Jornalista palestino que perdeu toda a família em Gaza continua atuando direto do território em guerra
Os jornalistas de Gaza não são poupados pela guerra entre o Hamas e Israel. Uma das figuras que personifica esta luta pela informação é Wael al-Dahdouh, correspondente e chefe do escritório da Al Jazeera na Faixa de Gaza. Ele perdeu um filho, Hamza, também jornalista, em um ataque israelense no domingo (7).
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Wael al-Dahdouh desmaiou diante do corpo do filho. O homem, de 50 anos, já tinha perdido a mulher, dois outros filhos e um neto num bombardeamento israelense em outubro.
“É verdade que o sofrimento é muito grande e a dor ainda maior”, comenta Wael. "O preço é muito, muito, muito alto, porque Hamza era tudo para mim. Ele era minha alma e meu oxigênio", disse. O filho prestou homenagem ao pai um dia antes de sua morte na rede social X.
إنك الصابر المحتسب يا أبي، فلا تيأس من الشفاء ولا تقنط من رحمة الله وكن على يقين أن الله سيجزيك خيرًا لما صبرت•••#غزة #وائل_الدحدوح #معلش @WaelDahdouh pic.twitter.com/l1ZQMJMTd0
— Hamza Dahdouh (@hamzadah1996) January 6, 2024
Ao lado do corpo, como durante os funerais de seus outros familiares, o pai, de luto, ainda usa seu colete à prova de balas. Algumas horas depois ele já estava de volta ao trabalho. Apesar do sofrimento, o jornalista – ele próprio ferido num atentado à bomba –, num vídeo divulgado na rede social X, diz que está emocionado com a importância da sua missão.
“Este preço e esta dor certamente não nos impedirão de continuar neste caminho”, confirma Wael al-Dahdouh. Não hesitaremos e não pararemos um só momento enquanto estivermos vivos. Porque é uma mensagem humanitária nobre, sagrada e garantida por todas as leis e convenções internacionais e humanitárias."
No mundo árabe, onde muitos lares estão sintonizados na Al Jazeera, Wael al-Dahdouh tornou-se um símbolo de coragem e força. E com o acesso ao enclave, proibido a qualquer jornalista externo, este palestino é hoje uma das raras vozes que podem dizer ao mundo o que está acontecendo na Faixa de Gaza em guerra.
A Procuradoria do Tribunal Penal Internacional (TPI) confirmou que está investigando crimes cometidos contra jornalistas na sitiada Faixa de Gaza.
“Os jornalistas estão protegidos pelo direito humanitário internacional (…) e não devem, em circunstância alguma, ser alvos no exercício da sua importante missão”, lembrou nesta terça-feira o TPI, anunciando que incluiu, portanto, esta dimensão na sua investigação sobre crimes de guerra no enclave palestino.
A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) pediu ao TPI que investigasse estes crimes. Ela contou pelo menos 79 jornalistas e outros profissionais da mídia mortos pelo Exército israelense desde o início da guerra em Gaza.
Ataque à ambulância mata socorristas
“Um ataque a uma ambulância (realizado) pelo Exército israelense em Deir el-Balah” deixou seis mortos. Entre eles, “quatro são socorristas do Crescente Vermelho palestino”, informou a organização na rede social X.
🚨The Palestine Red Crescent Society condemns the killing of 4 PRCS ambulance crew members 🚑and 2 transported injuries by the Israeli Occupation forces and calls on the international community to immediately act to protect PRCS medical missions#NotATarget ❌#IHL#Gaza pic.twitter.com/UXxBoptLqS
— PRCS (@PalestineRCS) January 10, 2024
"Duas outras pessoas que estavam na ambulância no momento do ataque ficaram feridas e morreram mais tarde”, acrescentou o movimento.
A ambulância estava na rua Salaheddine, na entrada de Deir el-Balah, a principal artéria que atravessa a Faixa de Gaza de norte a sul. Procurado pela AFP, o Exército israelense não comentou o ataque.
"É inaceitável. Condeno veementemente esse assassinato", denunciou no X o secretário-geral da Federação Internacional das Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho (FICV), Jagan Chapagain.
"A proteção dos pacientes e cuidadores não é negociável. Eles nunca devem ser alvos", acrescentou.
Na manhã desta quarta-feira, o ministério da Saúde do Hamas disse que várias pessoas foram mortas num ataque israelense perto de um hospital no bairro de Deir el-Balah.
Mais de 120 ambulâncias foram destruídas e 326 profissionais de saúde foram mortos desde 7 de outubro em Gaza, segundo o ministério.
“O sistema de saúde de Gaza já está de joelhos e o pessoal da saúde, tal como os trabalhadores humanitários, estão continuamente bloqueados nos seus esforços para salvar vidas por causa das hostilidades”, denunciou na semana passada o chefe da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, reagindo ao bombardeio das instalações do Crescente Vermelho em Khan Younes (sul).
(Com RFI e AFP)
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