Saúde brasileiro não assume a liderança nacional da vacinação, da produção e compra de vacinas. O Brasil se recusou a comprar vacinas e agora estamos negociando atabadoalhamente com alguns países para comprar o resto de vacinas que o mundo produz", aponta.

Além disso, observa ele, os laboratórios não serão capazes de produzir vacinas para todo o mundo. "E nós estamos no fim da fila para estas vacinas. É neste sentido que eu acho que a Comunidade Europeia, a sociedade humana, deve chamar a atenção de todos os países que não estão na boa direção do cuidado, da proteção da vida, que é o que nos interessa neste momento", finaliza. 

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