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Linha Direta

Com reunião em Brasília, Brasil deve liderar diálogo entre Guiana e Venezuela e fazer frente aos EUA

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Quase dois meses após a Venezuela ameaçar invadir e tomar parte da Guiana, ministros das relações exteriores dos dois países vão participar de um encontro no Brasil, nesta quinta-feira (25), organizado pela equipe do chanceler Mauro Vieira. Analistas ouvidos pela RFI dizem que o evento é fundamental para garantir paz à região e para o Brasil se posicionar diante de potências que já se movimentaram militarmente em território guianense.

Em Caracas, pintura mural defende que o território de Essequibo é d Venezuela. (29 de novembro de 2023)
Em Caracas, pintura mural defende que o território de Essequibo é d Venezuela. (29 de novembro de 2023) AP - Matias Delacroix
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Raquel Miura, correspondente da RFI Brasil em Brasília

Ainda que seja perceptível o esfriamento da tensão entre Guiana e Venezuela, o encontro que será realizado em Brasília nesta quinta-feira é visto como importante não só para os dois países, mas também para a diplomacia brasileira. Com mediação  do Brasil, Dominica e São Vicente e Granadinas, as duas partes sentam-se lado a lado à mesa após a tensão vivida no fim de 2023.

Mesmo não sendo uma reunião de chefes de Estado, mas de chanceleres, o desembarque dos representantes dos dois países em solo brasileiro abre caminho para relações menos conflituosas na tríplice fronteira nos próximos meses.                                 

A agenda bilateral intermediada pelo Itamaraty permite ao Brasil figurar como protagonista numa área que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva considera fundamental para galgar andares mais altos nas relações globais pela América do Sul,  pela via do diálogo frente a movimentações bélicas de outros países na região, no fim do ano.

O coordenador do curso de Relações Internacionais do IBMEC/RJ, José Luiz Niemeyer, disse à RFI que as ameaças de Nicolás Maduro refletem os seus desafios políticos internos. O analista reforça que a crise gerou grande apreensão na região e impôs ao Brasil a necessidade se posicionar, especialmente frente aos Estados Unidos:

“Essa reunião vai apaziguar as relações entre Venezuela e Guiana e, mais do que isso, mostrar para os Estados Unidos que a América do Sul faz parte do espaço vital do Brasil, numa perspectiva geopolítica e geoestratégica. O Brasil consegue mostrar que tem uma ação diplomática eficiente e, depois, num próximo e esperado passo, poderá promover o encontro entre o presidente Lula, o presidente da Venezuela e o presidente da Guiana”, projeta Niemeyer.

“O Brasil precisa se posicionar, sendo que os Estados Unidos já haviam se posicionado, inclusive demonstrando força militar contra uma possível ação venezuelana”, relembra o Niemeyer, ao se referir a manobras militares dos americanos na Guiana após Maduro ameaçar a soberania do país vizinho.

Região disputada

Para Brasília, o encontro é visto mais como uma tentativa de reaproximação diplomática dos dois países e menos como um palco para se discutir o foco da polêmica, que é a questão de Essequibo. A especialista Carolina Pedroso, professora de Relações Internacionais da Universidade Federal de São Paulo, disse à RFI que a disputa em torno da área é antiga, com rixas históricas. Mas que hoje, por se tratar de uma região rica em petróleo e num país amazônico, muitos outros interesses estão em jogo:

“O movimento é diplomático, mas há um outro aspecto que vem com interesses de fora da região, sejam dos Estados Unidos, sejam da Inglaterra, sejam das empresas estrangeiras que estão extraindo petróleo dali. Basta lembrar a movimentação de navios ingleses no Caribe no fim do ano e a preocupação dos americanos", aponta Pedroso.

"O Brasil, enquanto mediador, não pode deixar de considerar o elemento militar, o elemento estratégico da região amazônica, que assim como a própria questão do petróleo em Essequibo, desperta interesses de potências e de atores fora da região”, avalia.

Um passo para a paz 

A professora indica que as partes não deixaram claro quais vão ser os temas específicos a serem discutidos, e uma solução definitiva para o conflito não é fácil. "Mas a disposição dessas autoridades em virem ao Brasil, e mais do que isso, colocar o Brasil como um construtor de pontes nesse momento, é extremamente importante”, ressaltou a professora da Unifesp.

Outra especialista na área internacional ouvida pela RFI, Vanessa Matijascic, da FAAP, destacou que a intenção brasileira é frear os ímpetos de Nicolas Maduro e manter as atuais linhas de fronteiras da região.                                       

“O Brasil é super interessado em mediar e fazer com que haja uma conciliação e provavelmente permanecer as fronteiras tal como estão. Então a participação do Brasil na reunião que acontece esta semana é justamente para evitar qualquer escalada de conflito entre os dois países e, principalmente, ajudar a segurar a posição do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro”, frisou Matijascic.

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