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Polícia francesa investiga se mulher esfaqueada em Lyon mentiu sobre ataque antissemita

A polícia segue averiguando o suposto ataque antissemita cometido com faca contra uma mulher judia em Lyon, na França, no sábado (4). Segundo a imprensa local, ainda não há suspeitos e ninguém foi preso pelo ataque. Apesar de nenhuma hipótese ser descartada, os investigadores analisam se a vítima mentiu sobre a natureza antissemita do ato.

Foi aberta uma investigação por "tentativa de homicídio" sobre o suposto ataque antissemita sofrido por uma mulher em Lyon, no sábado (4).
Foi aberta uma investigação por "tentativa de homicídio" sobre o suposto ataque antissemita sofrido por uma mulher em Lyon, no sábado (4). AFP - JEFF PACHOUD
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"As investigações continuam sobre o caso de tentativa de homicídio. Nenhuma hipótese de investigação foi descartada até o momento", confirmou o Ministério Público de Lyon a um jornal local.

A vítima, de 30 anos, de família judaica, teria sido esfaqueada na barriga em sua casa, no 3º distrito de Lyon, no sudeste da França. A mulher teve alta do hospital no domingo (5), segundo informações da AFP. O advogado Stéphane Draï informou que sua cliente precisou levar pontos.

Três pistas continuam sendo examinadas pelos investigadores encarregados do caso. Eles avaliam a possibilidade de antissemitismo, a situação familiar tensa da mulher, após um processo de separação, e a possibilidade de uma automutilação encenada.

O relatório do médico que examinou a vítima após o suposto ataque não chegou a uma conclusão clara sobre a natureza das facadas. No documento, o profissional não exclui a possibilidade de automutilação devido à proximidade dos dois cortes, mas também não descarta a intervenção de terceiros. A vítima recebeu três dias de licença médica temporária.

Defesa da vítima pede cautela

O advogado Stéphane Draï manteve a versão de sua cliente, de que ela foi esfaqueada por um indivíduo vestido de roupa escura. Segundo ele relatou ao canal de TV CNews, um desconhecido tocou a campainha da casa da mulher e logo que ela abriu a porta, o indivíduo, que tinha o rosto coberto, deu os golpes com a faca. Não houve testemunhas oculares do incidente, assim como o local em que a mulher mora não dispõe de câmeras de segurança.  

“Há uma certa estabilidade psicológica. É importante lembrar que, nesse tipo de teoria (a da automutilação), minha cliente teve leucemia, teve uma recaída e se divorciou amigavelmente. Acho que ela se agarrou à vida, não faria sentido se mutilar diretamente. Temos que ser sensatos com relação a todas as hipóteses”, defendeu Stéphane Draï.

A polícia encontrou uma suástica pichada na porta da casa da vítima, mas por enquanto não é possível estabelecer a data em que o símbolo nazista foi desenhado no local.

Outra hipótese que está sendo investigada é a de um divórcio complicado. A mulher inocentou o ex-marido durante depoimento à polícia. Em seu relato, a jovem, que é mãe de dois filhos, disse que não conhecia a pessoa que a atacou e alegou que abriu a porta porque estava esperando a entrega de uma encomenda, mas que não conseguiu identificar formalmente o suposto agressor.

Caso lembra ataques antissemitas “imaginários”

Se for comprovada a automutilação no ataque da mulher de Lyon, ela poderá entrar para uma lista de casos encenados de agressão antissemita na França. Como o de Tsion Sylvain Saadoun, professor de uma escola judaica em Marselha, que alegou ter sido esfaqueado por três homens que diziam ser membros do Estado Islâmico (EI) em novembro de 2015. Ele foi julgado em 2016 por "falsa acusação".

Ainda em 2015, um professor de uma escola primária de Aubervilliers disse ter sido ferido com um alicate de corte em sua sala de aula por um homem encapuzado que alegou ser do EI, mas ele acabou confessando que havia inventado tudo para chamar a atenção para as condições de segurança nas escolas. Posteriormente, o professor foi absolvido em primeira instância.

Em julho de 2014, a ativista feminista Amina Sboui, de 19 anos, alegou que salafistas (ultraconservadores islâmicos) haviam raspado suas sobrancelhas e ameaçado estuprá-la em Paris. Uma semana depois, a polícia a acusou de "denunciar um crime imaginário". Em seguida, a jovem admitiu sua mentira em entrevista ao jornal francês Libération.

Há quase 20 anos, em 2004, uma mulher de 23 anos também alegou ter sido vítima de um ataque antissemita no trem suburbano de Paris, por jovens imigrantes armados com facas, que desenharam suásticas em sua barriga e cortaram seu rosto. A investigação logo revelou que se tratava de automutilação e a jovem, que não era judia, recebeu uma sentença de quatro meses de prisão, mas a pena foi suspensa.

A notícia do suposto ataque de Lyon provocou inúmeras reações e condenações, principalmente de políticos, da diocese da cidade e do reitor da mesquita de Lyon. Já a Procuradoria Nacional Antiterrorista, disse à AFP, que estava "avaliando o caso".

Desde 7 de outubro, data em que começou o conflito entre Israel e o Hamas, foram registrados "857 atos antissemitas", ou seja, "tantos em três semanas" quanto em "todo o ano passado", de acordo com o ministro do Interior, Gérald Darmanin.

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