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Radar econômico

Incertezas sobre a China prorrogam fase ‘devagar’ da economia mundial

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Desde o começo do ano, os indicadores da economia mundial não param de decepcionar e, agora, o que pode ser uma ‘bomba-relógio’ – como definiu o presidente americano, Joe Biden, sobre a economia chinesa – aumenta o grau de preocupação sobre os meses que estão por vir. O coquetel de juros altos e crescimento baixo no mundo, somado à desaceleração da China, se torna ainda mais perigoso para os países mais vulneráveis, como os emergentes.

Placa em vidro de carro menciona "proteção dos direitos dos proprietários de casas do Country Garden", do lado de fora do projeto Country Garden One World City, cuja construção foi paralisada nos arredores de Pequim. (17 de agosto de 2023)
Placa em vidro de carro menciona "proteção dos direitos dos proprietários de casas do Country Garden", do lado de fora do projeto Country Garden One World City, cuja construção foi paralisada nos arredores de Pequim. (17 de agosto de 2023) AP - Ng Han Guan
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A sequência de alta de juros nos Estados Unidos não dá sinais de arrefecer para conter a inflação, com efeito dominó no resto do planeta. Da mesma forma, os riscos ligados às tensões geopolíticas, com a guerra na Ucrânia, também não recuam.

“Nas economias avançadas, vemos que claramente as taxas continuam a subir e vão ficar altas durante muito tempo, durante toda a primeira parte do ano 2024, e agora produzem impacto na atividade. Em geral, temos 12 meses de atraso entre o momento em que os bancos centrais sobem os índices e o momento em que realmente essas taxas afetam a atividade – e elas foram elevadas há pouco mais de um ano”, explica Bruno de Moura Fernandes, head de macroeconomia da seguradora francesa Coface, presente em mais de 100 países. 

“Então vamos sentir mais, nos próximos trimestres, o impacto para as empresas, para as famílias. Estamos a ver uma desaceleração do consumo das famílias, um investimento menor e claramente um aumento das insolvências em todas as regiões”, ressalta o analista.  

Falências na Alemanha

Na Europa, a série de falências na Alemanha se iniciou no ano passado e se acentua: o número de fechamentos de empresas em julho foi quase 24% superior ao mesmo período de 2022, segundo dados oficiais. Berlim registrou crescimento zero no segundo trimestre do ano.

O caso alemão, a maior economia do continente, simboliza o ritmo devagar em quase toda a zona do euro, como indicam os números da produção industrial, de somente 0,5% em junho. O setor de serviços, também em queda, é outro sintoma de uma recessão que parece se aprofundar.

Na Ásia, a crise imobiliária chinesa, o crescimento baixo – de talvez 5%, como prevê Pequim este ano – e o alto desemprego dos jovens na segunda maior economia mundial acendem o alerta para uma piora da conjuntura. O temor de que o ‘momento Lehman Brother’ chinês possa estar se aproximando gera apreensão nos mercados financeiros, depois que um grande fundo de investimentos do país, Zhongrong Trust, não honrou seus pagamentos em meados de agosto.

“Já vemos que claramente as exportações chinesas estão caindo pela pouca procura por parte dos Estados Unidos e da Europa, e que o consumo das famílias chinesas também é uma grande decepção, porque, afinal, não tem confiança. Os níveis de confiança das empresas e sobretudo das famílias estão muito baixos: a dívida das famílias subiu demais durante a pandemia e por isso, elas não estão a consumir o que deveriam”, contextualiza Fernandes. “Por enquanto, não vemos como a recuperação pode acelerar nos próximos meses. E isso, obviamente, significa menor procura por muitos produtos.”

Risco para o Brasil

Esse contexto internacional abala o mercado mundial de commodities e repercute imediatamente no Brasil. As flutuações nos preços do petróleo e do minério refletiram essas incertezas.

“No Brasil, as taxas de juros continuam muito altas e isso impacta, obviamente, a demanda interna, o consumo das famílias, o investimento. E se o Brasil não tem esse motor que são as exportações, ou se as exportações não são dinâmicas pela fraca demanda chinesa, isso obviamente vai impactar a economia brasileira”, ressalta o especialista franco-português.

Cerca de 30% das exportações brasileiras, essencialmente de matérias-primas, vão para a gigante asiática. Na última cúpula do Brics, na África do Sul, o ministro da Fazenda do Brasil, Fernando Haddad, comentou o assunto.

“Nós estamos acompanhando o que acontece nos três blocos, China, Europa e Estados Unidos, que são grandes parceiros comerciais do Brasil. Mas o diagnóstico ainda não está concluído, porque as pessoas têm visões diferentes do que está acontecendo lá, e mais particularmente sobre o alcance do problema que a China está enfrentando”, avaliou. “Está inspirando cuidados, mas o tamanho do problema ainda não está suficientemente claro, pelo menos pelas informações que nós estamos recebendo.”

A Coface prevê que o crescimento brasileiro deve ficar em 2,2% em 2023 e apenas 1,2% em 2024.

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