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Televisão/Humor

Reality Show egípcio simula sequestro do grupo Estado Islâmico

Programa faz pegadinha com celebridades do Egito, fazendo sequestro falso que dura 15 minutos com ameaças de morte, segundo o jornal Libération.

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Em pleno Ramadã, o período de recolhimento religioso dos muçulmanos, a rede de televisão egípcia Al Nahar TV não hesitou em lançar um programa de gosto duvidoso. “Mini Daech” ou “Mini Estado Islâmico”, em português, é um programa no qual celebridades egípcias são presas num quarto por um grupo de homens armados, supostamente do grupo terrorista Estado Islâmico. Durante 15 minutos, a vítima é ameaçada de morte sob a mira de revólveres e metralhadoras, antes de ser forçada a vestir um colete-bomba.

Se o show não chega a ser o maior sucesso da TV egípcia, onde imperam as novelas, sua popularidade tem sido grande o suficiente para atrair a atenção e a ira dos críticos.

Sami Charif, que trabalha numa espécie de conselho nacional do audiovisual no Cairo, aponta, além da má qualidade da produção, a violência veiculada pelo programa que, de maneira imprudente, divulga o nome e os símbolos do grupo terrorista Estado Islâmico. Segundo Charif, a questão precisa ser avaliada com seriedade, uma vez que o programa é transmitido à noite, na hora do jantar, quando pais e filhos se reúnem em volta da televisão.

O programa existe porque o povo gosta

“Trata-se de uma piada de mau gosto que, encenando os sequestros do grupo Estado Islâmico, abaixa o nível da televisão egípcia”, declarou, por sua vez, a redatora-chefe da website de notícias Egyptian Street, Salma El-Saeeed. Entrevistada pelo Libération, El-Saeed explica que a difusão desse programa em pleno Ramadã responde à necessidade de diversão que os egípcios demonstram neste período. Porém, ela não deixa de estar chocada por “uma rede de televisão transformar o terrorismo em diversão, num país que sofre constantes ameaças”.

O programa tem gerado controvérsia entre os políticos também. O deputado Mustapha Bakri, por exemplo, pediu publicamente às autoridades de controle dos meios de comunicação que o programa fosse censurado, por incutir o medo e a tensão no povo egípcio. Sem sucesso, o deputado continua acusando o programa de “desdiabolizar” as ações do grupo Estado Islâmico junto à população do país.

Abordado pelo jornal Libération, o apresentador do programa, Khaled Eleish, alega que se trata apenas de um “programa humorístico”, sem nenhuma tendência ideológica. “Nós precisamos criar novos produtos televisuais constantemente, e isso é um grande desafio. Trata-se de um programa de pegadinhas, muito engraçado. Nós temos tido uma ótima resposta da audiência. Eles riem muito, e esse é o meu único objetivo”, explicou Eleish. O produtor do programa, Ramez Galal, preferiu não fazer nenhuma declaração ao jornal francês.

Vulgaridade que inibe o pensamento crítico

Para o jornal L’Orient Le Jour, o problema está nos “dois pesos, duas medidas” usados pelas autoridades encarregadas da censura. “Os vigilantes da moral não hesitam em banir rapidamente todas as obras de arte, canções e filmes que possam nos fazer refletir, mas deixam passar tranquilamente a mediocridade e vulgaridade, uma ameaça menor para uma população que deve ser mantida na ignorância e na apatia. Quais serão as atrações nos próximos anos? Será que assistiremos aos atentados terroristas ao vivo para divertir as pessoas?”, questionou o jornal no seu editorial.

Apesar da avalanche de críticas, “Mini Estado Islâmico” tem se reproduzido em outros países do mundo árabe, onde o programa tem sido refeito em versões locais.
 

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