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Linha Direta

Venezuela: professores públicos protestam contra salário de até U$15

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Professores da rede pública estão há dias nas ruas de várias cidades da Venezuela contra os baixos salários. Sem reajuste há quase cinco anos, eles pedem melhores condições trabalhistas em um país onde a inflação interanual chega a 422%, de acordo com o Observatório Venezuelano de Finanças. Com a defasagem salarial e a queda na qualidade do ensino, é alta a evasão tanto de docentes como de alunos do sistema público. 

Professores e funcionários públicos seguram um cartaz com os dizeres "Por um salário igual à Cesta Básica", enquanto participam de um protesto para exigir melhores salários, antes do início do novo ano letivo, em Caracas, Venezuela, em 18 de setembro de 2023.
Professores e funcionários públicos seguram um cartaz com os dizeres "Por um salário igual à Cesta Básica", enquanto participam de um protesto para exigir melhores salários, antes do início do novo ano letivo, em Caracas, Venezuela, em 18 de setembro de 2023. REUTERS - LEONARDO FERNANDEZ VILORIA
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Eliana de Aragão Jorge, correspondente da RFI Brasil em Caracas

É delicada a situação dos professores públicos venezuelanos. Nesta quarta-feira (20), docentes e funcionários jejuaram durante 12 horas nas dependências da Universidade Central da Venezuela, uma das principais do país, para exigir aumento salarial.

Em todo o país, professores públicos recebem salários que não pagam sequer as compras do mês. 

O valor mensal recebido varia entre cinco dólares e U$15 (o equivalente a R$ 73). A quantia é incompatível para comprar a cesta básica, que custa cerca de U$502 (quase R$ 2.434), de acordo com o Cendas (Centro de Documentação e Análise Social). Ou seja, são necessários mais de trinta salários mínimos para ter acesso a uma alimentação adequada; sem contar com as demais despesas básicas como moradia, transporte e vestimenta. 

Os professores estão há quase dois anos sem aumento, o que significa um gigantesco déficit se comparado ao constante aumento dos preços no país.

“Situação profundamente grave”

Griselda Sánchez, presidente da Formação de Dirigentes Sindicais (Fordisi), descreve a situação dos docentes na Venezuela: 

“Muitos professores morreram por não ter salários, remédios, não têm sequer como ir às escolas. Os benefícios que recebem mais ou menos alcançam para buscar algo de comida. Realmente a situação é profundamente grave”.  

A falta de infraestrutura nas instalações acadêmicas é outro problema enfrentado pelos professores. Em muitos colégios e universidades públicas falta água, lousas e materiais para o ensino e até energia elétrica – problema que afeta todo o país

O problema atinge cerca de 500 mil professores ao nível nacional, além do grande número de docentes aposentados que estão na mesma situação.

Demais profissionais do serviço público, que também sofrem com os baixos salários, participam dos protestos em solidariedade aos professores. 

A inflação voltou a subir nos últimos meses, após um breve período de trégua, e continua a minguar o poder de compra em todo o país. 

De acordo com o Observatório Venezuela de Finanças, organizado por opositores, a inflação interanual é de 422%, calculada em agosto deste ano. A alta foi motivada pelos alimentos e serviços básicos. 

Para poder comer

Sánchez explica a proposta dos docentes, embora o salário solicitado esteja longe do ideal:  

“O salário de um professor na Venezuela deveria ser de pelo menos U$ 600 (cerca de R$ 2.910) para poder comer, vestir-se, comprar remédios, dar educação a seus filhos. Todos sabemos que com U$ 600 não serão milionários, mas, pelo menos, poderão resolver parte da situação que temos hoje na Venezuela. O direito à vida é um direito humano”. 

Mesmo na luta por melhores condições, os professores reconhecem a importância de seu trabalho. Sem querer abandonar os alunos, os docentes planejam combinar dias de aulas e de protestos até que suas exigências sejam atendidas. 

Griselda Sánchez explica que “entendemos que as crianças (alunos) também são vítimas do sistema se deixados sem atividade”.

Os líderes dos protestos não estão em consenso. Elsa Castillo, da Federação Venezuelana de Professores, considera que “não há condições para a volta às aulas”; embora na última segunda-feira os professores tenham iniciado os trabalhos administrativos.

Fuga de cérebros 

Muitos professores buscaram trabalhos alternativos, em um país onde a informalidade cresce a cada dia. Outros engrossaram a estatística dos quase oito milhões de venezuelanos que abandonaram o país, de acordo com dados da ONU. É o que explica Sáchez: 

“Cerca de 50% de professores que abandonaram a educação para se dedicar a outras coisas; outros cruzaram a fronteira. Com isso está em risco a educação de cerca de oito milhões de estudantes das escolas públicas do país. 

Até o momento a ministra da Educação Yelitza Santaella não deu uma resposta favorável ao grupo.

Apesar da falta um salário adequado ao custo de vida, os docentes são motivados pelo cenário futuro do país, é o que explica Sánchez: 

“Continuamos apostando na educação porque todos vamos pagar as consequências. Se continuar assim, no futuro, não teremos mão de obra qualificada, nem profissionais de alto nível para atender às necessidades da população. Isso é o que nos mantêm protestando para levar adiante nosso sistema educacional, do qual depende o futuro do país”. 

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