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Armênios se solidarizam para receber refugiados de Nagorno-Karabakh

Mais de 65 mil refugiados chegaram à Armênia desde domingo, 24 de setembro, quando o Azerbaijão lançou uma ofensiva relâmpago no enclave de Nagorno-Karabakh. O fluxo de pessoas causa um complexo quebra-cabeças para as autoridades e a população de Goris, pequena cidade situada após a passagem pelo engarrafado corredor de Latchine.

Refugiado de Nagorno-Karabakh sendo levando para um alojamento de emergência em Goris, Armênia, 25/09/23.
Refugiado de Nagorno-Karabakh sendo levando para um alojamento de emergência em Goris, Armênia, 25/09/23. © IRAKLI GEDENIDZE / REUTERS
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Com informações de Daniel Vallot, enviado especial da RFI a Goris e AFP

O n­úmero de refugiados que chegaram à Armênia ultrapassa 65 mil, segundo dados divulgados por Ierevan nesta quinta-feira (28), o que representa mais da metade dos habitantes da região de Nagorno-Karabakh.

A operação militar do Azerbaijão na região, no domingo, deixou mais de 400 mortos entre os dois lados.

Paralelamente, quase 100 pessoas foram declaradas desaparecidas após a explosão de um depósito de combustíveis na noite de segunda-feira (25) no enclave, uma tragédia que deixou 68 mortos e 290 feridos.

Até a semana passada, 120 mil armênios viviam no enclave, reconhecido pela comunidade internacional como parte integrante do Azerbaijão.

No domingo, o Azerbaijão abriu para circulação a única estrada que liga Nagorno-Karabakh à Armênia, quatro dias após a rendição dos separatistas e da assinatura de um acordo de cessar-fogo que deu a Baku o controle da região.

A Armênia, majoritariamente cristã, e o Azerbaijão, predominantemente muçulmano, travaram duas guerras na região de Nagorno-Karabakh desde o colapso da União Soviética em 1991.

Em meio ao êxodo, os guardas de fronteira do Azerbaijão tentam detectar supostos "criminosos de guerra" entre os refugiados, afirmou à AFP uma fonte do governo de Baku.

Nesta quarta-feira, um ex-líder separatista armênio, Ruben Varadanyan, que comandou o governo separatista de Nagorno-Karabakh de novembro de 2022 a fevereiro deste ano, foi detido quando seguia para a Armênia pela rodovia, anunciaram as autoridades do Azerbaijão.

Ruben Vardanyan, ex-oficial do alto escalão na administração separatista armênia em Nagorno-Karabakh foi preso pela polícia de fronteira do Azerbaijão. Foto distribuída em 27/09/23.
Ruben Vardanyan, ex-oficial do alto escalão na administração separatista armênia em Nagorno-Karabakh foi preso pela polícia de fronteira do Azerbaijão. Foto distribuída em 27/09/23. via REUTERS - STATE BORDER SERVICE OF AZERBAIJ

Crise humanitária

A cidade fronteiriça de Goris, onde a maioria dos refugiados faz a sua primeira parada, está quase irreconhecível. Centenas de carros invadiram suas ruas, onde reina o caos, diante dos olhares atônitos dos policiais, incapazes de direcionar o trânsito com seus megafones.

Edo, sentado em um banco, com uma pequena mala e sacolas plásticas cheias, conta à RFI como foi a fuga com a família, diante do avanço dos soldados do Azerbaijão. “Eles cercaram a cidade, então tivemos de partir." Edo, sua mulher, a filha e um filho com deficiência, ficaram durante uma semana em uma base militar russa. “Não havia nada para comer, sobrevivemos como pudemos e agora estamos aqui.”

A intervalos regulares, Edo ergue o filho de 26 anos para reposicioná-lo mais confortavelmente na cadeira de rodas. “Minha mulher cuida dos registros junto às autoridades, mas eu preciso ficar com meu filho, para ajudá-lo a ir ao banheiro, dar de comer. Preciso estar a seu lado o tempo todo”, explica.

“Trabalhei 30 anos, construí uma casa e perdi tudo”

Edo espera o retorno da mulher, sem saber se vão continuar em Goris ou partir para outro lugar da Armênia. “Trabalhei 30 anos, construí uma casa e perdi tudo”, conta. Ele acrescenta que trouxeram apenas roupas e uma reserva equivalente a € 500”.

A população local se mobiliza para ajudar os refugiados. “Viemos ajudar, sabemos que eles têm fome e sede”, diz o jovem comerciante Hayk, que junto com os amigos são voluntários no acolhimento.

Muitas pessoas chegam de outras cidades para contribuir. “Eu sabia que precisavam de ajuda aqui. As pessoas querem ir para algum lugar. Peguei o carro e acabei de chegar", conta um motorista de táxi. "Estou esperando para saber qual família devo levar a Ierevan. Sei que essas pessoas perderam tudo. Então para mim é importante ajudar como puder”.

“Goris é uma cidade muito pequena, a situação é caótica, falta gente para ajudar”, conta à RFI por telefone, da capital Ierevan, a estudante Ani. “Mas o governo pede que não saiam de Goris, para que sejam registrados e depois sejam relocados. A cidade está cheia, hotéis e pousadas estão lotadas, as pessoas dormem em carros. Mas a população local também está recebendo os refugiados de coração aberto, isso é positivo”.

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