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O Mundo Agora

Seca dos rios europeus também ameaça economia

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Como se não bastassem a guerra na Ucrânia, a crise energética devido às disputas em torno do fornecimento de gás pela Rússia, e a alta inflação que assola todo o continente, a seca dos rios também afeta a economia europeia.

O efeito economicamente mais desastroso ocorre no rio Reno. Ele nasce nos Alpes Suíços e atravessa ou acompanha outros cinco países: A Áustria, Lichtenstein, Alemanha, França e Holanda, desaguando no Mar do Norte.
O efeito economicamente mais desastroso ocorre no rio Reno. Ele nasce nos Alpes Suíços e atravessa ou acompanha outros cinco países: A Áustria, Lichtenstein, Alemanha, França e Holanda, desaguando no Mar do Norte. AP - Boris Roessler
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Flávio Aguiar, analista político

Segundo especialistas em meteorologia e temas conexos esta seca, provocada pela falta de chuvas e as altas temperaturas desde o mês de maio, vem afetando dois terços do continente, da Noruega ao Mediterrâneo e do Atlântico ao conturbado Mar Negro.

Em alguns casos houve acontecimentos dramáticos, que ficaram entre trágicas evocações e cenas pitorescas. No rio Pó, o mais extenso da Itália, que corre entre a fronteira com a França, nos Alpes, e o Mar Adriático, o rebaixamento do nível das águas expôs nas vizinhanças de Bordo Virgílio, perto de Mantua, uma velha barcaça afundada em 1943, durante a Segunda Guerra, e uma bomba norte-americana de 450 quilos. A barcaça ficará onde está; mas a bomba teve de ser removida e explodida, provocando a evacuação momentânea de 3000 residentes na área próxima.

No rio Danúbio, na Sérvia, 20 navios da chamada “Frota Alemã do Mar Negro” ficaram expostos. As embarcações foram afundadas em 1944, quando as forças nazistas recuavam diante da ofensiva soviética. Agora, provocaram um problemaço na região. Muitas delas estão carregadas com a munição que levavam. Segundo o governo sérvio há cerca de 10 mil explosivos nelas. O custo para remove-las está orçado em 30 milhões de euros. Quem pagaria por isto? A Sérvia? A Alemanha? A União Europeia?

Na Espanha, no reservatório de Valdecanas, na Andaluzia, ficaram expostas ruínas pré-históricas cobertas desde 1963, provocando uma corrida de arqueólogos para examina-las. No norte da Itália o baixo nível das águas do lago Como trouxe à luz esqueletos de cervos, hienas, leões e rinocerontes que há 100 mil anos atrás viviam na região. Na França o rebaixamento do rio Loire possibilita, em alguns pontos, que a sua travessia seja feita a pé.

Mas em outras regiões do continente a seca vem produzindo efeitos nada pitorescos. Na Noruega, cujo consumo de eletricidade depende de hidrelétricas, o fornecimento está ameaçado, provocando a suspensão das exportações de energia.

Efeitos dramáticos

O efeito economicamente mais desastroso ocorre no rio Reno. Ele nasce nos Alpes Suíços e atravessa ou acompanha outros cinco países: A Áustria, Lichtenstein, Alemanha, França e Holanda, desaguando no Mar do Norte. Por ele flui o transporte de carvão, petróleo cru, produtos químicos e manufaturados das indústrias do sul e sudoeste da Alemanha para outras regiões.

Este transporte é feito através de navios e chatas de pouco calado. Mas mesmo estas estão tendo de navegar com metade da carga normal, uma vez que o rebaixamento do nível da água reduz a possibilidade de tráfego. Há pontos do rio em que a profundidade normal é de dois metros mas agora está reduzida a setenta centímetros. Em outros pontos ela está reduzida a 30 centímetros.

Os técnicos que monitoram o rio não excluem a possibilidade de seu fechamento temporário, o que aumentaria o risco de recessão que já paira sobre a maior economia da Europa. Se isto ocorrer, o seu efeito dramático afetaria o continente inteiro. Além do fluxo de embarcações, a seca vem afetando o funcionamento de portos como o da Basiléia, na Suíça, de Colônia e Düsseldorf na Alemanha, e o de Rotterdam, na Holanda, que fica às margens de um afluente do Reno e é considerado o maior porto de acesso marítimo do continente.

Meteorologistas, geógrafos e historiadores afirmam que esta é a pior seca dos últimos 500 anos na Europa, e que ela deve permanecer pelo menos até o mês de novembro, afetando não só a navegação, mas também toda a produção agrícola. Por isto muitos hábitos estão mudando no continente.

Normalmente a maioria dos europeus, sobretudo ao norte, saúda e torce pelo sol, devido às longas noites dos invernos prolongados. Pois agora o que se vê é muita gente rezando ou implorando pela ocorrência de chuvas.

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