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França possui cerca de 20 mil radicalizados, afirma controle antiterrorista

Cerca de 20 mil pessoas são identificadas na França como “radicalizadas” pelo Ministério do Interior, incluindo o jihadista Radouane Lakdim, autor dos ataques recentes num supermercado de Trèbes, que deixou quatro mortos. Mas o que esses dados significam e como o governo francês os controla?

Policiais fazem guarda em frente à Pirâmide do Louvre em Paris
Policiais fazem guarda em frente à Pirâmide do Louvre em Paris REUTERS/Christian Hartmann
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O número exato de inscritos no Registro de Denúncia para a Prevenção da Radicalização de Caráter Terrorista (FSPRT, em francês) é de 19.745 pessoas. Criado em 2015, o cadastro tem o objetivo de controlar todos os radicais islâmicos presentes no país, suscetíveis de constituir uma ameaça.

O FSPRT é controlado pela Unidade de Coordenação da Luta Antiterrorista (UCLAT), órgão criado em 1984 e posto sob a direção da polícia nacional francesa. A estrutura é de extrema importância no combate ao terrorismo e é responsável, por exemplo, pelo controle dos franceses que retornam da zona de guerra entre o Iraque e a Síria.

Qualquer pessoa que demonstre uma atitude suspeita pode integrar a lista do FSPRT: um homem, por exemplo, foi denunciado por seu empregador porque ele passou a se recusar a cumprimentar mulheres; uma menor de idade porque se converteu ao Islã radical; um jovem por entrar em contato com o grupo terrorista Estado Islâmico.

Uma vez inscrita, a pessoa pode permanecer “fichada” por cinco anos. “Toda a escala da radicalização está representada no documento”, diz um policial. O FSPRT é alimentado pelos serviços antiterroristas e pelas denúncias que chegam através de um número de telefone anônimo, lançado em 2014 pelo Centro Nacional de Assistência e de Prevenção da Radicalização (CNAPR), que oferece também um formulário online.

Entre 2014 e 2017, o CNAPR recebeu 51.429 ligações e 4.850 formulários foram preenchidos. No total, 5.723 denúncias foram aceitas.

Como funciona o FSPRT

A base de dados é atualizada com o decorrer das investigações. Segundo dados de fevereiro, 11 mil indivíduos são considerados suspeitos e vigiados, enquanto 3.557 são mantidos em “espera”: eles não estão sob controle atualmente. Um restante de 4.604 pessoas aparecem como “casos encerrados”, o que significa que as forças de segurança julgam que não há mais necessidade de vigilância.

Todas as classes sociais e profissionais estão presentes no cadastro, ainda que a maior parte seja composta por homens de bairros de periferia. A França inteira está sob a vigilância da base de dados, mas quatro regiões concentram um maior número de “fichados”: Ile-de-France, Languedoc-Roussillon-Midi-Pyrénées, Auvergne-Rhône-Alpes e Provence-Alpes-Côte d’Azur.

“Esses registros não representam a integralidade da ameaça”, observa Jean-Charles Brisard, presidente do Centro de Análise do Terrorismo (CAT). “Cerca de 60% dos indivíduos que atacaram a França em 2014 eram desconhecidos dos serviços de segurança e não estavam nos registros”.

Perigosos, porém não radicais

Existe um outro tipo de registro em que podem se inserir os possíveis indivíduos suscetíveis de ameaçar a França: são os chamados “Ficha S” (“S” de “Segurança do Estado”). Nem todos os “Ficha S” são registrados como FSPRT e vice-versa – a diferença é que, no caso dos S, eles não são considerados “radicalizados”. Eles podem ser militantes políticos ou simples ativistas. É preciso, portanto, que a radicalização ocorra para que a pessoa passe de um banco de dados a outro.

Devido ao enorme número de suspeitos, os serviços especiais administram a lista através de uma ordem decrescente de suposto perigo. Os que aparecem no topo estão sob estreita vigilância da Direção Geral da Segurança Nacional e podem ser abordados a partir da mínima crença de preparação para um ataque. Os suspeitos considerados menos perigosos são vigiados pelo Serviço Central de Informação Territorial.

“O que me impede de dormir à noite é não saber se temos as boas pessoas no topo da lista e de ser pego de surpresa por um sujeito que julgamos mal”, afirmou em entrevista recente um responsável antiterrorista. O ex-primeiro ministro Manuel Valls sugeriu que todos os “Ficha S” fossem postos em detenção administrativa, ao que Frédéric Péchenard, ex-chefe da polícia nacional, respondeu que “a medida não faz muito sentido nem técnica e nem juridicamente”.

Contra-ataque

No plano antiterrorista que apresentou em 23 de fevereiro, o primeiro-ministro francês Edouard Philippe prometeu um acompanhamento psicológico dos 68 menores de idade que retornaram da Síria e do Iraque, para “favorecer a reinserção”. Essas crianças também farão parte de um registro judiciário, que os colocará em duas categorias: “menores cujos pais estão sob o risco da radicalização” e “menores acusados de fatos com natureza terrorista ou em vias de radicalização”.

O primeiro-ministro também anunciou que os detentos radicalizados e condenados por atos terroristas serão reagrupados em unidades especiais separadas dos outros prisioneiros, divididas em penitenciárias por toda a França. No total, 504 pessoas estão presas por “terrorismo islâmico” e são consideradas particularmente perigosas. Elas serão obrigadas a migrar para as Unidades de Verificação da Radicalização, que vão determinar o grau do perigo desses presos.

Os detentos radicalizados considerados como “menos perigosos” serão acompanhados pelos serviços penitenciários de inserção, cujo objetivo é o de desencorajar os presos da “violência extremista”. Nesse caso, um único indivíduo é atendido por cinco profissionais (educadores e psiquiatras) durante um ano.

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