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Linha Direta

Polêmica: canal de TV japonês nega massacre de Nanquim

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Um alto dirigente da rede pública de rádio e TV japonesa NHK negou a ocorrência do massacre de Nanquim, em que milhares de pessoas foram mortas pelas tropas japonesas quando a cidade chinesa foi invadida, em 1937. O massacre é considerado uma das maiores atrocidades cometidas pelo Japão no século 20. A declaração do diretor não foi condenada pelo governo japonês, desencadeando um debate em torno do papel da gigante NHK. A credibilidade da rede pública foi comprometida.

O presidente do canal NHK, Katsuto Momii.
O presidente do canal NHK, Katsuto Momii. REUTERS/Kyodo
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Com a correspondente em Tóquio, Claudia Sarmento

Esse tipo de afirmação sobre episódios históricos sempre tem uma repercussão na Ásia porque as feridas provocadas pelo Japão imperialista, antes e durante a Segunda Guerra, não estão cicatrizadas. Naoki Hyakuta, que integra o conselho de diretores da NHK, discursou a favor de um político de extrema-direita e declarou que o massacre de Nanquim, na China, nunca ocorreu.

Existem comprovações históricas de que milhares de pessoas foram mortas pelas tropas japonesas quando a cidade chinesa foi invadida, em 1937. Até hoje esse é um episódio que atrapalha as relações entre Tóquio e Pequim. Desmentir esse massacre prejudica a tentativa de entendimento entre os dois países. O discurso do representante da NHK, que agradou aos revisionistas, foi reproduzido e questionado por vários veículos. Mas o governo japonês não condenou Hyakuta. Disse que ele apenas manifestou uma opinião pessoal e não desrespeitou os regulamentos da NHK.

Escravas sexuais

O novo diretor-geral da rede, Katsuto Momii, também está sob fogo cruzado e suas declarações levantam dúvidas sobre o papel da NHK, que é uma rede pública, mas deve ser independente. Ele também mexeu com feridas históricas ao afirmar que escravas sexuais mantidas pelas tropas japonesas durante a guerra eram algo comum, que existia em todos os países. Logo depois, foi obrigado a pedir desculpas por essa afirmação, ofensiva a outras nações. Mas ele também disse acreditar que a NHK deve estar alinhada com as ideias do governo japonês. Ou seja, segundo Momii, o canal não deveria questionar a linha conservadora do primeiro-ministro Shinzo Abe, que é um nacionalista.

Credibilidade da NHK comprometida

Essas polêmicas afetam a credibilidade da NHK e desencadearam um debate sobre interferências na cobertura da rede pública, que não deve ser um órgão de propaganda oficial. Um veterano comentarista de economia e negócios da NHK pediu demissão na semana passada alegando que vinha sendo censurado. Segundo Toru Nakakita, a ordem interna era não mencionar os problemas nucleares do Japão durante a cobertura da atual disputa pelo governo de Tóquio. Sabe-se que o governo Abe é a favor da indústria nuclear. Funcionários que preferem não se identificar também vêm dando declarações à imprensa sobre um clima de auto-censura que teria se instalado na NHK.

Governo Abe nega interferência na TV pública

O governo japonês nega qualquer tipo de interferência. Num discurso feito recentemente no Parlamento, o primeiro-ministro Shinzo Abe disse que os funcionários da NHK deveriam continuar divulgando notícias de forma justa e imparcial, sem ceder a pressões políticas. Mas é inegável que existe atualmente no Japão uma mudança de rumo em direção ao nacionalismo.

O governo aprovou, recentemente, por exemplo, uma lei que proíbe a divulgação de segredos de Estado. Quem vazar documentos secretos e também quem publicá-los pode ser condenado a até dez anos de prisão. O Gabinete alega que está apenas reforçando a segurança do país num momento de tensão com a China e a Coreia do Norte. Mas essa lei foi amplamente vista como um golpe contra a liberdade de imprensa e como mais um instrumento nacionalista do atual governo.

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