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Planeta Verde

Mudanças climáticas aceleram seca dos continentes, diz estudo

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Na semana em que lideranças mundiais estiveram reunidas em Belém do Pará para a Cúpula da Amazônia e que o serviço europeu Copernicus confirmou que julho de 2023 foi o mês mais quente já registrado na Terra, um novo estudo sobre regimes de chuva e umidade no planeta aponta mais uma consequência desastrosa do aquecimento global: os continentes estão secando.

Moradores atravessam o rio Yamuna seco devido a um fenômeno de calor extremo em Nova Délhi, na Índia, em 2 de maio de 2022. Imagem ilustrativa.
Moradores atravessam o rio Yamuna seco devido a um fenômeno de calor extremo em Nova Délhi, na Índia, em 2 de maio de 2022. Imagem ilustrativa. © Manish Swarup / AP
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Menos umidade no ar, menos água nos lençóis freáticos. É o que aponta um trabalho científico publicado na revista Science Advances. A RFI conversou com Hervé Douville, climatologista da Météo France, membro do Painel Internacional de Pesquisadores sobre Mudanças Climáticas da ONU, o IPCC, e um dos coautores desse estudo.

O pesquisador explica que sob o efeito do aquecimento global, a água está evaporando mais na superfície do planeta e os continentes estão secando mais rapidamente e com mais força do que os modelos poderiam antecipar. "Apesar dos esforços de desenvolvimento destes modelos, não podemos realmente refinar as análises que oferecemos. Qualitativamente, temos resultados que na maioria das vezes são corroborados por observações: o fato de o globo estar se aquecendo sob o efeito das emissões de gases de efeito estufa. Mas quando se trata de efeitos regionais, às vezes o alcance pode ser um pouco subestimado ou superestimado", observa o especialista. "Vemos que desde o fim do século XX, há uma tendência ao ressecamento que é subestimada pelos modelos". 

Dados de satélite do programa europeu Copernicus apontavam que mais de um quarto do continente europeu e da bacia mediterrânea já sofriam de seca do solo desde o início de abril de 2023.  Ao todo, 25% da área observada tinha déficit de umidade do solo, principalmente Escandinávia, Irlanda, norte da Polônia, Espanha, Turquia e as costas ocidentais do Mar Negro.

Essa situação põe em evidência tensões territoriais entre regiões por causa da escassez de água, que se traduzem em disputas cada vez mais acirradas entre agricultores e ecologistas, por exemplo.

Inevitável no futuro próximo

A fim de garantir que a seca dos continentes não se intensifique ainda mais no futuro, o climatologista destaca a importância de ações concretas e em ritmo de urgência para diminuir as emissões de gases de efeito estufa. "Isso não é inevitável a longo prazo se a humanidade fizer os esforços necessários para evitar as emissões de gases de efeito estufa, mas é inevitável pelo menos nas próximas duas décadas ou até que possamos atingir a neutralidade em carbono, porque é disso que estamos falando", destaca Hervé Douville.

"Nós sabemos que o aquecimento global é proporcional às emissões acumuladas de gases de efeito estufa e quanto mais aumentarmos esse acúmulo, mais o planeta vai aquecer. Então, vai depender das ações do homem, que pode aumentar os esforços para limitar essas emissões, mas sabemos que no nosso sistema econômico isso não é fácil, seja por gargalos técnicos ou de comportamento", acrescenta. "Então, até 2050, pelo menos, penso que esta tendência vai continuar e será acompanhada de um aumento e intensificação dos fenômenos de seca. Provavelmente, também de incêndios florestais em regiões onde os meios de prevenção e combate são insuficientes", completa o pesquisador.

A imagem mostra histórica Igreja Waiol em chamas, em Lahaina, no Havaí, em agosto de 2023. O incêndio florestal, que deixou pelo menos 36 mortos, já é considerado o pior de todos os tempos no arquipélago norte-americano.
A imagem mostra histórica Igreja Waiol em chamas, em Lahaina, no Havaí, em agosto de 2023. O incêndio florestal, que deixou pelo menos 36 mortos, já é considerado o pior de todos os tempos no arquipélago norte-americano. © AP - Matthew Thayer

Por enquanto, o que se vê são recordes de temperatura em todo o mundo, que intensificam fenômenos meteorológicos extremos e que têm sido registrados quase diariamente, em todas as regiões. Recentemente, a Grécia foi parcialmente devastada pelas chamas, assim como o Canadá, país que também registra terríveis inundações, enquanto o calor extremo assola o sul da Europa, o norte de África, o sul dos Estados Unidos e parte da China, que também testemunhou chuvas torrenciais.

A rede científica World Weather Attribution (WWA) concluiu que essas ondas de calor na Europa e nos Estados Unidos teriam sido "praticamente impossíveis" sem o efeito da atividade humana, especialmente o uso de combustíveis fósseis (carvão, petróleo, gás). E se nada for feito, os temporais poderão ser mais fortes.

"Estamos em um planeta onde o ar se umidifica com o aquecimento da atmosfera. E quando as condições meteorológicas são favoráveis, temos chuvas mais intensas", destaca o climatologista Hervé Douville. "De maneira geral, chove mais forte, mas com menos frequência e por isso temos um ressecamento da superfície dos continentes, do solo, que se traduz de um ressecamento do ar na superfície, que resseca a cobertura vegetal, facilitando os incêndios florestais", alerta.     

A única solução para evitar o ressecamento dos continentes, segundo os especialistas, é frear as emissões de gases de efeito estufa, reforçar a adaptação às mudanças climáticas e reduzir a quantidade de água captada dos lençóis subterrâneos.

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