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Falta de medidas favorece corrupção na América Latina, diz ONG Transparência Internacional

Os elevados níveis de corrupção na América Latina e a ausência de medidas para combater o problema favorecem as redes criminosas e aprofundam a violência em uma região com taxas de homicídio altas, adverte a organização Transparência Internacional (TI) em seu relatório anual, divulgado nesta terça-feira (31). Em escala que vai de zero a 100, o Brasil alcançou 38 pontos. 

A hondurenha Isabel Santos Escobar chora ao lado do caixão de seu filho, Eddy Fernando Cabrera, 18 anos, executado junto com outros quatro jovens em Tegucigalpa, Honduras. Segundo a ONG Transparência Internacional, a falta de evolução na luta contra a corrupção "levou ao enfraquecimento das instituições democráticas e ao aumento da violência" na América Latina.
A hondurenha Isabel Santos Escobar chora ao lado do caixão de seu filho, Eddy Fernando Cabrera, 18 anos, executado junto com outros quatro jovens em Tegucigalpa, Honduras. Segundo a ONG Transparência Internacional, a falta de evolução na luta contra a corrupção "levou ao enfraquecimento das instituições democráticas e ao aumento da violência" na América Latina. AP - Fernando Antonio
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Desde 1995, o Índice de Percepção da Corrupção da Transparência Internacional classifica anualmente 180 países e territórios em uma escala que vai de zero (muito corruptos) a 100 (muito honestos), usando os dados de instituições como o Banco Mundial ou de empresas privadas de consultoria.

Dinamarca (90), Finlândia (87) e Nova Zelândia (87) permanecem como os países menos corruptos do mundo, de acordo com o relatório. Somália (12), Síria (13) e Sudão do Sul (12) têm os piores índices de percepção de corrupção.

Os dados globais revelam uma estagnação da luta contra a corrupção e destacam a relação entre este flagelo e a violência. "A corrupção e o conflito se retroalimentam e ameaçam a paz duradoura", afirma o relatório. O fenômeno é particularmente visível na América Latina.

Os países com menores pontuações geralmente estão em guerra ou enfrentam surtos de violência. Este é o caso de Venezuela (14), Haiti (17), Nicarágua (19) e Honduras (23), que têm as piores notas da América Latina.

Nestes países, as linhas entre instituições públicas e redes criminosas são tênues, aponta a ONG. O índice dos últimos três diminuiu consideravelmente desde 2017.

Uruguai (74) e Chile (67) são os países com as melhores pontuações da região, seguidos pela Costa Rica (54), que registrou sua menor pontuação histórica devido a casos recentes de corrupção e denúncias de suposto financiamento ilícito da campanha eleitoral do atual presidente Rodrigo Chaves.

Os demais países da América Latina têm pontuações inferiores a 50, como Cuba (45), Colômbia (39), Argentina, Brasil (38), Equador, Panamá, Peru (36), El Salvador, República Dominicana (33), Bolívia, México (31) e Paraguai (28).

Avanço do crime organizado

A falta de evolução na luta contra a corrupção "levou ao enfraquecimento na região das instituições democráticas e ao aumento da violência, assim como o avanço do crime organizado nas instituições públicas", alerta Luciana Torchuaro, assessora para a América Latina da Transparência Internacional.

"Os governos frágeis falham em seu trabalho para deter as redes criminosas, o conflito social e a violência", ressaltou em um comunicado Delia Ferreira Rubio, presidenta da ONG.

Em uma análise, a organização cita a instabilidade que abala o Peru, com seis mudanças de governo em seis anos e onde cinco ex-presidentes são investigados por corrupção, incluindo Pedro Castillo. A repressão das manifestações motivadas por sua destituição em dezembro provocou mais de 50 mortes até o momento.

Em outros países, alerta, os organismos públicos foram cooptados pelas "elites e pelo crime organizado". As autoridades responsáveis pela garantia do cumprimento da lei ignoram atividades ilícitas ou violações dos direitos humanos em troca de dinheiro.

Ameaças ao meio ambiente 

Na Venezuela, que tem a pior nota da América Latina, grupos criminosos mantêm suas atividades no setor de mineração em troca de pagamentos irregulares aos militares, denuncia a Transparência Internacional. As atividades econômicas ilegais representaram 21% do PIB em 2021.

O relatório também menciona Guatemala (24) e Honduras, onde "há evidências que sugerem" a influência do crime organizado na política. Na Guatemala, a situação afeta jornalistas, ativistas e procuradores - algumas pessoas foram forçadas a seguir para o exílio.

Para tentar reverter a tendência, a ONG lamenta que Honduras, El Salvador e o Equador tenham declarado estados de emergência, uma medida que reduz a "transparência e a prestação de contas".

No relatório que representa uma fotografia de 2022, a ONG aponta que a união entre crime e interesses políticos representa um perigo para o meio ambiente.

"As redes criminosas favorecem o contrabando de animais silvestres, o corte e queima ilegal de terras, a extração ilegal de ouro e o desmatamento", denuncia.

Os homicídios de ativistas do meio ambiente permanecem impunes devido à infiltração destas redes nos sistemas de justiça, critica. Em 2021, 138 ativistas foram mortos na Colômbia, 42 no México e 27 no Brasil.

(Com informações da AFP)

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