Brasileiro acordou para as injustiças, segundo professor da Paris School of Economics
Os protestos no Brasil continuam recebendo a atenção da imprensa francesa nesta quinta-feira, 27 de junho. Artigos de especialistas e reportagens revelam as razões da indignação dos brasileiros.
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No diário econômico Les Echos, François Bourguignon, professor da Paris School of Economics, destaca dois aspectos que se tornaram insuportáveis para os brasileiros: a impunidade dos corruptos, que é sentida pela opinião pública como uma provocação, e a persistência de um grau absurdo de desigualdade, apesar das melhorias econômicas dos últimos anos. Segundo Bourguignon, o paradoxo dos protestos no Brasil é que eles acontecem após uma melhora contínua e sustentável do nível de qualidade de vida, acompanhada de uma queda sensível das desigualdades, e isso graças aos programas sociais adotados pelo governo. Assim, apesar dos progressos recentes, são as graves injustiças que continuam afetando os brasileiros, diz o professor.
Les Echos ainda informa que, fato inédito desde a promulgação da Constituição de 1988, o Supremo Tribunal Federal ordenou a reclusão imediata de um deputado, no caso o parlamentar Natan Donadon, do PMDB de Rondônia, que havia sido condenado em 2010 a 13 anos de prisão pelo desvio de R$ 8,5 milhões da Assembleia Legislativa do estado, mas continuava em liberdade. Os recursos judiciais esgotaram; lugar de deputado ladrão é na cadeia, diz a mídia brasileira.
O diário comunista L'Humanité conta que cinco grandes centrais sindicais convocaram uma greve geral para o dia 11 de julho. Vagner Freitas, presidente da CUT, explica ao L'Humanité o interesse da entidade em buscar a união sindical com o objetivo de construir uma agenda social e impulsionar as reivindicações expressas pelo povo nas ruas e pelos trabalhadores. As principais demandas são por melhorias na saúde, educação e, na pauta sindical, redução da jornada de trabalho.
O L'Humanité ainda relata que os brasileiros já conseguiram uma importante vitória na terça-feira, com a rejeição da PEC 37 no Congresso. Quanto à convocação de uma Constituinte para fazer a reforma política, conforme a proposta feita pela presidente Dilma Rousseff, não há consenso, havendo preferência pela realização de referendos, escreve o L'Humanité.
O diário conservador Le Figaro informa em sua edição de hoje que a revolta chegou às periferias. Le Figaro relata uma passeata organizada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto em Capão Redondo, subúrbio altamente inflamável na região metropolitana de São Paulo, segundo o Le Figaro. Os problemas na área têm semelhanças com os bairros pobres da periferia de Paris, afirma a reportagem, acrescentando que só as casas de tijolo ao longo de um riacho, que virou esgoto a céu aberto, lembram que se trata de uma favela do Brasil.
O Le Figaro diz que as reivindicações do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto estão à esquerda da esquerda da presidente Dilma Rousseff. Uma militante explica ao jornal francês que apesar das promessas das autoridades, a população local continua sendo ignorada. Mas há esperança porque pela primeira vez, após vários anos de luta, o governador de São Paulo decidiu receber representantes do movimento, beneficiados pela amplitude nacional dos protestos.
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