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Revolta dos agricultores: 79 manifestantes são presos ao tentarem invadir maior mercado atacadista da França

Apesar das concessões de Paris e Bruxelas, a revolta dos agricultores franceses não diminuiu na noite desta quarta-feira (31). Eles mantiveram a pressão nas rodovias e nos arredores de Rungis, conhecido por ser o maior mercado atacadista da França, onde dezenas deles foram presos após uma breve demonstração de força.

"Não vamos morrer em silêncio", diz faixa no trator de agricultores franceses em Rungis.
"Não vamos morrer em silêncio", diz faixa no trator de agricultores franceses em Rungis. AFP - CHRISTOPHE ARCHAMBAULT
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A tentativa de bloquear o mercado de Rungis, a central de alimentos da capital francesa, era uma "linha vermelha a não ser ultrapassada", conforme advertiu previamente a polícia de Paris. O aviso não desencorajou as 79 pessoas presas após invadirem o mercado atacadista, onde foram causados "danos", segundo uma fonte policial.   

Por volta das 16h50 (12h50 em Brasília), várias dezenas de agricultores, incluindo alguns membros da Coordenação Rural da região de Lot-et-Garonne, chegaram a pé em frente aos armazéns do mercado de Rungis. Serge Bousquet-Cassagne, presidente da Câmara de Agricultura da região, que liderava o protesto, disse: "Decidimos tomar Rungis e tomamos Rungis".

O pacote de ajudas liberado aos agricultores nesta quarta-feira (31) pelo governo francês e as concessões da Comissão Europeia sobre as importações ucranianas não foram suficientes para os produtores rurais, que também estão se mobilizando na Itália, Espanha e Alemanha.

Além dos fundos de emergência já anunciados para os produtores de carne bovina, produtores orgânicos e agricultores afetados pela tempestade Ciaran, os viticultores franceses em dificuldades receberão € 80 milhões em assistência, anunciou o ministro da Agricultura, Marc Fesneau.

Em Bruxelas, a Comissão Europeia concedeu uma derrogação parcial da obrigação de retirada de terras da produção. Mas a medida chegou "tarde" no calendário agrícola e continua "limitada", criticou o Copa-Cogeca, a organização dos principais sindicatos agrícolas da UE.

O Copa-Cogeca também acredita que as medidas tomadas para limitar qualquer aumento incontrolável nas importações agrícolas ucranianas, que dispararam após as isenções de direitos alfandegários concedidas desde 2022 para apoiar o país em guerra, são "insuficientes" para os produtos em questão (aves, ovos e açúcar). Também seria "inaceitável" que os cereais e as sementes oleaginosas sejam excluídos dessas medidas, acrescenta a organização.

A Comissão Europeia "respondeu às solicitações da França", informou o Palácio do Eliseu nesta quarta-feira.

O chefe da Federação Nacional dos Produtores Agrícolas Franceses (FNSEA), Arnaud Rousseau, disse aos senadores franceses que "há grandes expectativas" entre os agricultores que protestam na França. "Pode ser ainda maior do que imaginamos, com obviamente (...) questões que não podem ser resolvidas em três dias. Portanto, estou tentando fazer um apelo para a calma e a razão".

Mas se o governo não apresentar respostas "profundas", o Salão da Agricultura, principal evento do setor que acontece no final de fevereiro, não será "um bom termômetro" para os políticos, advertiu Rousseau. Seu sindicato havia se distanciado da coordenação rural ao rejeitar a ideia de ir "fazer um protesto em Rungis".

Ministros da Agricultura europeus mobilizados 

Marc Fesneau, ministro da Agricultura da França, viajou para Bruxelas na tarde desta quarta-feira, antes do presidente francês Emmanuel Macron na quinta-feira, para discutir as demandas dos agricultores.

O Ministro da Agricultura da Espanha anunciou que realizará uma reunião de emergência com os principais sindicatos agrícolas do país na sexta-feira (2), enquanto a principal confederação sindical agrícola da Itália, Coldiretti, planeja viajar para Bruxelas na quinta-feira com cerca de mil agricultores da península para denunciar "a loucura que ameaça a agricultura".

Na véspera da cúpula europeia, agricultores franceses e belgas bloquearam "conjuntamente" uma passagem de fronteira entre os dois países, denunciando "a distorção da concorrência" nos acordos de livre comércio, e esperam "anúncios muito fortes" amanhã.

Na quarta-feira, o primeiro-ministro Gabriel Attal recebeu os líderes da Coordenação Rural e da Confederação dos Agricultores (o segundo e o terceiro maiores sindicatos do setor), após longas conversas na segunda e na terça-feira com a FNSEA e a Jovens Agricultores (JA).   

Na França, às 17h, mais de 150 manifestações haviam sido contadas, com 8.500 manifestantes e cerca de 5.500 veículos, disse uma fonte policial.

Na região parisiense, foram contabilizados sete bloqueios de estradas e duas procissões com cerca de 1.000 participantes e o mesmo número de veículos. O acesso a Paris não era impossível, mas exigia grandes desvios.

(Com AFP)

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