Ucrânia: ONG denuncia consequências 'devastadoras' da guerra para os órfãos

A ONG Human Rights Watch (HRW) denunciou nesta segunda-feira (13) as consequências "devastadoras" da invasão russa sobre órfãos ucranianos. A organização afirma que "milhares" dessas crianças teriam sido "transferidas à força" para a Rússia ou territórios sob ocupação de Moscou.

Parlamento da Rússia mudou legislação para dar cidadania russa a crianças ucranianas, e autoridades russas afirmam que "centenas de crianças ucranianas foram adotadas", em meio a padrões internacionais que proíbem adoções internacionais durante conflitos armados, alerta a HRW. © Alexander NEMENOV / AFP

"A Rússia deve acabar com essas deportações", declarou a ONG em um comunicado. "O retorno de crianças que foram capturadas ilegalmente pelas forças russas deve ser uma prioridade internacional", continua o texto.

A HRW também instou a Ucrânia a reformar "urgentemente" seu sistema de atendimento a essas crianças, já que o país, que antes da invasão tinha mais de 105 mil crianças colocadas em instituições - cerca de metade delas deficientes - é "o maior número total da Europa, atrás da Rússia".

“Pelo menos alguns milhares” de crianças ucranianas passíveis de adoção foram transferidas para a Rússia ou para territórios que Moscou ocupa na Ucrânia, o que é considerado “um crime de guerra”, acusou a ONG, se apoiando em declarações de autoridades russas, bem como de ativistas e advogados ucranianos.

O parlamento da Rússia mudou a legislação para dar cidadania russa a crianças ucranianas, e autoridades russas afirmam que "centenas de crianças ucranianas foram adotadas", apesar dos padrões internacionais que proíbem adoções entre países durante conflitos armados, acrescentou a HRW.

Ukraine: Perils of War for Children in Institutions https://t.co/AakWhfM931

— Human Rights Watch (@hrw) March 13, 2023

Sem falar por 4 dias  

Na Ucrânia, a guerra provocou uma deterioração das condições das crianças acolhidas, enquanto "dezenas de orfanatos ucranianos foram danificados ou destruídos", continuou a ONG.

Muitos menores, portanto, "tiveram que se abrigar em porões durante os bombardeios, sem eletricidade ou água corrente, por semanas", escreveu a HRW em seu relatório sobre o tema.

“Um grupo de crianças de uma instituição em Mariupol” (sul), espancado pelo exército russo durante o cerco na primavera de 2022, “ficou sem falar durante quatro dias após ter sido resgatado” no oeste da Ucrânia, relatou a ONG, citando um voluntário.

Diante dos combates, muitas crianças foram deslocadas para áreas menos afetadas ou para o exterior, principalmente para a vizinha Polônia. Nestas condições, a HRW apelou ao governo ucraniano para implementar "urgentemente" as reformas prometidas no seu sistema institucional para o cuidado de crianças órfãs.

Mais de 4,5 mil jovens ucranianos

A HRW também exigiu que os aliados ocidentais de Kiev, os principais doadores para ajudar a Ucrânia a manter seu sistema social, "apoiem a conquista desses objetivos" e adotem "uma estratégia coordenada para garantir o bem-estar das crianças".

O financiamento e as doações feitas devem "apoiar o retorno das crianças aos pais ou outros ambientes de tipo familiar, e não diretamente a orfanatos", pede a HRW em suas recomendações emitidas no relatório.

Desde o início do conflito, em 24 de fevereiro de 2022, "mais de 4,5 mil" jovens ucranianos adotivos "foram transferidos para o exterior", de acordo com a ONG.

(Com informações da AFP)