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Radar econômico

Brasil negligencia segurança na informática, afirmam especialistas

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A notícia de que, além de altos postos do governo brasileiros, a Petrobras também estava entre os alvos da espionagem americana levantou o debate sobre a segurança de dados digitais nas empresas. De acordo com analistas internacionais, o Brasil deveria aproveitar a ocasião para criar uma agência governamental especializada na proteção da internet, o que também garantiria mais sigilo para os segredos comerciais. 

Campus da Agência Nacional de Segurança (NSA) em Fort Meade, nos Estados Unidos
Campus da Agência Nacional de Segurança (NSA) em Fort Meade, nos Estados Unidos REUTERS/NSA/Handout
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Os especialistas asseguram: é impossível se proteger completamente da espionagem empresarial. Conforme Gerôme Billois, diretor sênior da Solucom e administrador do Clusif, o Clube Francês de Segurança de Informações, as empresas levam em média 200 dias para identificar uma infiltração, período em que centenas de informações confidenciais circulam. As operações dos governos para tentar investigar os segredos comercias dos outros países são ainda mais difíceis de detectar. Os setores mais visados são a aeronáutica e a energia.

“É extremamente difícil de se proteger de organismos governamentais. Sabemos que a NSA tem uma verba muito grande. Seria em torno de 10 bilhões de dólares de orçamento, sendo que 2 bilhões e meio são somente para as escutas, para a captação de informações”, observa. “Mas não é impossível de se proteger. É preciso multiplicar os mecanismos de proteção para tornar o trabalho de escutas mais difícil. Quanto mais difícil é a captação de informações, mais caro fica para os serviços de escuta, até que num momento, eles param.”

O francês lembra que a NSA americana tem meios de coagir as empresas a colaborarem com os serviços de informação, como foi o caso da Google, e também opera através dos fabricantes de softwares que deveriam justamente proteger os usuários contra ataques. Como a maioria dos programas de segurança é americana, a vulnerabilidade aumenta. Por isso, a ação dos governos se mostra essencial, através de incentivos à fabricação de softwares e aparelhos nacionais, de mais difícil acesso do exterior.

“Eu diria que todos os países são vulneráveis de uma mesma forma, mas cabe a cada governo e a cada empresa adotar métodos complementares de defesa. Na França, temos uma entidade francesa especializada nisso e que dá conselhos para as empresas. Eles também testam todas ferramentas de segurança para ter certeza de que são de boa qualidade”, constata.

O israelense Avi Dvir é autor de um dos livros de referência sobre o assunto no Brasil, "Espionagem Empresarial". Sócio-gerente de duas grandes empresas de inteligência e contra-espionagem, ele acha que o Brasil ainda está muito atrasado nestas questões.

“Eu posso lhe garantir que, no caso do Brasil, houve descaso. Por mais que estas ferramentas sejam sofisticadas, nós temos conhecimentos de medidas para no mínimo detecta-las”, afirma.
Dvir lembra que a prática da espionagem empresarial é antiga: ao invés da informática, no passado as companhias enviavam agentes disfarçados para trabalhar nas concorrentes e descobrir os planos de negócios. Ele está certo de que ação americana não se limita à Petrobras, e provavelmente o Brasil também é alvo de outros países.

“Obviamente que os americanos não espionavam somente a Petrobras. Eles espionam muito as empresas. Os satélites americanos, por exemplo, avaliam a área de produção de laranjas no Brasil, e através disso eles tentam prever o preço da laranja no mercado internacional e definir qual vai ser a área de produção de laranjas lá”, disse. O Brasil e os Estados Unidos são os maiores produtores mundiais da fruta.

Os especialistas concordam que para garantir a segurança digital, é preciso mexer no bolso. O ideal é empregar pelo menos um profissional específico para esta tarefa, equipe que aumenta de acordo com o tamanho da companhia.

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