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Reportagem

Após assinar acordo, Brasil pode se tornar membro associado do CERN ainda neste ano

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O Brasil deverá se tornar, em breve, membro associado do CERN (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear), onde está localizado o superacelerador LHC. O acordo permitirá um maior intercâmbio entre os pesquisadores brasileiros, que participam de projetos no maior laboratório de física de partículas do mundo há três décadas.

O cientista brasileiro Denis Oliveira Damazio, que trabalha há mais de 20 anos no CERN
O cientista brasileiro Denis Oliveira Damazio, que trabalha há mais de 20 anos no CERN © Taíssa Stivanin/RFI
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Taíssa Stivanin, enviada especial a Meyrin (Genebra)

A RFI esteve na sede do CERN, em Meyrin, na fronteira da França com a Suíça, e conversou com o pesquisador brasileiro Denis Oliveira Damazio, que atua no ATLAS, um dos quatro que medem as colisões produzidas pelo superacelerador de partículas. O engenheiro trabalha há mais de 20 anos no centro e colabora com muitos dos profissionais que vêm do Brasil para participar de projetos de pesquisa.

Segundo ele, a atuação brasileira na organização existe desde os anos 1990, mas ocorria, no passado, por intermédio de institutos portugueses. “Houve um certo número de projetos associados à formação do ATLAS e houve a oportunidade para que cientistas brasileiros se responsabilizassem por uma parte eletrônica do detector” conta. Atualmente, cerca de 180 pesquisadores brasileiros atuam nos quatro experimentos do Grande Colisor de Hádrons.

O documento que fará com que o Brasil se torne membro associado da organização foi assinado em março pela diretora-geral do centro, Fabiola Gianotti, e o ex-ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marcos Pontes. A expectativa é que o acordo possa ser ratificado ainda neste ano pelo Congresso Nacional, antes da eleição presidencial, em outubro.

O ex-ministro brasileiro da Ciência e Tecnologia e Inovação, Marcos Pontes, e a diretora-geral do CERN, Fabiola Gianotti, assinaram um acordo para que o Brasil se torne membro associado do centro
O ex-ministro brasileiro da Ciência e Tecnologia e Inovação, Marcos Pontes, e a diretora-geral do CERN, Fabiola Gianotti, assinaram um acordo para que o Brasil se torne membro associado do centro © Divulgação/CERN

O engenheiro brasileiro cita vários exemplos da participação brasileira no CERN. Um deles é a criação, por pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro, de um sistema analógico feito para uma peça essencial para o funcionamento de um dos detectores do acelerador .“Este é apenas um exemplo, existem vários outros: um deles é a concepção da inteligência artificial usada no sistema de seleção de eventos de detectores. O CERN reconhece a importância dessa colaboração. Além disso, duas missões já saíram daqui para visitar a indústria nacional e deram aval para que essa ela acontecesse”, completa. 

A indústria nacional de hardwares e softwares também deve ser beneficiada com a parceria, frisa. O acordo também fará com que a Rede Nacional de Física de Altas Energias (RENAFAE), possa selecionar projetos nacionais. “Conheço mais de 20 ou 30 pesquisadores brasileiros que vieram passar um período aqui no CERN, se formaram e produziram a tese aqui. Então, é muito bom poder trazê-los ao centro, contribuir com a pesquisa deles e com a formação de mão de obra", ressalta Denis.

No centro de controle de operações do CERN, em Genebra, cientistas observam gráfico mostrando a colisão de prótons no interior do LHC.
No centro de controle de operações do CERN, em Genebra, cientistas observam gráfico mostrando a colisão de prótons no interior do LHC. Reuters/Denis Balibouse

Epidemia desacelerou projetos

A assinatura do acordo é uma boa notícia para os cientistas brasileiros após as dificuldades geradas pelos dois primeiros anos da epidemia de Covid-19, em 2020, e os períodos de lockdown. “Muitos dos cientistas que viriam participar das instalações ou trabalhos de análise, não puderam mais viajar. Mesmo antes da epidemia já fazíamos muitas reuniões por videoconferência, mas isso aumentou e não podíamos mais trazer as pessoas para cá", conta o pesquisador brasileiro.

Ele também lembra que, além do CERN ser o maior laboratório de física de partículas do mundo, muitas pesquisas no centro beneficiaram outras áreas. A World Wide Web (www), por exemplo, foi concebida na organização pelo pesquisador britânico Tim Berners-Lee, em 1989. O objetivo era facilitar a troca de informações e documentos entre cientistas do mundo todo. 

A tela tátil também é resultado de pesquisas realizadas no CERN. Na década de 1970, conta Denis, os pesquisadores perceberam que digitar comandos para controlar o LHC atrasava o trabalho das equipes e criaram a touchscreen. A tecnologia só foi se desenvolver anos depois, após chegada dos smartphones há cerca de 15 anos, que revolucionaram a vida e os hábitos da população mundial.

A área médica também se beneficiou de projetos realizados pelos pesquisadores do centro. “Ressonância magnética, tomogragia... tudo isso são filhotes da física de partículas. São detectores de partículas que usamos para detectar o câncer”, lembra o engenheiro brasileiro. Esses exemplos dão a dimensão vanguardista dos projetos existentes dentro do CERN e a importância para o Brasil de se tornar membro associado. "Isso aqui é um paraíso para a pesquisa", resume.

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