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Brasileira presente em festa de Halloween em Seul conta o que viu: "policiais impediam a passagem"

As autoridades sul-coreanas enfrentam muitas críticas e questionamentos nesta segunda-feira (31), após o tumulto que matou pelo menos 154 pessoas, na noite de sábado (29), durante uma festa de Halloween em Seul. Entre as testemunhas, uma estudante brasileira conta o que viu.

Pessoas prestam homenagem perto do local onde aconteceu um grande tumulto durante as festividades de Halloween, em Seul, Coreia do Sul, em 31 de outubro de 2022. REUTERS/Kim Hong-Ji
Pessoas prestam homenagem perto do local onde aconteceu um grande tumulto durante as festividades de Halloween, em Seul, Coreia do Sul, em 31 de outubro de 2022. REUTERS/Kim Hong-Ji REUTERS - KIM HONG-JI
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Luísa estava numa das pequenas ruas do distrito de Itaewon, na noite de sábado. Depois que o tumulto começou, ela conta que se surpreendeu ao ver que a polícia “não deixava ninguém passar, pois colocavam os corpos e as ambulâncias bloqueando as ruas”.

“Quando as pessoas queriam sair, os oficiais obstruíam o caminho. Quando conseguimos chegar a uma via maior, vimos muito corpos e os socorristas tentavam reanimar algumas vítimas”, relata. “Atrás de nós, havia uma maré humana que tentava sair da ruela e os bombeiros e policiais continuavam bloqueando tudo. Eu sei que eles queriam ajudar, mas eles impediam a passagem”, lembra a brasileira, ouvida pela rádio FranceInfo. 

Segundo outros presentes, muitas pessoas ficaram presas no beco e tentaram sair, com algumas subindo em cima das outras. A maioria dos 154 mortos, incluindo 26 estrangeiros, foi identificada. Mas o número de vítimas fatais pode aumentar porque pelo menos 33 pessoas estão em estado crítico.

Adam, outra testemunha ouvida pela FranceInfo, diz ter estranhado a falta de policiamento no local. “Quando chegamos aqui, não vimos nenhum policial. Ficamos muito surpresos, mas como havia público também noutro bairro, eu pensei que as tropas de segurança haviam sido enviadas para lá”, diz.

A Coreia do Sul ainda está sob o choque do drama. Desde domingo, o país está em luto oficial por cinco dias. O presidente Yoon Suk-yeol pediu uma investigação rigorosa e há muitos questionamentos sobre a ausência de forças de segurança num local onde se encontravam cerca de 100 mil pessoas.

Pouco menos de 50 bombeiros e 200 policiais haviam sido destacados para essa área, onde a multidão se espremia em ruas estreitas. No domingo, o governo defendeu o plano da polícia, estimando que uma presença policial maior não teria impedido a tragédia. "Não foi um problema que teria sido resolvido enviando policiais ou bombeiros com antecedência", disse o ministro do Interior, Lee Sang-min, à imprensa.

A Coreia do Sul costuma ser eficiente no controle de multidões e os protestos algumas vezes têm uma presença policial que chega a superar o número de manifestantes. Mas os organizadores dos protestos devem informar as autoridades com antecedência, o que não é o caso quando os jovens chegam espontaneamente para celebrar em Itaewon.

Homenagens e críticas

O presidente e sua esposa colocaram flores brancas em um grande altar construído em Seul para as vítimas do desastre, em sua maioria mulheres jovens. Em um memorial improvisado próximo a uma estação de metrô no popular bairro de Itaewon, onde ocorreu a tragédia, as pessoas também pararam para rezar e colocar flores.

Enquanto isso, a imprensa e as redes sociais divulgam pedidos crescentes de responsabilização, devido às falhas no controle da multidão, a maioria jovens fantasiados para o Halloween. 

Nesta segunda-feira, a polícia afirmou ter enviado 137 policiais para o local, um número que alega ser maior do que em anos anteriores. Mas relatos de testemunhas indicaram que os policiais enviados estavam mais focados em vigiar o uso de drogas do que no controle de multidões.

"Este foi um desastre que poderia ter sido evitado", disse Lee Young-ju, professor do Departamento de Incêndios e Desastres da Universidade de Seul, à televisão YTN.

Nas redes sociais, muitas pessoas também reclamaram que a polícia este ano não controlou a multidão. "Moro em Itaewon há 10 anos e todos os anos há uma festa de Halloween, a de ontem não foi maior do que nos anos anteriores", escreveu um usuário do Twitter.

A polícia iniciou a investigação e formou uma força-tarefa de 561 membros, segundo o Ministério do Interior. Esses investigadores apreenderam imagens provenientes de cerca de cinquenta câmeras de vigilância de empresas localizadas no local da tragédia. Também analisa vídeos postados em redes sociais. “Realizamos uma investigação preliminar entrevistando 44 testemunhas, vítimas e trabalhadores de lojas próximas”, disse um oficial da polícia nacional.

De acordo com Hong Ki-hyun, chefe do escritório de ordem pública da Polícia Nacional da Coreia do Sul, "os policiais no local não detectaram um fluxo repentino de multidões". Ele disse que as autoridades aprenderão com os eventos de sábado para reforçar sua presença no caso de grandes multidões se reunindo sem um organizador.

 

(Com informações da FranceInfo e AFP)

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