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Fato em Foco

Medo sobre incertezas econômicas marca referendo na Escócia

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Na véspera do referendo de independência da Escócia em relação ao Reino Unido, só existe uma certeza: o suspense sobre o resultado vai durar até o último minuto. As pesquisas dão empate técnico entre o ‘sim’ e o ‘não’, em uma campanha marcada pelos impactos econômicos sobre uma eventual separação dos escoceses.

Uma sede do banco escocês RBS.
Uma sede do banco escocês RBS. REUTERS/Toby Melville
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Na semana passada, importantes bancos colocaram lenha na fogueira, ao anunciarem que abandonariam Edimburgo se o resultado do referendo for sim à independência. A campanha do ‘não’ se focou nos riscos de instabilidade econômica, um argumento que convence os eleitores menos seguros sobre a capacidade de o país sobreviver fora do Reino Unido.

A pesquisadora franco-escocesa Fiona Simpkins, especialista na história contemporânea da Escócia na Universidade de Lyon 2, compreende que os índices de indecisos sejam tão altos, em torno de 10%. “O debate realmente se concentrou nas análises de economistas a favor do ‘sim’ contra economistas a favor do ‘não’, e fica difícil para o eleitor escocês saber o que de fato é melhor. A verdade é que a economia é uma das principais incógnitas desse referendo”, afirma.

Se a Escócia se tornar independente, o Reino Unido perderia um terço do território, mas apenas 8% da população e 9,2% do PIB. Por outro lado, Edimbugo poderia contar com os rendimentos do petróleo – 96% das reservas estão em território escocês.

“Eu acho que, em regra geral, a Escócia perderia mais e a Inglaterra está bem mais apta a sobreviver. Mas a Inglaterra tem duas questões muito importantes, que são o petróleo, que fica na Escócia, e a defesa, já que as armas nucleares britânicas ficam no rio Clyde, perto de Glasgow”, comenta o britânico Kai Enno Lehmann, professor de Relações Internacionais da USP. “A Escócia sempre disse que não queria ficar com essas instalações nucleares.”

O professor destaca que os escoceses têm um importante polo industrial, que seria fundamental para o desenvolvimento do país independente. “Em Edimburgo e Glasgow, tem um setor financeiro - não tão grande quanto Londres, obviamente - que ficaria enfraquecido se o Royal Bank of Scotland e outros saíssem da Escócia depois do voto. Mas ele continuaria existindo. E a Escócia também tem uma base industrial no chamado ‘central belt’, entre Glasgow e Edimburgo, que é historicamente o coração industrial da Escócia e que continuaria importante, até porque a maioria da população escocesa mora nessa faixa”, salienta.

Pós-petróleo

Fiona Simpkins lembra que os escoceses estão conscientes sobre o fim, a médio prazo, dos recursos do petróleo. Por isso, planejam se tornar uma referência em energias renováveis.

“O Partido Nacional Escocês tem o projeto de desenvolver ao máximo todas as tecnologias de energias renováveis e se tornar um país de ponta nas pesquisas deste setor, para poder revendê-la para outros países. O território escocês tem uma grande força eólica e maremotriz, que podem ser mais bem desenvolvidas”, afirma.

Euro x Libra

Outra questão delicada seria qual moeda teria a Escócia independente. Londres já deixou claro que o país não poderia mais usar a libra. Uma alternativa seria a adoção do euro, depois de os escoceses passarem por um processo de adesão ao bloco europeu, conforme Lehmann.

“Nas suas últimas ampliações, a União Europeia sempre tem insistido que qualquer novo Estado-membro adote o euro, caso as condições econômicas permitam. Isso até seria uma saída para a Escócia, caso Londres insista que o país não poderia continuar usando a libra”, avalia.

Simpkins ressalta que, na União Europeia, a Escócia poderia defender melhor os próprios interesses nas negociações econômicas, algo que hoje depende das decisões tomadas por Londres. Uma das principais queixas dos escoceses, aliás, é o sentimento de não serem suficientemente representados em Westminster, dominado por políticos de centro ou direita, enquanto que a maioria da população da Escócia vota à esquerda.

“Essas políticas de austeridade são rejeitadas pelo eleitorado escocês em peso, a tal ponto que é um fator essencial para o resultado do referendo. A esquerda não está nem um pouco representada em Westminster, através dos grandes partidos ingleses”, diz a pesquisadora.

Os dois especialistas concordam que o resultado do referendo é um mistério, mas dizem que, se tivessem que apostar, acham que o ‘não’ vai vencer.
 

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