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Reportagem

Espionagem: para analistas, países europeus não cancelariam visita aos EUA

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Os países europeus também foram alvo da espionagem americana, mas dificilmente anulariam uma visita de Estado a Washington por esta razão, conforme especialistas. A decisão da presidente Dilma Rousseff de cancelar a viagem que faria aos Estados Unidos em outubro foi um dos destaques da imprensa internacional desta quarta-feira.

Explicações de Barack Obama não convenceram Dilma Rousseff, que nesta terça anunciou o cancelamento da visita a Washington.
Explicações de Barack Obama não convenceram Dilma Rousseff, que nesta terça anunciou o cancelamento da visita a Washington. Reuters
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O pesquisador Jean Jacques Kourliandsky, especialista em política externa latinoamericana do Instituto de Relações Internacionais e Estratégicas, em Paris, acha que os países europeus privilegiam interesses estratégicos da aliança com os americanos, e não fariam o mesmo que a presidente brasileira. “Os governos europeus são aliados dos Estados Unidos, a maioria é membro da Aliança Atlântica. A França está no meio de uma questão que para ela é prioritária, a da Síria, na qual ela está condicionada a uma cooperação estreita com os Estados Unidos”, explica. “Portanto a reação dos governos europeus não poderia ser a mesma do Brasil, que é um país amigo dos Estados Unidos, mas não um aliado.”

Kourliandsky lembra que no passado, um caso semelhante envolveu a França, em uma operação militar para tentar salvar a franco-colombiana Ingrid Betancourt, sequestrada pelas Farc. Na época, explicações e um pedido de desculpas foram suficientes para normalizar as relações diplomáticas. “Há mais de 10 anos, a França tentou uma operação que acabou num desastre diplomático com o Brasil, ao incluir o Brasil sem informar as autoridades brasileiras. As explicações das autoridades francesas, com um pedido de desculpas, chegaram algumas semanas depois. As relações bilaterais, que haviam gelado, como agora entre o Brasil e os Estados Unidos, voltaram sob bases muito mais positivas”, observa.

O cientista político Frédéric Louault, especialista em política brasileira da Universidade Livre de Bruxelas, considera que a recusa de Dilma em ir a Washington é um sinal para exigir mais respeito dos americanos. As explicações e o pedido de desculpas estariam em segundo plano.

“O mais importante para ela era mostrar que ela tem uma mão de ferro e não está aos pés dos Estados Unidos. Acho que o que ela quer mesmo não é esclarecimentos sobre a espionagem, conhecer a verdade inteira. É mais uma questão simbólica, de manter uma postura em nível internacional”, afirma.

Louault avalia que a decisão da presidente brasileira foi um erro estratégico: se mantivesse a visita, ela estaria em posição de força para negociar questões políticas e econômicas importantes para o Brasil. “A longo prazo não vai ser tão bom para o Brasil. Seria melhor do que não ir aos Estados Unidos: ela estaria em posição de força para negociar. Além disso, ao não ir, ela pode provocar um fechamento da parte dos americanos.”

Tanto a Casa Branca quanto o Palácio do Planalto consideram que a visita foi apenas adiada, e deve ocorrer quando as relações se normalizarem.
 

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