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Linha Direta

Crise imigratória pressiona Biden há um mês de eleições que redefinem seu apoio no Congresso

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Estados Unidos e México tiveram nessa quinta-feira (14) mais uma reunião para falar da crise humanitária na fronteira entre os dois países. O assunto principal foi imigração – um tema crítico e delicado para o governo Joe Biden, menos de um mês antes das eleições intermediárias. O pleito vai definir se republicanos ou democratas serão a maioria no Senado e Câmara dos Deputados e, consequentemente, redesenhar o congresso do país e a governabilidade de Biden.

Imigrantes venezuelanos expulsos dos Estados Unidos e enviados de volta ao México chegam em Ciudad Juárez, em 13 de outubro de 2022. REUTERS/Jose Luis Gonzalez
Imigrantes venezuelanos expulsos dos Estados Unidos e enviados de volta ao México chegam em Ciudad Juárez, em 13 de outubro de 2022. REUTERS/Jose Luis Gonzalez REUTERS - JOSE LUIS GONZALEZ
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Com a proximidade das eleições de meio mandato, em 8 de novembro, Biden está sendo extremamente pressionado e criticado para adotar uma política eficaz para lidar com a crise humanitária na fronteira dos Estados Unidos e México. O presidente é questionado pela comunidade latina, que defende o acolhimento dos imigrantes (especialmente os da Venezuela), e pelos governos locais e representantes republicanos, que exigem uma resposta mais contundente para frear a disparada na entrada de migrantes ilegais.

A reunião foi a segunda, em pouco menos de um mês, entre o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, e o ministro mexicando das Relações Exteriore, Marcelo Ebrard. Oficialmente, o encontro foi apresentado como uma reunião de “diálogo de segurança de alto nível” para proteger os cidadãos americanos e mexicanos.

Tema de campanha

Há um aumento crescente de venezuelanos que tentam chegar ao território norte-americano. Só em setembro, um total de 33.000 pessoas chegaram à fronteira, o que representa um aumento de 293% no fluxo de migrantes vindos da Venezuela, com relação ao mesmo período no ano passado. O governo de Joe Biden já anunciou um plano para, de um lado, expulsar venezuelanos que tentarem cruzar ilegalmente a fronteira e, de outro, conceder permissão de entrada para 24 mil pessoas.

Em meio à crise imigratória na fronteira e a campanha política, os republicanos dizem que Biden é muito lento na tomada de decisões. O governador republicano do Texas, Gregg Abbot, por exemplo, declarou recentemente que está trabalhando em um plano de contenção de entrada ilegal no estado porque o governo Biden, nas palavras dele, “não faz nada”.

Os candidatos republicanos ao Congresso adotam a mesma postura. Muitos deles, com o apoio do ex-presidente Donald Trump, levam os problemas de migração e fronteira para o centro do debate em suas campanhas, acusando o presidente Biden de não conseguir deter o fluxo de imigrantes que entram ilegalmente no país. E, nesse ponto, vale lembrar que Trump ganhou as eleições de 2016 com um forte discurso anti-imigração, totalmente focado em fechar a fronteira entre Estados Unidos e México, com a construção de um muro. 

Visto para venezuelanos

Apesar das críticas, em apenas um ano mais de 2,3 milhões de imigrantes ilegais foram presos na fronteira com o México, o representa um recorde.

Em contrapartida, ao mesmo tempo em que endurece as prisões, o governo Biden anunciou essa semana um plano para acolher venezuelanos no território norte-americano, seguindo o modelo criado para acolher ucranianos desde o início da guerra lançada pela Ucrânia em fevereiro. De acordo com o plano, os Estados Unidos se comprometem a receber até 24 mil venezuelanos.

O novo programa de Biden é rigoroso: os inscritos devem comprovar ter ajuda financeira nos Estados Unidos e demonstrar algum tipo de parentesco ou relação com o país. Além disso, o processo deve ser iniciado fora do território norte-americano, e sem tentativas anteriores de entradas irregulares por terra. E os candidatos terão de passar por testes de triagem e verificação, bem como comprovação de vacinações completas.

Política e resultados

Entidades que defendem o direito dos imigrantes afirmam que o plano vai ajudar um número irrisório de venezuelanos, pois estimam que poucos vão conseguir cumprir as exigências. Muitos dos que atravessaram este ano, por exemplo, simplesmente não têm conexões familiares ou comunitárias nos Estados Unidos, e que poderiam financiá-los. E essa é uma grande diferença entre venezuelanos e muitos outros migrantes que já vieram antes, como os ucranianos. Mais de 150 mil venezuelanos cruzaram a fronteira dos Estados Unidos em 2022.

Ficou decidido com o novo plano que o México vai fazer um esforço para repatriar os venezuelanos que cruzam a fronteira ilegalmente. Mas não está claro sobre como isso vai ser feito. O acordo entre os dois países está em vigor desde quarta-feira (12), e desde então, todos os venezuelanos que cruzarem a fronteira a pé ou a nado serão imediatamente devolvidos ao México.

Enquanto Washington enfatiza que já está expulsando os imigrantes na fronteira, o governo mexicano destaca que os Estados Unidos darão mais de 60.000 vistos de trabalho sazonais adicionais a imigrantes do México e da América Central. E, apesar do compromisso firmado para que o México receba os expulsos na fronteira, o país não é obrigado a aceitar todos os migrantes que são expulsos dos EUA. O volume de migrantes deixa dúvidas sobre a capacidade de resposta mexicana. Em menos de um ano, cerca de 480.000 migrantes cruzaram ilegalmente a fronteira entre os dois países.

Tampão de Darién

Na prática, a crise humanitária é muito maior que as ações e planos anunciados. Sobretudo ao se observar as condições que não só venezuelanos, mas também migrantes da África e Ásia, enfrentam ao tentar atravessar as selvas do Tampão de Darién, na fronteira entre Colômbia e Panamá

Segundo a Agência de Refugiados das Nações Unidas, a Acnur, só nos primeiros meses de 2022 mais de 8 mil pessoas cruzaram a região para seguir rumo ao México e Estados Unidos: três vezes mais que no mesmo período do ano passado.

O Tampão de Darién é umas das rotas de migrantes e refugiados mais perigosas do mundo, com 5 mil quilômetros quadrados de matas tropicais, montanhas íngremes e rios. A travessia dura em média 10 dias e apresenta, além dos riscos naturais da selva, ameaças de quadrilhas criminosas conhecidas por perpetrarem violência, incluindo abuso sexual e roubos.  

A Acnur afirma que geralmente os grupos de imigrantes são formados por jovens adultos e famílias – que chegam a comunidades indígenas remotas, com fome e desidratação. E esse dificilmente vai ser o perfil do imigrante que conseguirá se qualificar para receber asilo por intermédio do novo plano do governo americano.

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