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Linha Direta

Referendo na Venezuela sobre área disputada com Guiana tem clima de campanha para eleição presidencial

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Os venezuelanos voltam às urnas no domingo (3), mas desta vez para o referendo em defensa de Esequibo, área com cerca de 130 mil km disputada com a Guiana. Na consulta, os eleitores vão responder a cinco perguntas, entre elas está a criação de uma nova província, que seria chamada de Guiana Esequiba, administrada pela Venezuela e cujos habitantes receberiam documentos venezuelanos. Para o presidente Nicolas Maduro, o plebiscito serve de termômetro para as eleições de 2024. 

Através do referendo o governo de Nicolás Maduro visa ter números para pressionar as instâncias internacionais a favor da Venezuela sobre qual país tem poder sobre o território coberto por selva mas com grandes reservas de recursos naturais, entre eles petróleo e metais nobres.
Através do referendo o governo de Nicolás Maduro visa ter números para pressionar as instâncias internacionais a favor da Venezuela sobre qual país tem poder sobre o território coberto por selva mas com grandes reservas de recursos naturais, entre eles petróleo e metais nobres. REUTERS - LEONARDO FERNANDEZ VILORIA
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Eliana de Aragão Jorge, correspondente da RFI na Venezuela

O eleitor terá que responder se rejeita "a pretensão da Guiana de dispor unilateralmente de um mar pendente de ser delimitado, de maneira ilegal e em violação do Direito Internacional” e se está de acordo com a criação do estado da Guiana Esequiba, na área reivindicada.

O referendo está mobilizando os governos de ambos os países. Mais de 356 mil integrantes da Força Armada Nacional Bolivariana (FANB) estarão nas ruas neste domingo para garantir a segurança da consulta popular. Também haverá lei seca, que entra em vigor na sexta-feira (1º) e vai até a próxima segunda-feira (4). Além disso, está proibido o porte de armas e transporte de valores e de máquinas pesadas em todo o território venezuelano. 

A Datanálisis, empresa venezuelana de pesquisas de opinião, divulgou em novembro deste ano que cerca de 40% dos eleitores planejam votar neste domingo; enquanto 20% não soube responder. Já a Hinterlaces estima que 72% dos eleitores vão participar. 

Através do referendo, o governo de Nicolás Maduro visa ter números para pressionar as instâncias internacionais a favor da Venezuela, para decidir qual país tem poder sobre o território coberto por floresta e com grandes reservas de recursos naturais, entre eles petróleo e metais nobres.       

Tensão no ar 

O clima, na Venezuela e na Guiana, está tenso. Ambos os países vêm demonstrando disposição para uma escalada no conflito. Há semanas o governo venezuelano vem promovendo passeatas e outros atos para defender o Esequibo. Nos canais estatais e nas redes sociais são veiculadas campanhas afirmando que o “Esequibo é nosso”. Algumas dessas peças publicitárias buscam causar medo. 

O ministro venezuelano da Defesa, o general Vladimir Padrino López, acusou, em outubro, o presidente da Guiana, Irfaan Ali, de assumir uma “retórica arrogante e belicista”. 

Em um vídeo publicado nas redes sociais, Padrino afirmou que “estamos preparados para todos os cenários, no entanto, esperamos que a paz e a razão prevaleçam”.

As FANB iniciaram obras de construção de uma escola, um centro de saúde e um campo de treinamento na ilha fluvial de Anacoco, localizada na fronteira entre Venezuela e Guiana.

Por sua vez, a Guiana rejeita o referendo, classificado pelo presidente Irfaan Ali como uma “ameaça à paz da América Latina e do Caribe”. Irfaan Ali afirmou que a Guiana enfrenta “ameaças” da Venezuela e que seu país tem compromisso com a paz e com a resolução pacífica de disputas. A ex-colônia britânica avalia estabelecer no Esequibo bases militares com apoio estrangeiro. São esperadas na Guiana as visitas de equipes do Departamento de Defesa dos Estados Unidos.

Em mensagem às Forças de Defesa da Guiana, Irfaan Ali destacou que “continuamos firmes na determinação de defender vigorosamente o nosso país e o nosso povo, salvaguardando a nossa integridade territorial e soberania”.

Nos canais de TV da Guiana também vem sendo exibidas publicidades ressaltando que a área do Esequibo pertence aos guianenses. A xenofobia contra venezuelanos também vem crescendo. Nos últimos dias, dezenas de pessoas foram repatriadas da Guiana à Venezuela.       

Nas últimas horas, o Brasil reforçou a presença militar na região de fronteira com ambos os países.

Esequibo Fest

No final da tarde de sexta-feira, milhares de pessoas, sobretudo jovens, são esperados em um parque de Caracas no "Esequibo Fest", um festival com bandas musicais venezuelanas, organizado pelo governo de Maduro. O ambiente festivo choca com o caráter belicista do debate sobre o tema. 

O "Esequibo Fest" - e toda estrutura criada em torno da defesa da área entre Venezuela e Guiana - parece mais a uma campanha política que a uma disputa territorial. O governo de Maduro criou o Comitê Venezuela Toda, e distribuiu centenas de camisetas, bottons, adesivos e material publicitário em todo o país. Em vários muros da capital e do interior há pinturas exaltando a disputa. A imagem da campanha é o mapa da Venezuela com a região do Esequibo anexada.   

Analistas afirmam que a mobilização popular em torno do Esequibo serve de termômetro para as eleições presidenciais de 2024. 

Voto de opositor

O tema do Esequibo é bastante propício para o chavismo tentar reunir a intenção de todos os venezuelanos em torno de um tema comum que é a área em reclamação com a Guiana. Políticos ligados ao governo repetem à exaustão que “o Sol da Venezuela nasce no Esequibo”.

Maria Corina Machado, a vitoriosa nas primárias à presidência mesmo estando inabilitada, afirmou que “se fosse presidente da Venezuela, a Guiana não se atreveria a fazer nenhuma agressão”. 

Já outros líderes políticos garantiram que vão votar neste domingo. Henrique Capriles Radonski afirmou que votará para cumprir com o compromisso venezuelano de defender a soberania do país. Mas ressaltou que votar no referendo não significa apoiar o governo de Maduro nem o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), criado pelo ex-presidente Hugo Chávez em 2007.  

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