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Geopolítica: Ocidente perde aliados e potências médias disputam influência

No dia seguinte à cúpula realizada na Jordânia, em que países da União Europeia e do Oriente Médio se reuniram para negociar soluções às crises na região, entre elas a do programa nuclear iraniano, o jornal Le Figaro analisa a reorganização geopolítica internacional.

O ministro das Relações Exteriores do Irã, Hossein Amir-Abdollahian (à esquerda), o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell (centro), e o presidente francês, Emmanuel Macron, durante a cúpula ocorrida na Jordânia. 20 de dezembro 2022
O ministro das Relações Exteriores do Irã, Hossein Amir-Abdollahian (à esquerda), o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell (centro), e o presidente francês, Emmanuel Macron, durante a cúpula ocorrida na Jordânia. 20 de dezembro 2022 AP - Raad Adayleh
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As potências médias, segundo o diário francês, seja na região do Golfo Pérsico, na Ásia ou na África, se recusam a aderir às linhas de política externa propostas pelos países ocidentais. A guerra iniciada pela Rússia na Ucrânia e o foco americano na rivalidade com a China acabaram levando potências médias a buscar sua própria influência, a fim de pesar nas negociações sobre segurança. 

Durante a cúpula na Jordânia, o assessor diplomático do emir do Catar, Anwar Gargash, que é chamado de "Kissinger do Oriente Médio", em referência ao ex-secretário de Estado americano, disse que nessa disputa entre Rússia, Estados Unidos e China, o Catar escolheu o "equilíbrio". O ministro das Relações Exteriores saudita, príncipe Faisal Ben Farhan Al-Saud, foi explícito, ao afirmar que "os países do Golfo querem participar das conversas globais", e não mais se alinhar a uma das partes, até agora encarnada pelo campo ocidental.

Essas declarações são interpretadas por analistas de geopolítica como um distanciamento evidente das políticas que a Casa Branca assumiu em relação a Moscou e Pequim.

Esse repocionamento de potências médias e emergentes começou a ser desenhado durante a presidência de Barack Obama, quando os Estados Unidos desistiram de intervir contra o uso de armas químicas na guerra da Síria, depois de dizer que o fariam. O passo atrás criou um sério problema de imagem à maior potência mundial, que em seguida ainda piorou com o isolamento do governo de Donald Trump.

Daquele momento em diante, os governos do Golfo perceberam que deveriam defender seus interesses, simultaneamente a uma ação cada vez mais ambígua de Washington nas crises regionais. Desde então, as parcerias com a China se ampliaram. 

Para o ministro das Relações Exteriores da Árabia Saudita, o que se vê atualmente é o fim das alianças de bloco e até mesmo da globalização, processos rejeitados pelos países de influência média, que querem agir e se alinhar a uma ou outra potência de acordo com seus interesses do momento. Isso é o que já faz a Índia, que embora aliada de Washington se recusa a condenar a guerra na Ucrânia, e a Turquia, que apesar de fazer parte da Otan também negocia com o presidente russo, Vladimir Putin.

África

A complacência com a Rússia é ainda maior entre os países africanos, escreve Le Figaro. Especialistas consideram que os europeus erram ao propagar que o terrorismo islâmico, que tomou conta de uma extensa área na África subsaariana, é o responsável pelo aumento do sentimento antiocidental.

"Os governos africanos não sofrem de incompetência para combater o terrorismo", destaca o jornal francês. Eles têm preocupações econômicas e sofrem com as consequências da desestabilização da Líbia, um problema criado com a intervenção da França e do Reino Unido para derrubar o ex-ditador Muammar Kadafi em 2011, conclui a análise do Le Figaro.

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