Correspondente do Le Monde entrevista morador da Rocinha
Dez dias após a ocupação policial da Favela da Rocinha, o correspondente do jornal francês Le Monde no Rio de Janeiro, Nicolas Bourcier, faz um balanço da cobertura da mídia carioca deste "momento histórico" na cidade. Para ilustrar seu artigo, o jornalista entrevista um morador da favela, que dá um depoimento pouco otimista.
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Nicolas Bourcier começa contando o que todo carioca já sabe: que a ocupação policial aconteceu sem nenhum tiro, que as autoridades locais comemoraram o sucesso da operação e que o traficante "Nem" afirmou após sua prisão ter entregue a policiais corruptos a metade do dinheiro obtido com a venda de drogas. O correspondente explica que os canais de televisão fizeram uma intensa cobertura da tomada da Rocinha e que o jornal O Globo dedicou "páginas e mais páginas" aos méritos da operação.
Entre as imagens mais marcantes para o jornalista estão o hasteamento feito pela polícia militar de uma bandeira do Brasil no alto do morro vizinho do Vidigal, em sinal de vitória, e a presença de um carro blindado na entrada da Rocinha enfeitado com uma bandeira que mostra uma caveira, símbolo do Bope.
Corrupção policial
O artigo lembra dos bandidos que já lideraram o tráfico na favela desde a década de 80.
"Quando o lendário chefe Denir Leandro da Silva, vulgo "Dênis", foi preso em 1987, a organização da Rocinha foi abalada. A polícia ficou mais agressiva e alguns de seus membros se tornaram cúmplices dos bandidos", escreve o jornalista francês.
Em uma entrevista com o morador Daniel Martins, fotógrafo nascido na Rocinha há 25 anos, é possível perceber a falta de otimismo de alguém que viveu todos esses anos em uma comunidade abandonada socialmente.
"A presença armada do Estado com certeza substituiu a das facções, mas a tensão e o lado opressivo continuam", analisa o morador.
Ele se pergunta porque os investimentos na comunidade demoraram tanto e acrescenta: "Ninguém sabe o que vai acontecer depois. Daqui a três meses, as câmeras de televisão terão ido embora".
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