Elas eram 3,5 milhões em 1991 na França. Vinte anos depois, a quantidade de mulheres sem ocupação profissional, voltadas para a administração doméstica, caiu para 2,1 milhão. A tendência é tema de um abrangente estudo do Insee, Instituto Nacional de Estatística e Estudos Econômicos, da França.
A definição de dona de casa, segundo o Insee, é de uma mulher entre 20 e 59 anos, não estudante, vivendo em casal e sem ocupação profissional. As mulheres que vivem sozinhas não foram consideradas.
Um dos principais dados fornecidos pela pesquisa é que há 20 anos, mulheres que deixavam de trabalhar, alegavam uma questão pessoal, como ser mãe e cuidar de uma família, por exemplo. Hoje em dia, o motivo principal que leva uma mulher a deixar uma função profissional é a precariedade do mercado. O círculo vicioso se forma com o fim de um contrato temporário ou uma demissão e a dificuldade, por causa da crise econômica, de encontrar um outro trabalho.
Helena Hirata é diretora de pesquisa emérita do CNRS (Centro Nacional da Pesquisa Cientifica) e professora visitante internacional do departamento de sociologia da USP. Socióloga do trabalho, especializada em gênero e trabalho, ela fala que uma das razões para essa diminuição no número de “rainhas do lar” é que as mulheres passaram a participar ativamente do mercado de trabalho na França.
A pesquisadora lembra também que as mulheres francesas contam com uma estrutura social favorável, como creches com pessoal especializado, o que não acontece no Brasil. Elas hoje enfrentam mais uma “inatividade forçada do que uma vontade pessoal”, além de um enorme aumento de empregos temporários e sem garantias de continuidade.
Natalidade comprometida
Fazendo um paralelo com o Brasil, Helena Hirata acrescenta que a participação masculina nos afazeres domésticos continua muito pequena. “As mulheres tanto no Brasil quanto na França continuam fazendo malabarismos para equilibrar as funções domésticas e profissionais”. A evolução dessa tendência vai depender das mudanças na sociedade, diz a pesquisadora, como divisão do trabalho entre homem e mulher no seio da família, das políticas públicas e da conjuntura econômica.
Helena Hirata cita um outro panorama, o do Japão, onde creches são raras e caras e onde as normas sociais pressionam para que as mulheres se dediquem à criação dos filhos. Uma consequência séria com que se depara o governo é a baixa da natalidade, pois as mulheres optam cada vez mais por carreiras profissionais do que ter filhos. Para a socióloga, esse quadro também poderia se reproduzir tanto no Brasil quanto na França.
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