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Óbito

Soprano brasileira será sepultada em Paris, 2 meses após sua morte

A soprano carioca Maria D’Apparecida Marques, radicada em Paris desde os anos 1960, vai finalmente poder ser sepultada na sexta-feira (8). O corpo da cantora está no Instituto Médico Legal (IML) da capital francesa desde o dia 4 de julho.

A cantora carioca Maria D'Apparecida, em vídeo do Instituto Nacional do Audiovisual (INA) da França.
A cantora carioca Maria D'Apparecida, em vídeo do Instituto Nacional do Audiovisual (INA) da França. Reprodução de vídeo/INA
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O destino dos restos mortais de Maria D’Apparecida Marques, de 82 anos, comoveu os poucos amigos e conhecidos com quem mantinha contato na capital francesa. A carioca foi encontrada sem vida no dia 4 de julho em seu apartamento, no 16° distrito de Paris. “Morte natural” é a informação que consta em seu atestado de óbito. 

Devido a um vazio burocrático, o corpo de Maria D’Apparecida não foi liberado até agora. A soprano não era casada e não tinha filhos. Segundo um funcionário do Consulado-Geral do Brasil em Paris, a autorização para entrar em seu apartamento só foi emitida pela Justiça francesa nesta semana, quando ainda será averiguado se a cantora deixou algum testamento.

Desde julho, amigos e vizinhos de Maria D’Apparecida em Paris se organizam na busca de contatos de familiares da cantora no Brasil. O Consulado informa também ter se dedicado a essa missão, “dificultada pelas circunstâncias”, alega um funcionário. Na página da Embaixada do Brasil em Paris, um post informa que as autoridades estão em busca de parentes da carioca.

Segundo informações repassadas à RFI por amigos de Maria D’Apparecida, ela era filha única de uma empregada doméstica, que morreu quando a cantora era pequena. A família onde a mãe trabalhava, no Rio de Janeiro, a adotou. Os pais e irmãos adotivos da soprano já faleceram.

Depois de semanas de buscas e tentativas frustradas, sobrinhos “postiços” da cantora foram encontrados no Brasil. Amigos de Maria D’Apparecida em Paris e o Consulado estão em contato com eles.

A imprensa brasileira chegou a informar que o corpo da soprano seria sepultado em uma vala comum em um cemitério no subúrbio de Paris. De acordo com o Consulado, o procedimento é adotado no caso de familiares da pessoa morta não se apresentarem.

Amigos se revoltaram

A espera de mais de dois meses e a possibilidade de sepultamento da cantora como indigente revoltou seus amigos em Paris. Uma próxima de Maria D’Apparecida responsabiliza o Consulado-Geral do Brasil na capital francesa pela demora.

O funcionário que responde pelo caso indica que procedimentos administrativos relativos a óbitos levam tempo para serem resolvidos, especialmente durante as férias de verão no hemisfério norte, quando boa parte dos serviços públicos funcionam parcialmente. Segundo o Consulado, o corpo de um brasileiro chegou a ficar um ano no IML de Paris à espera de uma autorização por sepultamento.

Em entrevista à RFI, uma amiga da soprano garante que a demora se deve unicamente ao valor necessário para a realização do enterro. “A verdade é essa: ninguém queria pagar”, desabafa. Segundo ela, o enterro só pôde ser realizado depois que descobriu que Maria D’Apparecida possuía uma conta bancária com dinheiro suficiente para o sepultamento.

O Consulado informou que logo que receber a autorização da Justiça francesa poderá entrar no apartamento em que vivia a cantora. Maria D’Apparecida já havia vendido o imóvel pelo sistema Viager, em que o comprador se compromete a pagar uma mensalidade durante toda a vida ao proprietário e só pode ocupar o local após a morte do dono.

Os vizinhos e amigos da soprano a descrevem como uma pessoa reservada. Mas ela havia confessado a conhecidos que havia deixado todas as burocracias resolvidas em caso de morte, o que o Consulado ainda não pode confirmar por impossibilidade de entrar no apartamento.

Primeira soprano brasileira na Ópera de Paris

Maria D’Apparecida estudou piano, dança e canto no Conservatório de Música do Rio de Janeiro. Ela foi a primeira soprano brasileira convidada a se apresentar na Ópera de Paris, segundo sites especializados em música erudita, e substituiu Maria Callas em uma temporada, sendo aclamadíssima por sua interpretação de “Carmem”, de Bizet.

Em vídeos do arquivo do Instituto Nacional do Audiovisual (INA) da França, ela aparece interpretando Baden Powell, com quem gravou um álbum. “Meu nome é Maria D’Apparecida. Eu sou cantora brasileira”, diz ela, em português, em um vídeo em que interpreta “Tamba-tajá”, de Waldemar Henrique, ao lado do pianista francês Jack Diéval.

O corpo de Maria D’Apparecida será sepultado na sexta-feira (8) às 15h no cemitério de Bagneux, na periferia sul de Paris. Uma missa será realizada em homenagem à cantora no sábado (9), às 11h, na igreja Saint Pierre de Chaillot, em Paris.

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