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Fato em Foco

Fechamento de emissoras públicas gregas expõe crise do setor na Europa

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A imagem de uma tela preta invadindo o televisor em plena programação da televisão pública grega ERT chocou os europeus. Sob a justificativa de realizar cortes de custos e funcionalismo público, o governo de centro-direita decidiu fechar as quatro emissoras de televisão e cinco de rádio. A atitude provocou a crise política mais grave desde a formação do governo, há um ano, e também trouxe à tona à precariedade das emissoras estatais em toda a Europa.

Grécia fecha TV estatal para economizar e deixa população e funcionários em choque.
Grécia fecha TV estatal para economizar e deixa população e funcionários em choque. REUTERS/Yorgos Karahalis
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Nesta quinta, a população grega se mobilizou contra o fechamento e exige o retorno da programação. A ERT foi aberta em 1938 e tinha sobretudo programas culturais, jornalísticos e documentários. O presidente do Sindicato dos Jornalistas Gregos, Dimitris Tsimis, está indignado porque a ação foi repentina, feita por um ato legislativo sem a assinatura de duas das três forças políticas que formam a coalizão do governo, o Pasok e o Dimar, de centro-esquerda e que se opõem ao encerramento das atividades.

“O governo foi além da Constituição. Ele ignorou o Parlamento e, mais do que isso, ele ignorou o desejo das pessoas, que querem uma televisão pública que apóie a cultura, a diversão, com informação independente e objetiva”, disse. “Isso chocou a opinião pública e criou uma tempestade na coalizão governamental.”

O fim da ERT vai resultar na demissão de 2,6 mil funcionários e 300 milhões de euros de economia ao ano. As rígidas políticas de austeridade impostas à Grécia pelos credores internacionais são apontadas como o principal fator que levou a essa atitude drástica. O governo tem de provar a demissão de 2 mil funcionários públicos até o final do mês para continuar recebendo ajuda financeira, e o fechamento das emissoras públicas, conhecidas pela má gestão, foi a solução mais rápida para isso.

O cientista político grego Michel Vakaloulis observa que a austeridade sem limites têm proporcionado ações quase irracionais dos governos em crise. “É algo muito simbólico. Poderíamos até utilizar a palavra grega antiga "hybris", que significa excesso, de a pessoa ser tão insolente em relação à realidade que faz coisas imperdoáveis”, afirmou. “Imperdoáveis do ponto de vista econômico, das demissões; do ponto de vista cultural e até do ponto de vista da civilização, considerando-se a forte ligação do povo grego a este canal e o fato de que este canal encarna uma parte da história.”

O que o governo grego não contava é que, por mais que a ERT tivesse cerca de 13% da audiência, o encerramento da programação fosse causar tanta indignação, sob o risco de custar muito caro ao premiê conservador Antonis Samaras. “Vendo as reações nacionais e internacionais, podemos dizer que sim, o governo conseguiu transformar ERT em uma tela preta, mas ao mesmo tempo ele perdeu a batalha da opinião pública, tanto a interna quanto à internacional”, observou Vakaloulis.

A situação crítica na Grécia traz os holofotes para um problema que atinge a maioria dos países europeus: a diminuição do orçamento e do pessoal nas emissoras estatais. Na Espanha, na França, na Itália, no Reino Unido e até na Alemanha, a economia em melhor saúde na União Europeia, os cortes se multiplicam. Em Portugal, outro país que recebe ajuda financeira internacional, o governo quer privatizar a imprensa pública, sob forte resistência, como relata o presidente do Sindicato dos Jornalistas portugueses, Alfredo Maia.

Na maior parte dos países europeus, as emissoras públicas são financiadas por um imposto pago pelas pessoas que possuem televisão em casa, outra parte vem dos cofres do governo e por fim, quando é o caso, pela publicidade. A TV pública francesa não veicula comerciais no horário nobre, após as 20h.

 

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