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França

Programas de TV sobre crimes seduzem telespectadores franceses

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Os programas sobre crimes estão cada vez populares na França e documentários do gênero se multiplicaram na TV aberta e por assinatura nos últimos anos. Até mesmo um canal dedicado ao tema, Planète + CI (Crime et Investigation), foi lançado recentemente no país. Reconstituições, crimes em série, processos criminais famosos….A paixão dos franceses pelo gênero, conhecido por aqui como ‘Fait Divers’ é antiga e tem origem na própria história de França.

O escritor francês Stéphane Bourgoin.
O escritor francês Stéphane Bourgoin. S. Bourgoin
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Já no século 19, jornais como o Petit Journal ou L’œil de la Police batiam recordes de vendas nas bancas. Processos como o do serial-killer Henri Désiré Landru, responsável pelo assassinato de onze pessoas, são outro exemplo do interesse dos franceses por temas mórbidos. O julgamento de Landru, em 1921, na Corte de Versalhes, atraiu multidões e foi acompanhado por personalidades no exterior. As execuções em praça pública, proibidas em 1939, também eram um espetáculo imperdível para a população: um caso célébre é o do criminoso Eugène Weidmann, condenado à decapitação na guilhotina. Depois da execução, centenas de mulheres molharam o lenço em seu sangue, porque, segundo a lenda, ele traria felicidade e fertilidade.

Ex-consultor da polícia e um dos maiores especialistas em criminologia do país, Stéphane Bourgoin é autor de mais de 30 livros e cem documentários e reportagens para canais de TV locais como TF1, M6 ou Canal Plus. Em entrevista à RFI, ele falou sobre o interesse dos dos franceses sobre o assunto. O especialista francês passou a se dedicar ao assunto depois da sua própria esposa ser vítima de um serial killer, em 1976, na ânsia de entender a mente desses psicopatas.

Existe de fato um aumento do interesse neste tipo de programa?

Podemos observar que a maioria dos noticiários, mesmo o jornal das 20H, abrem o programa com uma notícia sobre um crime, em vez de um assunto da política internacional. Um estudo recente, publicado no ano passado, mostrou que esse é o caso em cerca de 60% dos programas. Esse tipo de assunto interessa porque pode nos atingir pessoalmente e também porque, ao mesmo tempo, é o único reflexo que temos de uma sociedade em um determinado momento. O noticiário policial envolve um assassino, vítimas, um contexto, isso suscita questionamentos. Também existe, claro, a atração por tudo que é mórbido.

Você também é dono de uma livraria de romances policiais em Paris (Le Troisième Œil) desde 1972, qual é o público que frequenta o local?

O mais interessante é que se trata de um público principalmente feminino. Quando assisto aos grandes julgamentos de assassinos, o que faço há mais de 30 anos, percebo que o público é, em sua grande maioria, 80% feminino. Minhas leitoras são mulheres. Recebo cerca de 100 e-mails por dia e cerca de 80% são assinados por mulheres, em geral jovens. O canal Planète Justice, que só transmite programas sobre o tema, fez um estudo de audiência mostrando que 72% dos telespectadores são mulheres. Elas se interessam por este tipo de crime porque nos casos mais célebres, de serial killers ou estupros, as mulheres são vítimas, bem mais do que os homens. Essa pesquisa também mostra que as mulheres também se interessam mais pela psicologia do que os homens.

Como você próprio passou a se interessar pelo tema?

Eu me especializei no estudo dos serials-killers por conta da morte da minha mulher em 1976, que foi estuprada e morta por um psicopata. Trabalhei durante dez anos para a polícia nacional francesa, na formação de oficiais de polícia à psicologia de serial-killers. Esses criminosos não agem como um criminoso qualquer. Em geral, o assassino e sua vítima não se conhecem. Então é preciso investigar entender as fantasias e a cabeça do assassino para saber o que o levou à ação. Desde 1979, eu já interroguei mais de 77 serial-killers em todo os continentes.

Então hoje, para você, a mente de um psicopata não tem mais mistérios?

Sempre há uma parte de mistério em um serial killer. Os 77 psicopatas com quem eu me encontrei eram todos muito diferentes uns dos outros. Meu objetivo é tentar entender como eles agiram, e escolheram suas vítimas, e como foi o comportamento deles durante e após o crime. Claro que nunca poderemos impedi-los de cometer esse crime, mas um melhor conhecimento da maneira como eles agem, e dos rituais, permitirá talvez, no futuro, detê-los mais rapidamente.

Tem um caso que chamou particularmente sua atenção?

Tem um caso muito interessante, no fim dos anos 80, envolvendo o criminoso Gerard John Schaefer, em uma prisão na Flórida, nos Estados Unidos. É um xerife suspeito de ter matado 34 pessoas. Na frente dele, tive a impressão de estar na frente do Mal, em pessoa. Mas do Mal, com M maiúsculo. Minha coluna ficou bloqueada, fiquei todo arrepiado, e um terror generalizado tomou conta de mim durante toda a entrevista. Ele se dizia inocente. Para mim foi uma experiência muito difícil. Ainda hoje – a entrevista foi filmada- não me sinto bem quando vejo as imagens. Ele é provavelmente o maior serial killer da história, conhecido em todo o mundo.

Quem são os criminosos franceses mais conhecidos?

Na França nós prendemos, julgamos e indiciamos cerca de 140 serial killlers diferentes. Os mais conhecidos são Francis Heaulme, Guy George, conhecido como o assassino do leste parisiense, ou Emile Louis, no caso "os desaparecidos de L’Yonne". No passado, temos Joseph Varcher, o estripador do sudeste, e que virou personagem do filme "O Juiz e o Assassino", de Bertrand Tavernier.
 

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