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Drag queens podem ser criminalizadas como 'grupos extremistas ' e serem proibidas na Rússia

Em meados de novembro, o Ministério da Justiça da Rússia solicitou que o "movimento LGBT internacional" fosse classificado como uma "organização extremista" e banido. A Suprema Corte deve analisar essa solicitação nesta quinta-feira (30).

Imagem ilustrativa. A drag queen Scalene Onixxx (à direita) gesticula ao lado de Athena Kills (à esquerda) enquanto lê durante a Drag Queen Story Hour na Cellar Door Books em Riverside, Califórnia - uma iniciativa criada para promover a diversidade e a aceitação.
Imagem ilustrativa. A drag queen Scalene Onixxx (à direita) gesticula ao lado de Athena Kills (à esquerda) enquanto lê durante a Drag Queen Story Hour na Cellar Door Books em Riverside, Califórnia - uma iniciativa criada para promover a diversidade e a aceitação. AFP
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Se a medida for validada na Rússia, qualquer atividade associada à orientação sexual "não tradicional" - o termo usado pelas autoridades russas para designar relações heterossexuais cisgênero - poderá ser punida como "extremismo", um crime punível com pesadas penas de prisão.

Multas pesadas, por enquanto

Em um apartamento em Moscou, Igor maquia os olhos de sua drag queen Saffron com delineador roxo e aplica cílios postiços. Em poucos dias, tudo isso poderá ser proibido na Rússia.

Até o momento, as pessoas LGBTQIA+ estão sujeitas a multas pesadas sob o regime de Putin, mas não à prisão, por não cumprirem a legislação existente, já reforçada no ano passado, que proíbe a "propaganda" homossexual. Mas, nesse caso, a justiça russa pode ir muito além.

"O que estamos fazendo não é extremismo", protesta a drag queen Saffron, usando uma jaqueta vermelha e sutiã de lantejoulas. Ela falou à agência AFP durante uma sessão de maquiagem no apartamento de seu amigo Igor, em um subúrbio de Moscou.

Com 20 anos de idade, Saffron, cujo registro civil é o de um homem chamado Valera quando não está em seu personagem, começou a se apresentar em shows de drag há três anos. São "performances variadas", ela explica.

"Você pode ter alguém que cria uma imagem hipersexualizada (...) Depois, um número muito dramático que faz as pessoas quererem chorar e questionar suas vidas. Depois, um número totalmente cômico", conta.

No palco, Saffron prefere "números muito teatrais" nos quais tenta falar com o público sobre coisas que "eles nunca teriam pensado antes".

"O que mais me assusta é que estamos perdendo essa diversidade de pensamentos, pessoas e criatividade interessantes", preocupa-se a jovem drag queen. Saffron também teme pela "segurança" de seus amigos da comunidade drag e LGBTQIA+.   

"Comportamentos desviantes"

Para Igor - ou Kate Strafi quando se transforma em uma drag queen - os atuais procedimentos da Suprema Corte são o próximo passo lógico na Rússia. "Já não podemos andar de mãos dadas pela rua, nem nos abraçar (...). Não havia nenhuma abertura antes e, logicamente, não haverá mais", diz o jovem de 29 anos.

Na última década, os direitos das pessoas LGBTQIA+ foram drasticamente restringidos durante o governo de Vladimir Putin, que, juntamente com a Igreja Ortodoxa, alega querer eliminar da esfera pública comportamentos considerados desviantes e importados do Ocidente.

Desde 2013 na Rússia, uma lei proíbe a "propaganda" de "relações sexuais não tradicionais" dirigida a menores de idade, um texto denunciado pelas ONGs como um instrumento de repressão homofóbica.

Essa lei foi consideravelmente ampliada no final de 2022. Ela agora proíbe a "propaganda" LGBT+ dirigida a todos os públicos, na mídia, na Internet, em livros e filmes.

Em julho deste ano, os deputados russos também aprovaram uma lei voltada para pessoas transgênero, proibindo suas transições, incluindo cirurgias e terapias hormonais.

Putin também se lança regularmente em diatribes antiocidentais, no centro das quais ele frequentemente coloca a tolerância às pessoas LGBTQIA+.

"Distrair a sociedade de problemas reais"

"A única luz no horizonte é deixar o país, porque eles vão continuar apertando o cerco ao nosso redor, e é improvável que isso mude", lamenta Igor. Em sua opinião, essas medidas foram criadas para "distrair a sociedade dos problemas reais" que o país enfrenta.

Suicídios

Para ele, essa repressão está infligindo um "trauma enorme" às pessoas LGBT+ que vivem na Rússia. "Há muitos suicídios", diz ele. Nos últimos anos, ele explica que tomou medidas para aumentar a segurança em seus shows. Por exemplo, removeu a bandeira do arco-íris e proibiu o público de tirar fotos durante as apresentações.

Saffron diz que não vai desistir, apesar dos riscos. "Eu gostaria de ter a força interior para continuar vivendo, para viver com sinceridade", diz.

"Se você não acha que o que estamos fazendo é certo, então não se interesse por drags. Deixe as pessoas viverem suas vidas", argumenta.

(Com AFP)

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