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Na França, busca por corpos de soldados alemães da Segunda Guerra levanta questões memoriais

Desde junho, franceses e alemães procuram os corpos dos soldados executados em Meymac, na região de Corrèze, durante a Libertação - período que ocorreu no final da Segunda Guerra Mundial, compreendendo a tomada progressiva pelos Aliados das regiões da França ocupadas desde 1940 pelo exército das potências do Eixo [Alemanha, Japão e Itália]. Uma pesquisa levanta a questão da memória preservada pelo lugar e de como ela poderia ser instrumentalizada.

Uma tentativa de exumar os restos mortais de soldados alemães da Segunda Guerra Mundial executados por combatentes da resistência francesa em junho de 1944, bem como os de uma mulher francesa acusada de colaboração, em Meymac, sul da França, 16 de agosto de 2023.
Uma tentativa de exumar os restos mortais de soldados alemães da Segunda Guerra Mundial executados por combatentes da resistência francesa em junho de 1944, bem como os de uma mulher francesa acusada de colaboração, em Meymac, sul da França, 16 de agosto de 2023. AFP - PASCAL LACHENAUD
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“É preciso saber olhar a sua história no que ela tem de melhor, mas também nos seus aspectos trágicos”, declarou Philippe Brugère, prefeito de Meymac. Ele tem sido confrontado com a questão da memória desde o início da escavação em sua cidade. O projeto foi lançado após um antigo guerrilheiro ter revelado que soldados alemães tinham sido fuzilados e enterrados no território.

A história de Meymac

Em 12 de junho de 1944, um grupo de 46 soldados alemães e uma francesa suspeitos de colaboração foram executados por um grupo local de franco-atiradores e apoiadores da Resistência francesa, movimento que fez face aos nazistas durante a Ocupação em solo francês durante a Segunda Guerra Mundial, segundo depoimento de um de seus membros, Edmond Réveil, hoje com 98 anos. Em meados de julho, a prefeitura anunciou que uma campanha de análise de solo permitiu identificar esse possível “fosso”.

“É um mérito dele ter conseguido trazer de volta essa memória. Isto permite, por um lado, conseguir identificar estes soldados. E acima de tudo, permite-nos olhar para a nossa história como ela é, não como gostaríamos que fosse e com as lições que dela podemos tirar: qualquer conflito acompanha histórias menos gloriosas e que podem levar a execuções como podemos evocar”, acrescentou Philippe Brugère.

O caso de Meymac é, portanto, esclarecedor para documentar a Segunda Guerra Mundial. No entanto, erguer um memorial poderia trazer problemas: “Quero que os corpos sejam encontrados, que sejam devolvidos à sua terra natal e às suas famílias, mas não quero que haja um memorial porque poderia ser mal interpretado por alguns”.“Penso em algumas pessoas com tendências neonazistas ou outras, e que pelos motivos errados viriam prestar homenagem a esses soldados”, explicou. "Em qualquer caso, os corpos dos soldados serão entregues à Alemanha, como é habitual", completou.

Primeiras escavações em 1967

Estas escavações são realizadas sob respaldo do Gabinete Nacional dos Veteranos e Vítimas de Guerra (ONACVG) e mobilizam 18 pessoas no local: três antropólogos de Marselha, 12 agentes da VDK, a organização alemã responsável pela manutenção das sepulturas de guerra alemãs, incluindo soldados e três membros da ONACVG. A busca deve durar até 27 ou 28 de agosto.

As primeiras escavações ocorreram secretamente em 1967 para tentar encontrar os corpos destes 46 soldados da Wehrmacht feitos prisioneiros pela Resistência em Corrèze em 7 e 8 de junho de 1944 e executados logo após os massacres cometidos pela Divisão SS Das Reich em Tulle em 9 de junho: 99 civis enforcados; e em Oradour-sur Glane em 10 de junho: 643 habitantes metralhados e queimados em celeiros e na igreja da aldeia. Onze corpos foram então exumados.

Três milhões de soldados alemães foram dados como desaparecidos em todo o mundo após as duas guerras mundiais, disse o VDK em conferência de imprensa.

(Com AFP)

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