Policiais protestam contra aumento da violência na França

Entre 7 mil e 10 mil policiais franceses, que raramente se manifestam, participaram nesta quarta-feira (14) de uma passeata em frente ao ministério da Justiça, na praça Vendôme, no centro de Paris. A manifestação, organizada pelos sindicatos da categoria, foi um protesto contra a falta de recursos e a ausência de respostas penais diante do aumento da violência no país. A gota d’água para o movimento foi um tiroteio na semana passada na periferia parisiense de Saint-Denis, quando um criminoso que tinha aproveitado de uma permissão carcerária para fugir, feriu gravemente um policial.

Policiais franceses protestaram nesta quarta-feira em frente ao ministério da Justiça, em Paris. REUTERS/Jacky Naegelen

Segundo balanço oficial, a manifestação contou com 7,5 mil policiais. Os sindicatos da categoria afirmam que até 10 mil manifestantes participaram do protesto. Em outras cidades francesas, os policiais desfilaram diante dos tribunais de Justiça.

As forças de segurança, que haviam provocado um sentimento popular de simpatia após os atentados jihadistas que deixaram 17 mortos em janeiro em Paris, atravessam um período difícil diante da prevenção de novos ataques e a atual crise migratória. "Os policiais, heróis do mês de janeiro, se converteram nos esquecidos da República", criticou Jean-Claude Delage, secretário-geral da Alliance, primeiro sindicato da categoria.

Críticas à ministra da Justiça

Todos os sindicatos lamentam "uma explosão da violência", uma "falta de recursos” e de "missões claras", assim como a "ausência de respostas penais" adequadas. O protesto visa principalmente a política da ministra da Justiça Christiane Taubira. Para combater a superlotação dos presídios, que na opinião do governo socialista é provocada por penas exageradas, ela implantou um sistema alternativo, menos repressivo e mais voltado à reinserção social dos presos.

Mas alguns incidentes envolvendo presos que ganharam liberdade vigiada e voltaram a cometer crimes revoltaram os policiais, que acusam o governo socialista de permissividade. Para parte da imprensa, os policiais franceses encontraram um "bode expiatório" no governo já que "os números mostram que o novo sistema de remição de penas é o melhor remédio contra a reincidência".

A última manifestação policial na França aconteceu em 1983. Cerca de 1.500 policiais criticaram, na época, a política do governo socialista de François Mitterrand diante do ministério da Justiça, após a morte de dois funcionários abatidos por uma organização de extrema-esquerda, Ação Direta.