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França/Saúde

Considerados ineficazes, remédios homeopáticos não serão mais reembolsados na França

A decisão do governo francês de acabar com o reembolso de gastos com remédios homeopáticos na França é um assunto em destaque nesta quarta-feira (10) na imprensa francesa. O jornal Le Parisien traz uma entrevista exclusiva com a ministra da Saúde, Agnès Buzyn, que defendeu a medida.

Remédios homeopáticos do Laboratório Boiron, o mais importante da França, que diz que o fim do reembolso ameaça mil empregos no país.
Remédios homeopáticos do Laboratório Boiron, o mais importante da França, que diz que o fim do reembolso ameaça mil empregos no país. FRED TANNEAU / AFP
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A decisão polêmica era esperada desde que a Alta Autoridade de Saúde (HAS) pública francesa havia aconselhado a medida, no final de junho. Segundo a agência, após avaliação de 800 estudos sobre eventuais benefícios aos pacientes, todas as pesquisas indicam que os remédios homeopáticos não têm nenhuma eficácia científica.

O fim do reembolso pela Seguridade Social francesa foi confirmado na entrevista exclusiva da ministra da Saúde, Agnès Buzyn, ao Le Parisien. Ela explica que a medida será progressiva. Atualmente, 1.163 produtos homeopáticos são reembolsados em cerca de 30% de seu valor. Isto representa um gasto de € 127 milhões por ano para o governo, uma gota d'água em relação ao total de € 20 bilhões de euros.

A restituição passará a 15% do preço em 2020, antes de desaparecer completamente em janeiro de 2021. A fase transitória permitirá que as indústrias farmacêuticas se adaptem à medida. O principal laboratório francês, Boiron, afirma que a decisão ameaça 1.000 empregos diretos na França.

Vitória política

“Foi uma vitória política” da ministra da Saúde, que era favorável ao fim do reembolso e conseguiu convencer o presidente Emmanuel Macron", informa Le Figaro. Ao jornal conservador, o relator do comissão parlamentar criada para estudar o caso garante que a medida “não significa o recuo da proteção social na França, ela é apenas justa”, diz Olivier Veran. Segundo o deputado, “a solidariedade nacional não paga empregos, ela tem que pagar remédios eficazes que curam as pessoas”.

A polêmica sobre a restituição de gastos com produtos homeopáticos pelo Estado começou há mais de um ano, em março de 2018, quando 124 profissionais de saúde publicaram no Le Figaro um abaixo-assinado contra esta medicina alternativa, lembra o jornal.

Les Echos informa que cerca de 120 mil profissionais franceses, ou 43,5% do setor de saúde, já prescreveram em pelo menos uma ocasião remédios homeopáticos. Entre eles, 1.730 são médicos homeopatas.

Futuro da homeopatia ameaçado?

Os defensores dessa medicina alternativa estão preocupados com o futuro. Eles sabem que terão que modificar sua prática, pois muitos pacientes, principalmente os mais modestos, não poderão mais seguir um tratamento que não é reembolsado pelo poder público e passarão a optar pela alopatia.

Les Echos ressalta que a homeopatia é popular na França, com 72% da população acreditando na sua eficácia. O setor emprega 3.200 pessoas. Um abaixo-assinado em favor da manutenção do reembolso recolheu 1,3 milhão de assinaturas no país.

Mas o argumento científico da ministra da Saúde, que é médica, foi mais forte. Em seu editorial, Le Parisien diz que ao abrir o dossiê sobre a homeopatia, Buzyn ataca um tabu e uma crença. “Ao fazer a escolha pelo fim do reembolso, ela rompe com uma tradição francesa que, durante anos, manteve a restituição das despesas homeopáticas para tranquilizar os pacientes, agradar os médicos e salvar os empregos de uma indústria próspera. Mas "quem pode condenar uma ministra médica de acatar a recomendação da Alta Autoridade de Saúde do país?”, questiona Le Parisien.

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