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Japão abre linha de escuta para vítimas de abuso; cantor nipo-brasileiro denunciou empresário

O governo japonês abriu nesta sexta-feira (22) uma linha telefônica de escuta para homens agredidos sexualmente. O anúncio é consequência do escândalo envolvendo um empresário, que morreu em 2019, acusado de abusar durante décadas rapazes integrantes de bandas pop. O cantor Kauan Okamoto, filho de brasileiros, fez uma denúncia pública contra Johnny Kitagawa em abril.

Shimon Ishimaru, Junya Hiramoto, Kazuya Nakamura e Yasunobu Shiga (da esquerda para a direita),integrantes da associação de vítimas de agressão sexual do empresário, durante entrevista coletiva em Tóquio, em 7 de setembro de 2023.
Shimon Ishimaru, Junya Hiramoto, Kazuya Nakamura e Yasunobu Shiga (da esquerda para a direita),integrantes da associação de vítimas de agressão sexual do empresário, durante entrevista coletiva em Tóquio, em 7 de setembro de 2023. AP
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Com informações de Frédéric Charles, correspondente da RFI no Japão

Durante os próximos três meses, rapazes e homens poderão se beneficiar de consultas telefônicas após o escândalo desencadeado por revelações de agressões sexuais cometidas ao longo de décadas por Johnny Kitagawa. A linha de apoio vai colocar as vítimas em contato com psicólogos, centros especializados e polícia.

Os rumores corriam desde 1999, quando dois repórteres de uma revista japonesa publicaram testemunhos de vários adultos que, quando jovens, teriam sido agredidos por Kitagawa em um dormitório que ele mantinha em sua casa para alojar os candidatos ao estrelato.

No começo deste ano, o escândalo estourou com a exibição de um documentário da BBC com depoimentos de vítimas que falavam sobre os abusos cometidos pelo empresário, criador de grupos de sucesso. Eles descreveram como eram submetidos a atos sexuais em troca de trabalho.

Fama em troca de abuso

Em abril, o cantor Kauan Okamoto, nascido no Japão e filho de brasileiros, convocou uma coletiva de imprensa onde falou publicamente sobre o comportamento de Kitagawa.

O cantor nipo-brasileiro Kauan Okamoto fala sobre os abusos sexuais que sofreu pelo produtor Johhny Kitayama, morto em 2019, aos 87 anos. Tóquio, 12/04/23.
O cantor nipo-brasileiro Kauan Okamoto fala sobre os abusos sexuais que sofreu pelo produtor Johhny Kitayama, morto em 2019, aos 87 anos. Tóquio, 12/04/23. AFP - KAZUHIRO NOGI

“Espero que outras vítimas também apareçam”, disse Okamoto na entrevista, organizada pelo Clube de Correspondentes Estrangeiros do Japão. Ele afirmou acreditar que "de 100 a 200 jovens" que trabalharam para a agência também foram agredidos por Kitagawa. “Também quero que os diretores da agência, e o próprio Johnny, se estivesse aqui hoje, saibam o que aconteceu e garantam que isso não volte a acontecer.”

Okamoto afirmou que na primeira vez que Kitagawa abusou dele, o empresário se deitou em sua cama, começou a tocar os órgãos genitais do jovem e o submeteu a uma relação. No dia seguinte, Kitagawa lhe entregou 10 mil ienes (R$ 375), sem revelar o motivo, disse o artista.

Embora já exista um número telefônico para denúncias sexuais, essa linha foi criada para vencer a relutância das vítimas masculinas.

Em setembro, integrantes da ainda influente agência Johnny and Associates, reconheceram as denúncias e pediram desculpas públicas às vítimas e ao público.

Johnny Kitagawa morreu em 2019, aos 87 anos, e teve um enterro de celebridade. A justiça japonesa ainda não abriu uma investigação sobre as denúncias.

Morte de Johnny Kitagawa é anunciada pela TV, em 2019.
Morte de Johnny Kitagawa é anunciada pela TV, em 2019. Kazuhiro NOGI / AFP

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