Indiciamento de ex-ministro por lavagem de dinheiro pode afetar Hollande
A revelação feita na tarde desta terça-feira teve o efeito de um tsunami no mundo político francês e pode afetar a imagem do "governo exemplar" prometido pelo presidente François Hollande. O ex-ministro do Orçamento, Jérôme Cahuzac, foi indiciado em inquérito por lavagem de dinheiro proveniente de fraude fiscal. Ele confessou ter uma conta bancária no exterior há quase 20 anos.
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Depois de negar categoricamente durante quatro meses que tivesse uma conta bancária no exterior, nesta terça-feira, 2 de abril, Jérôme Cahuzac voltou atrás e reconheceu o fato pela primeira vez, admitindo ter tido uma conta na Suíça durante quase 20 anos, com 600 mil euros (cerca de R$1,5 milhão), conta que no ano de 2009 foi transferida para Cingapura e não foi alimentada desde 2001. O dinheiro teria vindo de suas atividades como cirurgião e consultor, informou o seu advogado, Jean Veil, calculando em 30 mil euros (cerca de 78 mil reais) o valor da lavagem.
Cahuzac demitiu-se do cargo ministerial em 19 de março passado, depois que o Tribunal de Grande Instância de Paris anunciou a abertura de uma investigação judicial sobre o caso; foi o site de notícias Mediapart que denunciou a existência desta conta do ministro no estrangeiro, não declarada em seu imposto de renda.
O escândalo toma uma dimensão ainda maior pelo fato de Jérôme Cahuzac ter feito da luta contra a fraude fiscal a bandeira de seu ministério. Ele declarou estar "devastado pelo remorso" e pediu desculpas ao presidente François Hollande em um comunicado publicado em seu site. Ele afirma ter se deixado levar por uma espiral de mentiras.
A lavagem de dinheiro é um crime passível de cinco anos de prisão.
Da esquerda à direita, as reações pipocam
O Palácio do Eliseu emitiu um comunicado logo depois da notícia da confissão do ex-ministro, declarando que "o Presidente da República recebeu severamente a confissão de Jérôme Cahuzac e que, a partir de agora, cabe à justiça decidir, com toda a independência", concluindo que "ao negar a existência desta conta diante das mais altas autoridades do país, Cahuzac cometeu uma falta moral imperdoável".
O primeiro-ministro Jean-Marc Ayrault deu uma entrevista no jornal das 20h da TV pública France 2: "Eu não tinha nenhuma razão para não acreditar nele, nem eu nem o presidente da República nem os membros do governo porque quando Jérôme Cahuzac diz diante da Assembleia Nacional que nunca teve conta no exterior e, a partir deste momento, não houve nenhuma nova informação sobre isso, que razão eu teria para não acreditar nele?", defendeu-se o premiê, acrescentando que Cazuhac mentiu até o fim e que não deve exercer nunca mais uma atividade política.
Se os socialistas do governo de Hollande ficaram chocados com a revelação, a oposição da direita aproveita para atacar a imagem do presidente, argumentando ser impossível que ele e o premiê não soubessem de nada.
Jean-Marc Coppé, presidente do UMP, partido de Nicolas Sarkozy, foi incisivo: "Esta mentira marca definitivamente o fim da esquerda moralista que vive dando lições". Coppé também declarou que o presidente da República deve assumir sua responsabilidade e se explicar diante dos franceses.
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