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Radar econômico

Ao reconhecer governo Talibã no Afeganistão, China mira exploração do cobre

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Com um PIB de US$ 500 per capita de acordo com o Banco Mundial, o Afeganistão - que voltou ao comando dos Talibãs esta semana -  está entre os países mais pobres do mundo. Sua economia baseia-se principalmente na agricultura, que representa um quarto do PIB, excluindo a produção de papoula e emprega 44% da força de trabalho. Mas o país tem um tesouro ainda inexplorado que chama a atenção da China: o cobre. 

Os restos de um antigo local budista nas montanhas áridas de Mes Aynak, no Afeganistão, onde fica a segunda maior mina de cobre do mundo.
Os restos de um antigo local budista nas montanhas áridas de Mes Aynak, no Afeganistão, onde fica a segunda maior mina de cobre do mundo. AFP PHOTO/Roberto Schmidt
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Por Paloma Varón

O Afeganistão continua sendo, acima de tudo, o principal produtor de ópio do mundo, com campos de papoula cada vez mais extensos. Uma economia ilegal que pode representar até um terço de seu PIB. 

O país também abriga reservas de matérias-primas como cobre, ferro, mercúrio, cobalto e lítio, úteis para a indústria da alta tecnologia. Mas quase nenhuma mina é explorada devido à insegurança e falta de investimento.

Para o cientista político afegão Khalid Yousafzai, especialista em políticas energéticas pela Sciences Po de Paris, dos países que já reconheceram o governo dos Talibãs, a China é quem mais tem a ganhar. 

"Em primeiro lugar, a China também está feliz que os Estados Unidos tenham se retirado de seu 'quintal'. E agora eles podem fazer o que eles quiserem neste espaço desgovernado. O Talibã está desesperadamente buscando reconhecimento e atenção e, em troca disso, vai permitir que façam o que quiserem com o país, em termos geopolíticos e econômicos. Para a China, é um grande escopo para expandir suas raízes e interesses no Afeganistão", afirma o especialista. 

Yousafzai sublinha que a China, que já assinou um grande contrato, tem um projeto a longo prazo no país, sempre ligado ao cobre. 

"A China tem um grande interesse no setor de minérios do Afeganistão. Eles assinaram um contrato para explorar as minas de cobre de Mes Aynak, que é uma área de exploração de cobre que vale muitos bilhões de dólares. E isso é apenas o começo. Então o interesse da China no Afeganistão é principalmente explorar estas minas de cobre e influenciar a Ásia Central. Eles já têm o contrato de Mês Aynak e com certeza vão expandir esta atividade para outras áreas", aposta. 

Infra-estrtura para a exploração so cobre

A China também investe em infraestrtutura no Afeganistão, desde que ela esteja ligada à atividade de exploração de minérios. 

Segundo Yousafzai, os chineses têm vários projetos no Afeganistão, especialmente os de infraestrutura para permitir a exploração das minas de cobre. Por exemplo, eles trabalharam na construção da estrada que liga Cabul a Jalalabad, assim como outras estradas importantes. "Eles trabalham bastante no centro do Afeganistão, mas o seu interesse comercial central é na mineração do cobre. Este era parte do acordo: os royalties são mais baixos para a China quando eles investem na infraestrutura da área de mineração. Eles fizeram grandes projetos que podem influenciar o PIB afegão por ao menos 10 ou 20 anos", afirma. 

Para Piere Haski, especialista em geopolítica e presidente da ONG Repórteres sem Fronteiras, o Paquistão é um dos principais países nas novas Rota da Seda liderada por Pequim.

"Há mais de US $ 60 bilhões investidos pela China no Paquistão. E então, existe essa ideia que seria associar o Afeganistão a essa nova Rota da Seda. Isso daria à China uma capacidade de penetração econômica no Afeganistão e seria uma lufada de ar fresco para o Talibã, porque eles sabem que hoje estarão isolados do mundo ocidental", disse o especialista em entrevista à France Info

Irã: águas e commodities

Já os interesses do Irã, segundo Yousafzai, são principalmente no Tratado de Águas, que assinou com o país vizinho, e na venda de commodities: 

"O Irã estava tenso com este tratado de águas com o governo do Afeganistão. Eles queriam renegociar, pois o governo de Ashraf Ghani estava construindo reservatórios ao longo do rio Helmand, que liga os dois países. E isso preocupava o Irã, que temia escassez de água em algumas regiões. Com os Talibãs no poder, o Irã fica feliz de lhes dar reconhecimento em troca de não ter tantas restrições na questão da água", disse. 

Segundo o cientista político, com a saída do poder dos Talibãs, há vinte anos, o Paquistão, que dominava o mercado afegão, foi lentamente sendo substituído pelo Irã. 

"A indústria iraniana adorou esta oportunidade de ter mais espaço no mercado afegão. Em Cabul ou a Jalalabad, há vinte anos, entre 80% e 90% das prateleiras dos supermercados tinham produtos paquistaneses. Hoje, a maioria é iraniana. O Afeganistão é um mercado para as commodities do Irã e eles certamente não vão querer estragar isso; vão trabalhar com quem esteja no poder", analisa. 

Retirada dos EUA

A guerra que os Estados Unidos travaram no Afeganistão, além das vidas, custou ao país US$ 800 bilhões, segundo o Pentágono, mas o custo real pode ser o dobro. 

Especialistas dizem que parte do investimento americano no exército afegão serviu exatamente para financiar – por meio da venda ilegal de armas e munições – as forças do Talibã, que hoje governam o país. 

A saída dos Estados Unidos do Afeganistão abre caminho para que países como China, Rússia e Irã explorem o mercado e os recursos do país, agora governado pelo Talibã. 

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