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Histórico de colonização justifica 'fortes reações' da América Latina a ataques de Israel em Gaza

A guerra entre Israel e o Hamas evidencia cada vez mais a decomposição da ordem diplomática mundial. Em pouco mais de um mês, o conflito embaralhou as cartas das relações entre os países e incendeia o Oriente Médio. Para a imprensa francesa, a América Latina, marcada pela colonização e ingerência europeias, não hesita em contestar a ofensiva israelense. 

Palestinos que fogem da Cidade de Gaza e de outras partes do norte da Faixa de Gaza caminham em direção às áreas do sul ao longo de uma estrada, em 10 de novembro de 2023, devido aos combates entre o Hamas e o Exército israelense.
Palestinos que fogem da Cidade de Gaza e de outras partes do norte da Faixa de Gaza caminham em direção às áreas do sul ao longo de uma estrada, em 10 de novembro de 2023, devido aos combates entre o Hamas e o Exército israelense. © Mahmud Hams / AFP
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O jornal Libération faz um balanço do estado da diplomacia mundial depois do fatídico 7 de outubro. Enquanto as divergências são cada vez mais evidentes na Europa sobre a questão, a guerra pausa o processo de normalização das relações entre os países árabes e Israel. O conflito aproximou a China e o Irã, inimigo histórico de Tel Aviv, e suscita também uma posição ambígua da Rússia, já isolada por causa da guerra na Ucrânia.

Enquanto a África permanece "prudente e silenciosa", lidando com suas divisões internas, a América Latina não teme se posicionar sobre o conflito, com "palavras e apoio forte aos palestinos", avalia o Libération. O diário lembra que a Bolívia foi o primeiro país no mundo a romper as relações com Israel, em 31 de outubro, alegando "crimes de guerra" na Faixa de Gaza.

O país foi seguido por Chile e Colômbia, que convocaram seus embaixadores em Tel Aviv, evocando "violações inaceitáveis do direito internacional" e o "massacre do povo palestino". A matéria também destaca as palavras do presidente Lula que classificou a guerra como "um genocídio" e lamentou a morte de milhares de crianças na Faixa de Gaza. O assessor especial da presidência do Brasil para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, também usou a palavra genocídio ao discursar em uma conferência humanitária em apoio a Gaza realizada em Paris na quinta-feira (9)

Entrevistado pelo diário, Christophe Ventura, diretor de pesquisa do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas da França (Iris), especialista em América Latina, avalia o apelo unânime da região em prol de um cessar-fogo, da ajuda humanitária e de uma negociação política com base em resoluções da ONU. Em sua opinião, o posicionamento pode ser explicado pelo passado de ingerência e colonização, que suscita uma forte sensibilidade e respeito do direito internacional. "Para estes [latino-americanos], o conflito israelo-palestino é um conflito colonial, que remete à ocupação ilegal de terras por Israel", ele avalia.

Indignação no Oriente Médio

"A revolta aumenta nos países árabes diante do sofrimento da população de Gaza", é o título de uma matéria do jornal Le Figaro. "De Rabat a Túnis, de Amã a Bagdá, passando por Cairo e Beirute, 'a rua árabe' mostra sua solidariedade aos palestinos de Gaza, ao mesmo tempo em que denuncia o 'dois pesos, duas medidas' dos países ocidentais, considerados extremamente favoráveis ​​a Israel", afirma o diário.

A matéria salienta que, no Oriente Médio, as milhares de crianças e mulheres mortas incessantemente há um mês suscita uma forte indignação. Mesmo países como o Líbano, em que o apoio à causa palestina é geralmente diluído pelas diversas estruturas confessionais, não esconde a reprovação diante do massacre da população palestina. "A loucura israelense em Gaza faz com que muitos libaneses que não apoiam o Hezbollah digam: 'ainda bem que ele existe'", afirma Nabil Fawaz, empresário de Beirute, ao jornal Le Figaro

Já o diário La Croix aborda a posição de mediador que o Catar assumiu no conflito, especialmente na questão da libertação dos reféns detidos pelo Hamas. A atuação do país é elogiada até mesmo por Israel, que classifica os esforços de Doha como "cruciais".

Após ter conseguido negociar com o grupo islâmico a libertarção de quatro reféns, o Catar dialoga no momento para tentar tirar do cativeiro entre 12 e 15 pessoas, em troca de uma pausa humanitária de até três dias. La Croix destaca que as negociações também tentam estabelecer uma lista detalhada dos reféns e seu estado de saúde. De acordo com os dados de Tel Aviv, cerca de 240 pessoas, entre israelenses, estrangeiros e pessoas com dupla nacionalidade, estariam nas mãos do Hamas desde os ataques de 7 de outubro.  

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