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Linha Direta

Alemanha poderia adiar gasoduto Nord Stream 2 se Rússia invadir a Ucrânia

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O chanceler alemão, Olaf Scholz, garantiu nesta terça-feira (8) a um grupo de senadores americanos que o polêmico projeto do gasoduto Nord Stream 2 será cancelado se a Rússia invadir a Ucrânia. A afirmação foi feita na noite desta terça-feira (09/02) pelo líder da minoria no Senado dos EUA, Mitch McConnell. A promessa do líder alemão teria ocorrido durante um jantar em Washington.


O chanceler alemão, Olaf Scholz garantiu a um grupo de senadores americanos que o polêmico gasoduto Nord Stream 2 não seguirá em frente se a Rússia invadir a Ucrânia.
O chanceler alemão, Olaf Scholz garantiu a um grupo de senadores americanos que o polêmico gasoduto Nord Stream 2 não seguirá em frente se a Rússia invadir a Ucrânia. REUTERS/Maxim Shemetov
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Marcio Damasceno, correspondente da RFI em Berlim

"A boa notícia é que Scholz confirmou o que o presidente Biden disse ontem, se a invasão acontecer, o Nord Stream 2 não seguirá em frente", disse MacConnell. A informação foi divulgada pela imprensa americana quando o líder alemão já estava em Berlim.

O chanceler alemão foi muito menos claro sobre até onde estava disposto a ir para "punir" a Rússia. Ao conversar com jornalistas em Washington, ele evitou até mesmo citar o nome do gasoduto e relutou em dizer que um ataque russo à Ucrânia significaria o fim do Nord Stream 2. Coube ao presidente Biden afirmar, durante uma coletiva de imprensa conjunta realizada com o alemão, que o gasoduto não irá adiante em caso de agressão russa.

Construído para levar gás da Rússia diretamente à Alemanha através do Mar Báltico, o Nord Stream 2 é um projeto milionário dos dois governos. Desde o mandato da ex-chanceler Angela Merkel, Berlim se negava a usar o gasoduto como meio de pressão contra Moscou. Tanto Ucrânia, como Polônia e Estados Unidos pressionam pelo fim do projeto.

Mas essa posição começa a mudar, embora os alemães não deixem isso explícito – ao menos publicamente. O gasoduto ainda não entrou em atividade e aguarda a certificação. O governo alemão não diz com todas as letras que vai paralisar o projeto caso a Rússia invada a Ucrânia, mas deixa claro que "todas as opções são possíveis". Quando se trata de sanções econômicas, o chanceler alemão prefere não mostrar as "cartas" que estão na mesa. 

O governo de Berlim argumenta que a Alemanha não quer prejudicar seu papel como mediadora da crise e também que é importante não anunciar de antemão quais sanções serão aplicadas no caso de um ataque contra a Ucrânia. Essa tática visaria dificultar que governo russo se prepare para enfrentar possíveis retaliações.

Poucos veículos atravessam a fronteira de Goptivka, a principal região que liga a Rússia à Ucrânia
Poucos veículos atravessam a fronteira de Goptivka, a principal região que liga a Rússia à Ucrânia Sergey BOBOK AFP

Envio de armas

No exterior, o silêncio do líder alemão também levou alguns críticos a levantarem dúvidas sobre o comprometimento da Alemanha com a aliança ocidental diante das agressões russas à Ucrânia. Um dos pontos é a recusa no envio de armas ao país.

A Alemanha continua a rejeitar o envio de armas letais a Kiev e esse posicionamento vem sendo reiterado pelo chanceler Olaf Scholz e pela ministra alemã do Exterior, Annalena Baerbock.

Apesar das pressões, a Alemanha mantém seu princípio de não exportar armamentos letais para zonas em conflito. Essa política já vinha sendo motivo de críticas internacionais no tempo da chanceler Angela Merkel, já que são feitas exceções a essa regra em situações específicas. Afinal, a indústria de armamentos alemã envia armas a países envolvidos em conflitos, como Egito e Israel.

O auge das críticas veio após o governo alemão oferecer à Ucrânia 5 mil capacetes, ao mesmo tempo que se recusa a enviar armamentos.

O chefe de Estado francês Emmanuel Macron e o presidente russo, Vladimir Putin, se reuniram em Moscou para tentar achar uma saída para a crise ucraniana
O chefe de Estado francês Emmanuel Macron e o presidente russo, Vladimir Putin, se reuniram em Moscou para tentar achar uma saída para a crise ucraniana © Crédits : Sputnik, Kremlin Pool Photo via AP

Evitar a guerra

Após críticas de suposta inação em meio à crise com a Rússia, o chanceler alemão, Olaf Scholz, parte para a ofensiva diplomática para tentar aliviar as tensões em torno da Ucrânia. Um dia após o encontro com o presidente americano, Joe Biden, em Washington, o líder alemão se reuniu nesta segunda-feira (7) em Berlim com os presidentes de França e Polônia. 

No encontro, o chanceler alemão, o presidente francês, Emmanuel Macron, e o presidente polonês, Andrzej Duda, se comprometeram a reunir esforços para evitar uma guerra na Europa. “Nosso encontro em Berlim tem um significado específico: três grandes países europeus e a mesma vontade de seguir uma estratégia de evitar o aumento das tensões”, disse Macron. 

Nos próximos dias, o chanceler alemão participará de outras reuniões importantes em torno da crise na Ucrânia, incluindo com os presidentes da Rússia e de Belarus. Depois de ter voltado de Washington e se encontrado Macron e Duda na capital alemã, Scholz deve ir a Kiev e a Moscou segunda e terça-feira da próxima semana. 

O presidente americano Joe Biden recebeu o chanceler aremão Olaf Scholz, no início da semana
O presidente americano Joe Biden recebeu o chanceler aremão Olaf Scholz, no início da semana AP - Alex Brandon

Alemanha quer sair da defensiva

Mas antes disso, há outras reuniões onde o tema está em pauta. Nesta quarta-feira (9), Scholz recebe a chefe de governo da Dinamarca e, nesta quinta-feira (10), os líderes dos países bálticos Estônia, Lituânia e Letônia. Essas nações também estão preocupadas com o acúmulo de tropas russas nas fronteiras ucranianas.

A impressão é que Scholz quer sair da defensiva. Nos últimos dias, seu silêncio sobre a Ucrânia e outros temas como a gestão da pandemia fez despertar críticas na Alemanha. A hashtag em alemão "onde está Scholz" foi uma das mais comentadas nas mídias sociais na semana passada. 

Os índices de popularidade do chanceler caíram, levando os sociais-democratas a serem ultrapassados pelos conservadores na preferência do eleitorado pela primeira vez desde as eleições parlamentares em setembro. Dois meses depois que Scholz assumiu o governo alemão, muita gente começa a sentir falta de Angela Merkel.

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