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Covid-19: “Parem de perguntar por quê. São regras nacionais", avisa policial chinês a manifestantes

Milhões de habitantes de Pequim estão trabalhando de casa nesta segunda-feira (9), após a entrada em vigor de novas medidas anticovid, o que transformou a capital chinesa de 22 milhões de habitantes em uma cidade fantasma. Após 40 dias de restrições, o confinamento começa a pesar nos nervos dos moradores de Xangai, onde há flagrantes de brigas no meio da rua e trabalhadores que fogem de seus empregos, enquanto o regime de Pequim nega que a situação esteja saindo do controle.

Agentes desinfetam latas de lixo em Xangai. China enfrenta forte onda de contaminações por Covid-19 e mantém estratégia zero Covid, sob protestos da população.
Agentes desinfetam latas de lixo em Xangai. China enfrenta forte onda de contaminações por Covid-19 e mantém estratégia zero Covid, sob protestos da população. AP - Nico de Rouge
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Há dois meses, a China enfrenta a pior onda epidêmica de Covid-19 desde o primeiro surto da doença, no início de 2020. Mesmo que os números de contaminações permaneçam mínimos em escala global, as autoridades aplicam rigorosamente a política “Covid zero”, colocando cidades inteiras em lockdown assim que aparecem os primeiros casos.

Apesar de uma queda acentuada no número diário de contaminações, as autoridades estão reforçando seu arsenal de medidas contra a epidemia em nome de uma estratégia que o regime comunista vendeu à população como prova da suposta superioridade política chinesa em relação ao Ocidente.

Depois de Xangai – cidade mais populosa do país, confinada desde o início de abril –, faz uma semana que Pequim enfrenta restrições de viagens. Muitos locais públicos, como restaurantes, cafés, ginásios esportivos etc., estão fechados.

As autoridades limitaram o acesso a serviços não essenciais no distrito mais movimentado e populoso da capital, Chaoyang, onde algumas empresas devem diminuir a força de trabalho para apenas 5% do normal. Como resultado, o agitado distrito comercial de Sanlitun, no leste de Pequim, ficou deserto na manhã desta segunda-feira. A loja da Apple, geralmente lotada, fechou as portas minutos após a abertura.

"Me me sinto estranha com tão poucas pessoas ao meu redor", disse à AFP uma faxineira chamada Wang, enquanto esperava para entrar no restaurante em que trabalha. “Sou encarregada de desinfetar, não posso trabalhar de casa”, justifica ela.

“Você não está nos EUA”

Brigas entre equipes de vigilância de saúde e moradores são cada vez mais comuns nas redes sociais. As imagens sã divulgadas, mas logo são apagadas pela censura do regime chinês. Em um desses vídeos, um homem explica a uma família que eles terão de se confinar porque moram no mesmo andar em que foi registrada uma pessoa infectada pelo coronavírus.

"Nós não fazemos o que queremos aqui, você não está nos Estados Unidos, você está na China", alerta ele, à porta do apartamento. "E pare de perguntar por quê. Não há por quê. São regras nacionais", conclui.

Em um país onde protestos não são tolerados, a população se exaspera e não hesita mais em atacar a polícia. Na noite de sábado (8), moradores descontentes com a falta de alimentos entraram em confronto com autoridades locais.

Imagens gravadas no distrito de Zhuanqiao, cuja veraciadade foi checada pela AFP, mostram os habitantes repelindo a polícia aos gritos de "não à violência policial". "A polícia agiu o mais rápido possível para dispersar os espectadores e restaurar a calma", disseram as autoridades locais. “De acordo com uma investigação realizada no local, os desordeiros tinham comida suficiente em casa”, assegurou a mesma fonte.

Os protestos acontecem após outro incidente, na semana passada, em uma fábrica da empresa Quanta, uma fornecedora da Apple. Centenas de trabalhadores forçaram a saída da fábrica com medo de um aumento das medidas restritivas contra a Covid-19, de acordo com a agência de notícias Bloomberg. Desde o início do confinamento em Xangai, os funcionários estão impedidos de voltar para suas casas. Eles dormem em seus locais de trabalho, em condições muito difíceis.

Efeitos na economia

A política de “Covid zero” da China, que inclui bloqueios de várias regiões e a obrigatoriedade de testes de Covid-19 repetitivos para toda a população, está custando caro, também, para a economia do país, segundo alertam especialistas.

De acordo com a Câmara de Comércio Americana, várias empresas associadas em Xangai permanecem fechadas, enquanto outras questionam seus investimentos na China, dadas as restrições. O mundo dos negócios "está se preparando para um êxodo em massa de talentos estrangeiros", alertou o presidente da Câmara, Colm Rafferty.

Xangai confirma oficialmente mais de 500 mortes por Covid-19 no espaço de algumas semanas. Parece muito em um país no qual o número total de mortos, apresentado pelas autoridades desde o início da pandemia, mal ultrapassa os 5.000.

A prefeitura assegura que a capital econômica chinesa está vencendo a batalha contra a Covid-19. O índice de contaminações diárias caiu para menos de 4.000, nesta segunda-feira, depois de ter ultrapassado 25.000, no fim de abril.

A cidade garante que milhões de habitantes conseguiram recuperar certa liberdade nas últimas semanas. Alguns podem finalmente deixar seus apartamentos, mas não seus conjuntos residenciais.

Vários condomínios, no entanto, restabeleceram as restrições, mesmo em áreas de baixo risco de contaminação, de acordo com relatos de moradores à AFP. Os avisos oficiais indicam que é proibido sair de casa por vários dias, exceto para fazer um teste de diagnóstico de Covid-19. Também não é mais possível pedir entrega de comida.

As famílias temem ser levadas para um centro de quarentena mesmo que seus testes sejam negativos, pelo simples fato de terem um caso positivo em seu bairro.

"Fomos avisados ​​de que deveríamos deixar nossas chaves para que eles pudessem vir e desinfetar o apartamento", disse à AFP um britânico que mora em Xangai.

(Com informações da AFP)

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