Acessar o conteúdo principal

ONGs alertam sobre "limpeza social" em Paris para os Jogos Olímpicos de 2024

Um coletivo de ONGs denuncia a "limpeza social" que Paris e sua região vêm sofrendo para receber os Jogos Olímpicos em 2024. Para as organizações humanitárias, as principais vítimas desta política são moradores em situação de rua e pessoas em condições precárias. 

Ativistas do coletivo "O outro lado da medalha" colam cartazes em frente à sede do Comitê Olímpico em Saint-Denis, na periferia de Paris, para alertar sobre as consequências dos Jogos Olímpicos à população mais precária, no domingo, 29 de outubro de 2023.
Ativistas do coletivo "O outro lado da medalha" colam cartazes em frente à sede do Comitê Olímpico em Saint-Denis, na periferia de Paris, para alertar sobre as consequências dos Jogos Olímpicos à população mais precária, no domingo, 29 de outubro de 2023. AFP - GEOFFROY VAN DER HASSELT
Publicidade

O coletivo projetou na noite de domingo (29) a mensagem luminosa “O outro lado da medalha” na fachada do edifício do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos (Cojo), em Saint-Denis, cidade que fica ao norte de Paris, por volta das 23h no horário local (18h em Brasília), acima do logotipo Paris 2024 e dos anéis olímpicos que adornam o prédio.

“Mais rápido para esvaziar a Île-de-France das populações precárias”, “mais alto em direção à exploração dos trabalhadores sem documentos”, “mais forte na resposta de segurança contra as pessoas em situação de rua”, denunciam as associações. Elas ironizam o slogan da Olimpíada de 2024 — "Mais rápido. Mais alto. Mais forte" — em cartazes azuis, laranja e vermelhos, pregados na entrada do prédio da comissão organizadora e nos blocos de concreto em frente à sede.

De acordo com as mais de 70 ONGs, incluindo Médicos do Mundo, a organização dos Jogos de Paris, que acontecem de 26 de julho a 11 de agosto de 2024, apresenta um risco de “limpeza social". Elas expressaram suas preocupações na segunda-feira (30)  em uma carta aberta dirigida ao Cojo, atletas e federações.

As associações estão preocupadas com a determinação das autoridades de abrir caminho antes do evento, esvaziando as ruas da região parisiense das pessoas em situação de rua, sejam elas migrantes que vivem em acampamentos, sem-abrigo ou mesmo ocupações da população Rom.  

“Já começou com muita força”, observa Paul Alauzy, porta-voz da ONG Médicos do Mundo para a região de Paris. “Há um impacto negativo das Olimpíadas nas pessoas em situação de rua, é esse o outro lado da medalha, essa limpeza social das ruas que queremos tornar visível: estamos falando de centenas, até milhares de pessoas cujos espaços de vida informais estão sendo destruídos”, explica ele em frente ao prédio do comitê olímpico.

Só para ocupações e casas de trabalhadores migrantes, o coletivo Schaeffer, signatário da carta aberta, estima em 4.100 o número de cidadãos de países africanos que foram deslocados de Seine-Saint-Denis, na periferia de Paris, após o desmantelamento do lugar onde viviam.

A eles, somam-se as mais de 1.600 pessoas que foram transferidas nos últimos seis meses para alojamentos regionais. Abertos em abril pelo governo, os locais acolhem migrantes das ruas da região parisiense, onde os abrigos de emergência estão saturados.

Proibição de distribuição de alimentos

As autoridades também tentaram proibir a distribuição de alimentos em um bairro do norte de Paris, no início de outubro, decisão que acabou por ser anulada pela Justiça. 

De acordo com Paul Alauzy, este exemplos são apenas uma “antecipação” das decisões que virão. "Políticas que excluem populações consideradas indesejáveis ​​já existem há muito tempo. A Olimpíada é apenas um acelerador", acredita.

O grupo heterogêneo de organizações que apoiam a ação, que vai desde a Ordem dos Advogados de Paris ao Exército de Salvação, passando pela Ação Contra a Fome, alerta para outros decretos que devem ser editados, em particular contra a mendicância e os trabalhadores do sexo.

Coincidência do calendário, poucas horas antes da ação, o ministro do Interior, Gérald Darmanin, foi no domingo à cidade de Saint-Denis para anunciar meios de segurança “dez vezes maiores” para os JO, em comparação com os mobilizados para a Copa do Mundo de Rugby

As associações pedem às autoridades para “garantirem a continuidade dos cuidados às pessoas em situação precária e de exclusão, antes, durante e depois dos Jogos”. Elas também querem ter representantes nos comitês diretores dos Jogos Olímpicos.

O Cojo garantiu na segunda-feira à AFP que iria receber o coletivo de associações, cujas preocupações disse “compreender”. Mas a “situação de tensão" no alojamento de emergência na região de Paris “não é nova”, sublinhou a comissão organizadora. Ela aumentou nos últimos meses, mas “independentemente do contexto de realização dos Jogos Paris 2024”.

(Com informações da AFP)

NewsletterReceba a newsletter diária RFI: noticiários, reportagens, entrevistas, análises, perfis, emissões, programas.

Acompanhe todas as notícias internacionais baixando o aplicativo da RFI

Compartilhar :
Página não encontrada

O conteúdo ao qual você tenta acessar não existe ou não está mais disponível.