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O que a vitória da esquerda nas eleições legislativas representaria para o governo Macron?

Três dias antes do primeiro turno das eleições legislativas, e enfrentando uma esquerda bem mobilizada, o presidente francês, Emmanuel Macron, não perdeu a oportunidade de fazer campanha nesta quinta-feira (9), pedindo aos franceses que lhe deem "uma maioria forte e clara" nas eleições legislativas que acontecem em 12 e 19 de junho.

A coalizão de esquerda Nupes cresce nas pesquisas de intenção de votos a três dias das eleições legislativas da França. A perda da maioria na Assembleia Nacional pode exigir mais negociação e diplomacia por parte do governo para os próximos cinco anos.
A coalizão de esquerda Nupes cresce nas pesquisas de intenção de votos a três dias das eleições legislativas da França. A perda da maioria na Assembleia Nacional pode exigir mais negociação e diplomacia por parte do governo para os próximos cinco anos. REUTERS - POOL
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Por ocasião de uma viagem ao departamento de Tarn, o chefe de Estado criticou os "extremos" que "propõem somar crise à crise voltando às grandes escolhas históricas da nossa Nação". Diante do avanço nas pesquisas da aliança de esquerda Nupes em torno de Jean-Luc Mélenchon, Macron atacou indiretamente a coalizão e o Reunião Nacional, de Marine Le Pen, que querem, em sua opinião, "voltar atrás em alianças que, como a Otan, garantem a segurança coletiva e protegem os povos" no momento "em que falo com a Rússia, que está massacrando civis na Ucrânia".

Do outro lado, em apoio à coalizão de esquerda Nupes, dezenas de economistas, incluindo Thomas Piketti, afirmam em um artigo de opinião publicado nesta quinta-feira no Journal du Dimanche, que "diante da precariedade endêmica, da guerra e da transição ecológica, alegar que não há alternativa às atuais políticas econômicas é enganoso e perigoso".

O campo das pesquisas de intenção de votos não se mostra menos polarizado que o campo das ideias. Brice Teinturier, diretor da Ipsos Sopra Steria, explica que o até então "equilíbrio de forças" antecede com efeito "um início de dinâmica a favor da Nupes e uma erosão do Juntos! (coalizão formada pelos quatro principais partidos governistas)".

Pior cenário para Macron

Uma pesquisa da Ipsos publicada nesta quinta-feira mostra que a Nupes, com leve alta de 28%, estaria à frente dos macronistas (27%) nas intenções de voto. Se a Juntos! é creditada com de 275 a 315 assentos da Assembleia Nacional, não há certeza de obter uma maioria absoluta de 289 assentos, enquanto a Nupes poderia ganhar de 175 a 215 assentos. Este seria o pior cenário para Macron e seus apoiadores, o que ainda não era cogitado há algumas semanas.

Teinturier, no entanto, enfatiza “a fragilidade” dessas projeções: “tudo depende das trocas” de votos entre os dois turnos, com de “40 a 50 cadeiras que podem migrar de um bloco para o outro”. Já a sondagem do instituto de pesquisa Harris aponta entre 285 e 335 assentos para o Juntos!, e o Ifop, entre 250 e 290 lugares.

No caso de uma maioria relativa, os partidários do chefe de Estado na Assembleia seriam obrigados a encontrar deputados da oposição inclinados a votarem os projetos de lei. Uma situação não necessariamente problemática, na opinião de um assessor do Executivo. "No caso de uma maioria relativa, caberá a nós nos reunirmos mais amplamente buscando a direita ou a esquerda republicana. E mesmo que sejam 30 parlamentares, vamos encontrá-los para a maioria dos projetos."

De acordo com esta mesma fonte, "esta situação envolveria mais compromissos e uma pequena revisão do cronograma de votações". As negociações podem, no entanto, levar mais tempo para reunir os parlamentares da oposição.

Negociação e diplomacia

Para alguns especialistas, existiria, por outro lado, um risco real para a maioria de se encontrar em uma situação de impasse, no caso de uma maioria relativa. Uma situação em que o governo não poderia realizar todas as reformas que pretende, exigindo uma postura de maior negociação e diplomacia.

Analistas políticos ainda mais otimistas veem no cenário a oportunidade de se criar uma cultura de compromisso parlamentar, ainda que a busca por estes deputados da oposição não seja uma tarefa tão simples.

Mas o que as diferentes projeções dos institutos parecem acordar é que a Nupes terá um grande contingente de deputados, o que deslocará o equilíbrio da Assembleia mais para a esquerda do que na gestão anterior, não desconsiderando a forte cultura de combate parlamentar por parte dos deputados da França Insubmissa, que devem se tornar mais numerosos depois do pleito, intensificando ainda mais os debates nos próximos cinco anos.

(Com informações da AFP)

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