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Agricultores ameaçam bloquear Paris enquanto aguardam resposta do governo sobre reivindicações

Os agricultores da França demonstram sua insatisfação mais uma vez, nesta sexta-feira (26), com vários piquetes em rodovias do país e a ameaça de bloquear a capital francesa se a resposta dada pelo governo, após feitas as reivindicações da categoria, não for a altura do que espera o movimento. Os últimos dias foram de protestos, alguns violentos, em várias regiões do país, que exprimem a revolta do setor agrícola.  

Agricultores bloqueiam a rodovia A16 durante uma manifestação convocada por sindicatos de agricultores franceses para protestar contra uma série de questões que afetam o setor, como impostos e queda de rendimentos. Perto de Amblainville, ao norte de Paris, em 26 de janeiro de 2024.
Agricultores bloqueiam a rodovia A16 durante uma manifestação convocada por sindicatos de agricultores franceses para protestar contra uma série de questões que afetam o setor, como impostos e queda de rendimentos. Perto de Amblainville, ao norte de Paris, em 26 de janeiro de 2024. AFP - DIMITAR DILKOFF
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Duas estradas no sul de França - incluindo uma rota importante para a Espanha - foram fechadas, nesta sexta-feira, por uma extensão de quase 400 km. Apenas comboios de tratores circulavam pelo eixo que vai do sul de Lyon, a 390 km de Paris, em direção ao país vizinho. As rodovias A7 e a A9 foram fechadas e centenas de máquinas agrícolas juntaram-se à mobilização piscando os faróis.   

Na região de Montpellier, quase na costa do Mediterrâneo, cerca de 600 veículos, incluindo 315 tratores, ocuparam a autoestrada num sentido, enquanto as pistas ficaram vazias no sentido contrário. 

Outras grandes rodovias foram bloqueadas, "algo nunca visto em tal escala e duração", explicou um porta-voz da Vinci, empresa concessionária de rodovias na França. Nas zonas afetadas pelas manifestações, “a rede secundária está saturada e o trânsito está difícil”, alertou a companhia. No início da tarde desta sexta-feira, havia pelo menos 60 pontos de bloqueio em todo o país. 

"Crise profunda"

A autoestrada A1, um importante eixo que liga Paris ao norte da Europa, também foi fechada ao tráfego em ambos os sentidos, tanto a norte de Paris, perto de Senlis (Oise), como ao sul de Lille, durante esta manhã, provocando longos engarrafamentos. 

Em Fontainebleau, a 70 km de Paris, 150 agricultores e mais de uma centena de tratores ocupavam a rotatória. Entre eles, Karine Thierry e o marido. O casal administra uma fazenda orgânica. "Tenho 51 anos e é a primeira vez que participo de uma manifestação e noto que ao meu redor há muitos como eu, o que é sintomático de uma crise profunda", constatou ela à reportagem da RFI. "Esperamos anúncios a longo termo, para seguir nesta profissão", acrescentou a agricultora. 

"Queremos medidas significativas, rápidas e com garantias", explicou à RFI Pascal Verriele, representante local da Federação Nacional de Sindicatos de Agricultores da França. "A raiva é grande, os agricultores estão determinados e faremos ações que vão visar Paris", ameaça. 

“As manifestações são muito raras no mundo agrícola, mas penso que esta vai deixar a sua marca”, explicou à AFP Sylvain Robert, viticultor de Hérault, no sul da França. Ele denuncia a precariedade da profissão "entre impostos e normas que estão em constante mudança". Esta manhã, Robert se juntou ao movimento no pedágio perto de Montpellier, onde reforçou um comboio de quase 600 veículos, incluindo 315 tratores. 

“Vamos ficar pelo menos por um dia, tudo vai depender dos anúncios, mas eles têm que ser fortes porque as pessoas lá estão determinadas”, explicou Damien Onorre, membro da direção do Sindicato dos Viticultores de Aude, na Occitânia, no sudoeste do país, região também afetada pelos protestos.  

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Protestos já duram uma semana 

Há uma semana que agricultores franceses protestam, bloqueando estradas, descarregando caminhões estrangeiros que entram na França com mercadorias de outros países, especialmente produtos alimentares. Em alguns locais, eles despejam chorume em frente às prefeituras e queimaram feno.

Os protestos também acontecem em frente a supermercados, que os agricultores dizem não pagar o preço justo por seus produtos, apesar de haver uma legislação (a lei "Egalim") para garantir preços mínimos aos produtores agrícolas na França.

O ministro da Economia, Bruno Le Maire, indicou durante uma conferência de imprensa, nesta sexta-feira, ter constatado “um certo número de infrações” à lei Egalim, que tem impacto nos rendimentos dos agricultores, por parte dos “industriais” e “de determinados distribuidores”. 

Seja na agricultura convencional ou biológica, muitos produtores rurais denunciam a queda de seus rendimentos, assim como a complexidade administrativa e a sobrecarga de normas em vigor para o setor. 

Perante esta revolta que afeta grande parte da França, o primeiro-ministro Gabriel Attal, deve visitar uma fazenda de gado em Haute-Garonne, na região da Occitânia, onde conversará com os agricultores. Em seguida, novas medidas para o setor devem ser anunciadas.

As autoridades locais, como o prefeito de Hérault, apelam a manifestações “pacíficas”. Os próprios agricultores também. "Pedimos um movimento calmo e respeitoso. Houve muitos que vieram para se fazer ouvir, mas não necessariamente da forma certa", lamentou Marion Lorente, 30 anos, criadora de galinhas e ovelhas na região.  

(Com informações da RFI e AFP) 

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