Salman Rushdie representa “concepção de mundo que fundamentalistas querem aniquilar”, avalia revista
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As revistas francesas desta semana destacam o atentado contra o escritor Salman Rushdie, autor do livro “Versos Satânicos” e que foi ferido num ataque nos Estados Unidos no dia 12 de agosto. A foto dele ocupa a capa da revista Le Point, na qual se lê a palavra “aviso” e a mensagem de que “a liberdade de expressão nunca foi tão ameaçada”.
A reportagem de 20 páginas e recheada de fotos conta a vida do escritor sob o medo constante, após ter sido condenado a uma fatwa do aiatola Khomeyni, em 1989. Desde então, ele vive escondido e sob um forte esquema de segurança. Mas enquanto até seus editores e tradutores são intimidados, Rushdie mantém “a serenidade e o bom humor, mesmo na tragédia”, diz o texto.
Nascido numa família muçulmana laica da burguesia indiana, Salman Rushdie é descrito como “um homem sem Deus, mas fascinado pelo nascimento do Islã”. A reportagem descreve o conteúdo do livro que lhe custou a ira dos religiosos iranianos: uma obra de mais de 500 páginas em que o profeta Maomé é confrontado à ideia de que o politeísmo pode ser possível.
“Não existe blasfêmia na democracia”, disse o autor, certa vez em uma entrevista. “Não me arrependo de nada”, disse em outro momento, citando a famosa canção de Édith Piaf.
A revista L’Obs aborda a vida de Salman Rushdie desde a infância em Mumbai, o período de estudos em Cambridge até a conquista do prestigioso British Booker Prize, em 1981, com o livro Midnight's Children. Oito anos depois, o autor seria surpreendido com a sentença de morte proferida pelo líder supremo iraniano.
De acordo com o texto, “o caso Rushdie envenena as relações diplomáticas entre o Reino Unido e o Irã, embora o novo líder supremo do país, Mohammad Khatami, tenha dado a entender em 1998 que voltava atrás”. Porém, conforme destaca a revista, “Rushdie é um símbolo ao qual os fundamentalistas se agarram, uma concepção do mundo que eles querem aniquilar”.
A revista L’ Express aborda “como os islamitas amordaçaram os livres-pensadores”. A revista destaca o assassinato do tradutor japonês de Salman Rushdie e as tentativas de homicídio que sofreram aqueles que traduziram ou editaram seus romances para o italiano, o norueguês e o turco”, com atentados a faca, a bala ou mesmo com incêndios voluntários.
A reportagem cita ainda outros casos parecidos, como o ataque ao jornal satírico Charlie Hebdo, na França, em novembro de 2011, e os atentados que se seguiram em Paris, em janeiro de 2015.
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