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Linha Direta

CPI da Covid quer pressionar Araújo e Pazuello a explicarem omissões na pandemia

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Senadores querem explicações de Ernesto Araújo e Eduardo Pazuello sobre a demora na vacinação dos brasileiros. Após se esquivar da CPI, ex-ministro da Saúde vai depor num momento de mais tensão, e o governo sente a pressão nas redes sociais.

O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e o  ex-chanceler Ernesto Araújo devem depor na CPI
O ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e o ex-chanceler Ernesto Araújo devem depor na CPI © Fotomontagem RFI/ Fotos: AP-Pablo Martinez Monsivais-Eraldo Peres
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Raquel Miura, correspondentes da RFI em Brasília

A semana promete temperatura alta nas sessões da CPI da Covid-19 no Senado: pessoas que trabalharam alinhadas ao discurso do presidente Jair Bolsonaro vão prestar depoimento.

Nesta terça-feira (18), foi a vez do ex-chanceler Ernesto Araújo. Ele disse que a compra de vacinas foi coordenada pelo Ministério da Saúde, mas que o Itamaraty agiu para importar insumos usados na produção de cloroquina pois, na época, parecia que a droga seria "promissora" contra a Covid-19.

Araújo foi advertido de que não pode mentir quando afirmou que não atacou a China em declarações que possam ter prejudicado o Brasil. Essa postura de negar ações e falas diplomáticas contra os chineses e de não querer comentar declarações do presidente Bolsonaro tem irritado muitos integrantes da CPI. Alguns parlamentares chegaram a dizer que o diplomata "mente descaradamente" ao dizer que o país não tem problemas na vacinação, que sempre defendeu as vacinas e que participou desde o início do consórcio da Organização Mundial da Saúde (OMS) para distribuição de imunizantes.   

Amanhã, será o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello na ribalta da pressão política, após ter conseguido adiar em duas semanas seu depoimento. A questão é que, nesse período, outros convocados, como o representante do laboratório Pfizer, deram mais munição aos senadores.

“Por um lado, ele ganhou tempo para se preparar e para entender um pouco mais como a CPI tem se posicionado. Mas, por outro lado, ele acaba sendo um alvo de perguntas que vão na direção do governo de forma bastante pontual, especialmente por causa dos últimos depoimentos, que levantaram aspectos importantes e reforçaram problemas nas estratégias, nas decisões de enfrentamento da pandemia. Consequentemente, isso levou a problemas que prejudicam muito as ações”, disse a doutora em ciência política Luciana Santana.

Na quinta-feira (20) quem presta depoimento é Mayra Pinheiro, secretária de Gestão do Trabalho do Ministério da Saúde, conhecida como “Capitã Cloroquina”, por sua defesa do uso do remédio no tratamento contra Covid-19. Ela entrou no Supremo Tribunal Federal (STF) com um pedido de habeas corpus que lhe assegure o direito de ficar calada diante das perguntas dos senadores. Pazuello fez o mesmo e obteve uma vitória parcial.

“O habeas corpus obtido pelo ex-ministro Pazuello é apenas no sentido de que ele pode se calar ao perceber alguma pergunta que pode levar a uma incriminação dele mesmo na condição de depoente. Mas ele não pode ficar calado quando a pergunta versar sobre terceiros ou sobre assuntos que ele presenciou e que não gerem esse risco de autoincriminação. É possível, sim, colher depoimento nessa situação e conseguir obter informações relevantes. Acredito que a CPI vai conseguir ter um momento bastante produtivo nessa sessão do depoimento do ex-ministro Pazuello”, afirmou à RFI o senador Alessandro Vieira, do Cidadania.

Para muitos parlamentares, a estratégia de buscar um escudo no STF evidenciou o medo do governo com o que pode vir dessas investigações. Sem contar que, politicamente, um silêncio diante de uma pergunta contundente tem também seu ônus.

Pressão das redes sociais

Percebe-se nos corredores uma clara apreensão do governo, inclusive com a presença em Brasília, dias atrás, do filho de Bolsonaro, o vereador Carlos, tentando realinhar o discurso nas redes sociais.

Um político governista disse à RFI que o presidente não tem perdido seguidores, mas não encontra mais eco como antes na defesa do “kit covid” ou no menosprezo à pandemia, ao passo que cresceu o apelo pela vacina. Silêncio também se percebeu dos apoiadores diante de aliados que depõem e ficam na defensiva.

A analista Luciana Santana, que é também professora nas universidades federais de Alagoas e do Piauí, diz que a morte de celebridades como o ator Paulo Gustavo pesou nesse cenário.

“Mesmo sendo uma pessoa com recursos para financiar um tratamento de melhor qualidade, nem isso foi suficiente para fazer com que ele se recuperasse. E isso, quer queira ou não queira, faz com que as pessoas comecem a prestar mais atenção. Dá mais visibilidade ao assunto, inclusive com um percentual mais alto de pessoas favoráveis à CPI atualmente, conforme apontam pesquisas”, disse Santana.

Apesar disso, ela não acredita que o presidente irá mudar sua postura, reforçada por declarações recentes do próprio Bolsonaro.

“Tem uns idiotas aí, o 'fique em casa'. Tem alguns idiotas que até hoje ficam em casa. Daí, ficam reclamando de tudo. Quem tem salário fixo ou uma gorda aposentadoria pode ficar em casa a vida toda, sem problema nenhum”, afirmou Bolsonaro a apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada nessa segunda-feira.

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