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O Mundo Agora

Protestos em vários países monstram que povo perdeu paciência com governos ruins

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Mundo árabe, Turquia, Ucrânia, Venezuela... As revoltas e manifestações de massa são todas diferentes, mas todas têm uma coisa fundamental em comum. Nesse século XXI, as populações não estão mais afim de suportar o atraso. Atraso econômico, atrasa político, atraso de vida. Informadas, conectadas, conscientes de seus direitos, as pessoas não querem mais esperar eternamente para viver em sociedades minimamente decentes, sobretudo quando existem exemplos pelo mundo onde isto não é só possível mas perfeitamente normal. Perdeu-se a paciência com governos incapazes de garantir serviços públicos que funcionem, uma economia minimamente próspera, uma justiça independente, um poder político aberto que permita alternância democrática e liberdade de expressão para todas as opiniões.

Centenas de milhares vão às ruas em protestos convocados por oposição venezuelana,  18 de fevereiro de 2014.
Centenas de milhares vão às ruas em protestos convocados por oposição venezuelana, 18 de fevereiro de 2014. REUTERS/Christian Veron
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Está se perdendo o medo de enfrentar não só os poderes abertamente ditatoriais, mas também os governos autoritários ou corruptos ou que deram provas cabais de incompetência. E não adianta invocar os equilíbrios geopolíticos, nem as manobras das grandes potências, nem o fato de que é sempre possível que as revoltas e outras “primaveras” possam acabar mal desembocando em períodos de caos social e político.

Hoje, quando boa parte de uma população diz “não” ao atraso, é muito difícil convencê-la de ficar sem fazer nada ou de engolir pacificamente, em nome da manutenção da ordem, a arrogância de governos incapazes.
O que está acontecendo na Ucrânia é um exemplo mais do que claro dos novos tempos. A revolta da praça Maidan estourou quando o clã do presidente Ianukovich recusou-se a assinar um acordo geral com a União

Européia e praticamente vendeu um país já arruinado à Rússia de Vladimir Putin contra um empréstimo bilionário. Foi a gota d’água. Para todos os europeus, inclusive muitos russos, a União Européia, apesar das crises e problemas, ainda é símbolo de liberdade, prosperidade, império da lei e regimes democráticos.

Rússia é símbolo de autoritarismo, economia parada e antiquada, com um poder nas mãos de um bando de oligarcas e ex-agentes do KGB que sonha em restaurar uma versão contemporânea do império soviético. A grande maioria dos ucranianos se levantou contra a perspectiva de voltar a ser uma colônia russa e ainda por cima extremamente mal administrada e corrupta.

A massa foi para a rua e decidiu que não ia para casa enquanto a máfia que controlava o poder com o apoio de Putin não fosse derrubada. E isto apesar da repressão e dos mortos a tiro pelas forças do regime.
Quando ficou claro que a população não aceitaria voltar ao passado, as grandes potências entraram em jogo botando panos quentes. Obama conversou com Putin e os representantes oficiais da União Européia foram falar com os diversos líderes da oposição.

O resultado foi um plano para uma transição democrática até o fim do ano que salvasse a face de Putin e seu aliado Ianukovich. Só que os tempos mudaram: a massa de Maidan disse não, a policia, o Exército e uma parte dos oligarcas abandonaram o navio do poder. Hoje o ex-presidente é um fugitivo com mandato de captura internacional e o Kremlin já está ameaçando a Ucrânia dizendo que o novo poder vai contra os interesses russos.

Só que foi justamente essa pretensão russa em ter direito de definir quem manda no país que foi rechaçada claramente pelos ucranianos.

Na Venezuela, é possível que estejamos assistindo um rechaço parecido. O poder do presidente Maduro é notoriamente incompetente, incapaz de garantir até um mínimo de segurança, sem falar no estado catastrófico da economia. Além do mais boa parte da população venezuelana não suporta mais o poder oculto de Cuba no país.

Ainda não estamos no ponto da praça Maidan, mas na Venezuela não se está longe disso. Na Turquia, o autoritarismo crescente do governo Erdogan já provocou as grandes manifestações do ano passado e o regime está cada vez mais acossado e isolado.

E até no Brasil, as enormes passeatas de 2013 e os novos fenômenos de desobediência social que vêm se multiplicando também são sinais que partes significativas da população também querem menos corrupção, mais serviços públicos, menos inflação... em suma, mais eficiência e mais consideração.

É claro que todos esses movimentos podem ser derrotados ou pela divisão dos opositores ou pela repressão pura e simples. Mas nesse mundo de comunicação permanente, onde um exemplo puxa o outro, está cada vez mais difícil para um governo manter-se no poder só no gogó ou pela força das armas.

As pessoas querem simplesmente aquele mínimo de justiça, de sucesso econômico e de democracia política que elas vêem todos os dias em outras partes do mundo nas suas telinhas.

Clique no ícone acima para ouvir a crônica de política internacional de Alfredo Valladão, professor do Instituto de Estudos Políticos de Paris.

 

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