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A Semana na Imprensa

Revista revela incrível história de jornalista francês que foi espião para tchecos na Guerra Fria

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Os franceses descobriram nos últimos dias um incrível caso de espionagem do período da Guerra Fria. A revista L'Obs revelou que um influente jornalista, ex-redator-chefe do centenário jornal Le Canard Enchaîné, foi espião para a polícia política comunista da Tchecoslováquia nas décadas de 1950 e 1960. 

Uma jornalista lê a edição de 1° de fevereiro de 2017 do jornal satírico francês Le Canard Enchaîné, em Paris.
Uma jornalista lê a edição de 1° de fevereiro de 2017 do jornal satírico francês Le Canard Enchaîné, em Paris. AFP - CHRISTOPHE ARCHAMBAULT
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Como jornalista, o francês usava o pseudônimo de Jean Manan; enquanto espião, seu codinome era "Torneira". Seu verdadeiro nome, no entanto, é Jean Clémentin. Ele ainda está vivo, tem 98 anos, mora em Paris e não dá entrevistas, protegido por familiares. 

O jornalista da L'Obs que revela essa história de espionagem até então desconhecida é Vincent Jauvert. Ele obteve de um historiador tcheco 1.500 páginas de documentos de arquivos desclassificados, escritos no idioma do leste, que contam a vida dupla de Jean Clémentin. 

Nos anos 1950, a Europa está dividida entre democracias capitalistas a oeste e ditaduras comunistas a leste, separadas pela "Cortina de Ferro", uma configuração herdada da Segunda Guerra Mundial. As polícias políticas do leste socialista recrutam espiões em troca de importantes somas de dinheiro. É assim que o jornalista francês é cooptado pelos serviços tchecos e passa a atuar sob o codinome de "Torneira". Segundo a reportagem, ele teria aceito a proposta porque precisava de dinheiro para sustentar cinco amantes.  

A revista conta que Clémentin, filho de militares e educado em uma família de direita, mudou de lado depois de uma viagem à Indochina. Ele teria tomado consciência da brutalidade da colonização francesa naquela região, hoje formada por Vietnã, Laos e Camboja. No retorno, decepcionado com os males da colonização, o jornalista se aproxima do Partido Comunista Francês, onde conhece oficiais do leste. Daquele momento em diante, ele é recrutado como agente de influência e espião para a Tchecoslováquia.

Doze anos de serviços prestados aos tchecos

Durante 12 anos, o jornalista francês se encontra várias vezes por mês com oficiais tchecos, em cem locais diferentes. "Torneira" redige 300 notas de informação sobre o governo francês para os comunistas e participa de três campanhas de desinformação, publicando no jornal onde trabalha matérias ditadas pelo regime comunista tcheco. 

Por ironia do destino, o francês será delatado pelo diretor das campanhas de desinformação da Tchecoslováquia, que depois da Primavera de Praga vai para os Estados Unidos e trai as ditaduras comunistas do leste, revelando os nomes dos informantes cooptados nos países capitalistas. Os serviços de inteligência franceses instalam, então, um sistema de escuta na redação do Le Canard Enchaîne.

Tempos depois, a descoberta desses grampos estoura como um escândalo de espionagem inadmissível da imprensa. Ninguém mais ousa mexer com a redação do "Canard", e o jornalista traidor segue protegido em sua carreira. Clémentin deixa a cobertura política e passa a escrever sobre literatura. A reportagem da L'Obs não compromete a vida do idoso espião, pois os crimes prescreveram.   

O Le Canard Enchainé é um veículo histórico do jornalismo francês. Criado como um jornal satírico, em 1915, com edição semanal às quartas-feiras, foi censurado durante a Segunda Guerra Mundial. A partir dos anos 1960, tornou-se um jornal investigativo de renome por revelar escândalos da vida política francesa.

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