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Linha Direta

União Europeia poderá suavizar sexto pacote de sanções contra a Rússia

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O sexto pacote de sanções contra a Rússia pode ser suavizado durante a reunião dos líderes da União Europeia, nesta segunda (30) e terça-feira (31) em Bruxelas. A principal medida do pacote, que conta com o veto da Hungria, é um embargo petrolífero até o final do ano. O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, deve participar do encontro por videoconferência.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, se mostrou cética em relação a um possível consenso sobre novas sanções contra a Rússia.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, se mostrou cética em relação a um possível consenso sobre novas sanções contra a Rússia. AP - Jean-Francois Badias
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Letícia Fonseca-Sourander, correspondente da RFI em Bruxelas

Apesar de diferentes opções estarem sobre a mesa de negociações, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, se mostrou cética em relação a um possível consenso entre os 27 líderes do bloco.

Em Davos, ela afirmou que não queria “criar falsas expectativas”. A imposição deste sexto pacote de sanções contra Moscou, que visa o embargo do petróleo russo, é um teste de credibilidade para Bruxelas. Há quase três semanas, Von der Leyen propôs uma “proibição completa” de todas as importações do petróleo bruto e de combustíveis refinados provenientes da Rússia, para cortar o fluxo lucrativo de receita que ajuda o presidente russo, Vladimir Putin, a financiar sua invasão na Ucrânia.

O mais provável é que o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, mantenha o veto ao embargo. Segundo Budapeste, 65% do petróleo e 85% do gás utilizados na Hungria provêm da Rússia. O país do leste exige pelo menos quatro anos e € 800 mil dos fundos europeus para adaptar suas refinarias e aumentar a capacidade de gasodutos para a vizinha Croácia.

No início do mês, Orbán enviou uma carta ao presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, afirmando que um acordo para o embargo ao petróleo russo era muito improvável; pelo menos, “enquanto as negociações não trouxerem soluções a todas as questões em suspenso”, salientou.

Na semana passada, o governo húngaro voltou a decretar estado de emergência no país por causa da guerra na Ucrânia. Segundo Kiev, a medida deve ter sido estimulada por “um lobby russo ou algum contato com a Federação Russa”.

França quer suavizar sanções energéticas contra a Rússia

Os chefes de Estado e de governo do bloco devem se comprometer a continuar financiando e enviando armas para a Ucrânia, diante das “indescritíveis atrocidades” russas, como descreve o rascunho da declaração a ser assinada pelos líderes europeus no final do encontro de cúpula.

Especialistas estão pedindo que a União Europeia dê à Ucrânia ajuda orçamentária de curto prazo na forma de subsídios em vez de empréstimos. Eles estão preocupados com o impacto da dívida maciça na economia do país. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, deve pressionar os líderes europeus a impor novas sanções contra a Rússia e pedir armas mais sofisticadas e poderosas para enfrentar o invasor.

Quanto às novas sanções, a França apresentou uma proposta que prevê excluir "por enquanto" o oleoduto Druzhba de um futuro embargo de petróleo e apenas impor sanções ao petróleo enviado para a UE por caminhões-tanques.

As primeiras sanções contra Moscou, impostas logo após a invasão das tropas russas na Ucrânia, tiveram um objetivo financeiro e atingiram bancos e alguns setores econômicos do país.

Agora, com este sexto pacote de sanções, o alvo é o setor energético, que é o centro das relações UE-Rússia. Analistas ressaltam, no entanto, que o petróleo não representa a maior fatia do mercado energético da Rússia. A União Europeia é mais dependente das importações de gás russo, e um embargo a esse produto parece inviável no momento atual.

Os líderes europeus também irão debater, nos dois dias de encontro em Bruxelas, o aumento dos preços da energia, questões de defesa e segurança alimentar.

Rússia pretende usar a crise alimentar global como moeda de troca

O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que o problema da segurança alimentar global depende da restauração agrícola da Rússia e da Ucrânia. Até a invasão russa, a Ucrânia – conhecida como celeiro do mundo – era responsável por cerca de 9% a 11% da produção mundial de cereais.

O norte da África e o Oriente Médio importam da Rússia e da Ucrânia mais de 50% dos cereais que consomem. A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) estima que 125 milhões de pessoas poderão ser afetadas pela fome por causa das consequências dramáticas da redução da produção de cereais e a impossibilidade de exportação desses produtos pelo Mar Negro, por causa do bloqueio das tropas russas aos portos ucranianos, além das minas navais deixadas à deriva nas águas dessas rotas comerciais.

“A longo prazo, o objetivo da Rússia é transformar a Ucrânia em um país sem litoral”, comenta o site de informações Euroactiv. Antes da guerra, a Ucrânia exportava 5 milhões de toneladas métricas de grãos e até 700 mil toneladas de óleo de girassol por intermédio dos portos no Mar Negro.

De acordo com as últimas estimativas, os agricultores ucranianos têm agora cerca de 22 milhões de grãos bloqueados nos armazéns. Com o porto de Mariupol paralisado, as tropas de Moscou já ocupam grandes áreas do sul da Ucrânia ao longo da costa do Mar de Azov, tendo estabelecido a tão almejada ponte terrestre entre a Rússia e a península da Crimeia.

Odessa, o maior porto da Ucrânia e uma importante porta de entrada para o embarque de grãos, tem sido bombardeada e pode ser o próximo alvo de Moscou. Para o diretor executivo da FAO, David Beasley, “a não abertura desses portos na região de Odessa será uma declaração de guerra à segurança alimentar global". Segundo Beasley, "isso resultará em fome, desestabilização e migração em massa em todo o mundo”.

Rotas alternativas por vias férreas que atravessam a Belarus ou rodoviárias para os portos do Mar Báltico ou a Romênia estão sendo exploradas, mas apresentam sérios inconvenientes práticos relacionados com infraestrutura, prazos de entrega, bem como a preocupação de que Minsk peça o levantamento das atuais sanções da União Europeia em troca da passagem das mercadorias.

Especialistas militares alertaram de que desde o início, o plano da Rússia é dominar o Mar Negro e usar uma crise alimentar global como moeda de troca enquanto a guerra continua.

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